Tudo tem duas ou três versões.
A dos meus amigos:
Estávamos todos em grande paródia, espalhados em roda entre as bolachas de alfarroba da cozinha o calor da lareira à frente do sofá, quando de repente a Maria desaparece. Deve ter ido à casa de banho, talvez lhe doesse a barriga, porque apareceu várias horas depois muito despenteada e com cara de poucos amigos.
A do Moço:
De repente dou pela falta da Maria. Quando a encontro está a tentar sufocar-se num dos quartos, completamente engolida pelas colchas. Ofereço-lhe ajuda, puxo-a pelo pedaço de perna, única parte do corpo ainda visível. Ela é um peso morto, mas consigo salvá-la antes mesmo que asfixie debaixo das invulgarmente altas temperaturas daquela cama. Começa a debater-se, coitadinha, certamente efeitos da falta de oxigénio do cérebro, mas consigo trazê-la de volta à sala e ela está bem, afinal.
A minha:
A dado momento da noite o meu amigo diz-me que vá ao quarto deles se quiser ver como está a temperatura da cama com o tal do cobertor elétrico. Chego de mansinho sem acender a luz ao quarto vazio e deslizo a mão para baixo das cobertas. Calor! Deslizo o braço todo. Mais calor! Deslizo metade do torso. Nunca mais quero sair daqui! Deixo-me adormecer e decido naquele momento que dormirei o resto da vida, porque depois de experimentar aquela sensação não é possível viver de outra maneira. De repente sou bruscamente puxada pelo Moço. Tento pontapeá-lo para me deixar estar, mas ele não larga o osso e vou contrariada, de arrasto, de novo até à sala. Quero um cobertor elétrico.