Teimosa, eu? Não, não, não e não!
Se há duas coisas que eu não sou é teimosa e orgulhosa. Como bem podem ver pelo relato seguinte.
Eu já não tinha de sair de casa por mais nada. Estava ao computador, quentinha e de chinelos fofos. Mas lembrei-me que tinha de ir deixar umas encomendas aos CTT. Foi aí que algo aconteceu. Lembro-me como se fosse hoje (foi hoje). Percebi que não queria mesmo sair de casa, por nada desta vida, nem para ir aos CTT, que é aqui a 7 minutos a pé, num misto de preguiça e pouca vontade de enfrentar o temporal lá fora.
Logo eu, que sou daquelas pessoas boas para sobreviverem a castástrofes que incluam ficar fechado em silos subterrâneos durante alguns anos, visto que me oriento perfeitamente feliz durante longos períodos entre a cama e o sofá (acho eu, nunca aconteceu). Sim, sim, viajar é das coisas que mais gosto na vida, gosto mais de ir ao cinema do que ver filmes na TV, adoro passear, mas enfim, não deixa de ser verdade que comparando com outras pessoas sou uma menina bem caseira (nada a ver com as tais das caseiradas).
Assim, decidi mandar uma mensagem ao Moço, que já estava fora de casa:
Não me apetece nada ir aos CTT...
Como é óbvio o que eu queria dizer com isto era: estou tão preguiçosa, não me apetece mesmo nada sair de casa agora e gostava que passasses lá tu depois de ires ao ginásio, que até é lá perto, e ainda melhor era seres tu a oferecer-te para eu não me sentir culpada por te pedir. Óbvio. Ora ele, que sendo homem não percebe duplos sentidos, muito menos múltiplos - e diga-se que também não acabou ainda de estudar todos os fascículos do Grande Dicionário de Mulherês para Português - disse, muito descansado:
Vais mais tarde.
Ora porra, não era assim que era suposto ser. Olhei para a janela, onde batia chuva tão violenta que era capaz de vergastar um olho. Disse-lhe que não, não me apetecia de todo sair de casa - tipo, o dia inteiro. E ele?
Se quiseres eu passo aí para te ir buscar e vens de carro comigo.
Pronto, desisti. Disse-lhe que ia sozinha, obrigada. Aí ele lá se lembrou da hipótese de ir só ele. Mas eu já tinha dito que ia eu, por isso ia eu. E foi assim, que saí para a rua fria, tão tarde quanto o horário de encerramento dos CTT me permitiu, para fazer aquilo que podia gentilmente ter pedido ao Moço para fazer.