Um Expresso para o passado
Na última sexta-feira revi-me num sítio que frequentei duas vezes por semana, por anos a fio. O terminal de expressos de Sete Rios. Sem estar preparada para isso, a nostalgia deu-me uma chapada. O percurso do metro aos Expressos, passando pelas lojinhas da estação, os (mesmos?) pedintes na base das escadas de acesso, os pombos à caça de migalhas, a fila para os bilhetes, a voz "AUTOCARRO CINCO, LINHA SETE", os senhores que parecem todos Toy's com bigode e umas mulheres encasacadas até aos dentes enquanto outras se passeiam descascadas em Havaianas, seja qual for a estação do ano.
Foi-me tudo tão familiar que instintivamente fiz a dobrinha no bilhete para o motorista rasgar a parte lhe pertence com facilidade, contei os lugares mentalmente para saber qual a minha cadeira, mesmo que não veja "onde estão os números" (há 300 maneiras de os colocar, aparentemente, e sempre alguém que vocaliza a pergunta), o medo de que nos levem a mala que ficou lá em baixo, com a portinhola bem aberta até o autocarro arrancar. O wifi que é cem vezes melhor que num Alfa.
Infelizmente uma coisa - a que procurei mais avidamente assim que as recordações me assaltaram, a que só ali tinha a certeza de encontrar sempre - não estava lá. O Dove Caramel no bar do terminal. Assim sendo, acho que não volto tão cedo.