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Maria das Palavras

A blogger menos in do pedaço, a destruir mitos urbanos desde 1986. Prazer.

25
Mai16

Um ano, um livro, uma surpresa, um pedido de desculpas

Maria das Palavras

pordetrasdopano.jpg

 

Faz hoje um ano que recebi um email da Blogs Portugal. Em parceria com a Chiado Editora iam oferecer-me um livro, assim eu quisesse, e em troca eu opinaria sobre ele no blog. Justíssimo. Fiquei entusiasmada, disse que sim, esperei pela volta do correio. 

O livro chegou e...não era de todo o que eu esperava. A minha cabeça já se preparava para o livro de ficção que aí vinha e afinal tratava-se de uma espécie de relato autobiográfico do vocalista de uma banda que eu conhecia, claro, mas nunca seguira com o entusiasmo de outras gerações. Ora bem, dar-lhe-ia a oportunidade prometida. Não naquele dia.


Não estava cheia de vontade de o ler e não estava numa fase em que conseguisse ler muito. Assim foi ficando para trás. A boa intenção esteve lá sempre, mas daí a pegar no livro, não foi um passinho. Estava junto aos outros daquela fila de trás que são os livros em que por uma razão ou outra não peguei ainda: porque comecei e não consigo continuar por serem autênticas chagas (se é que me entendem), porque tenho expectativas e tenho medo de ler e me desiludir (ou desiludir com a minha opinião quem mo deu), porque são tão grandes que tenho medo de ficar marreca, ou pura e simplesmente porque há outros que vão chegando e passando para a frente da fila e outros que também quero muito ler vão invariavelmente ficando para trás. Certo é que chegará a vez de todos, como - vão ver - chegou a deste.

Um dia destes, numa fase em que ando a ler mais, e num ano em que à pála do Livro Secreto tenho lido muitas coisas que à partida não escolheria, passei à FNAC e vi-o. Por Detrás do Pano, de António Manuel Ribeiro. Levei a mão à testa e sozinha corei. Teria já passado um ano desde que fiz a promessa de o ler? É verdade que mais vale tarde do que nunca? Leio ou rebolo apenas pejada de vergonha pela minha falha?

Leio. Peguei nele, interrompendo a leitura de outro. E descobri. Não é um relato aborrecido. É polémico, é revelador, é curioso, tem detalhes suculentos. Sabiam que o primeiro nome da banda foi À Flor da Pele? E eu, convencida que este livro de 35 histórias não era para mim, que nem sabia que o António Ribeiro escrevia livros (inculta, que ele tem outros), que nem imaginava que se tratava de uma banda da margem sul (inculta, que é de Almada), dei por mim envolvida nos episódios que ia descobrindo. Na página 183 lê-se um dos meus favoritos, quando se conta a caminhada para o primeiro concerto (que na verdade foi o segundo):

 


Como diz o poema, atravessámos o Tejo de cacilheiro e fomos de metro até à estação de Roma, quatro músicos com o instrumento à mão e mais sete ou oito elementos da putativa equipa técnica. Conseguimos entrar todos na discoteca, perante o olhar eriçado do porteiro ao ver duas guitarras, um par de baquetas, e alguns cabos nas mãos de 'tanta gente técnica'. (...) Não sei se foi da timidez ou da falta de ensaio do som, mas tocámos tão alto e tão rápido e berrei tanto que abafávamos as palmas logo com uma nova canção. À saída, (...) alguém disse: "Caramba, vocês tocam mesmo alto".

 

Mas foi no Breviário do Universo dos UHF, uma das secções do livro, que li aquilo que me fez identificar imediatamente com esta banda e guardá-la no meu pequeno e endurecido coração: sempre que iam ao Alentejo, as bifanas de Vendas Novas do regresso eram obrigatórias.

 

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