Uma carta nunca enviada
Meu amigo A.,
Somos amigos há muito tempo, daqueles que não têm dificuldade em combinar coisas, conversar sobre tudo e dar-se bem, mesmo que já não se vejam há meses a fio.
Não somos amigos há tanto tempo como tu és daquele teu amigo que tu dizias que já tinha sido gordinho e que era o mais giro dos que tens. O teu amigo de infância, do coração.
Parece que agora tudo corre bem para nós, não é?
As peças estão todas a encaixar. Pelo menos eu sinto isso. Que as pessoas à nossa volta estão a encontrar as suas caras-metades, felizes e sem separações à vista.
Agora parece que foi a tua vez. Ainda é cedo para dizer, mas a moça é de minha recomendação e apesar daquela pontinha de ciúme de amiga (que é saudável, diria), torço tanto por vocês!
E antes foi a minha. Com esse teu amigo de infância, e porque um dia me convidaste para ir contigo à passagem de ano com o teu grupo de muitos amigos. Não sei se devia dizer isto tantas vezes, mas encontrei o homem da minha vida. E em grande parte, por tua causa.
Hoje vocês trocaram-me as voltas. Eu a trabalhar e vocês em minha casa, a falar com o meu senhorio, a tomarem pequenos-almoços tardios que me fazem adiar o almoço convosco, mesmo que eu já tenha fome. Quase estou com mau feitio e não é só por causa disso: a casa numa confusão, o verão que se acaba, o trabalho que se acumula...
Ontem regressei ao trabalho depois de 5 dias de férias além-fronteiras. Não via o teu amigo desde que ele me deixou no aeroporto na 5ª feira às 5 da manhã. E, meu A., não sabes o sentimento que tive quando o voltei a ver na 2ª à noite. Só pensava "meu Deus, como ele é bonito". E mesmo que ele o seja de facto (porque é), senti que estava completamente toldada pela paixão e mesmo que ele tivesse um cara disforme e com cicatrizes eu diria o mesmo. Fica a saber, mas não contes a ninguém, que nem consegui dormir com saudades dele. Não, não foi durante a viagem, foi na noite a seguir ao regresso, a partilhar a cama e a pedir a cada hora os braços dele. Porque as saudades foram tantas que eu estava já com ele e ainda tinha saudades.
Gosto dele de uma maneira inexplicável, para lá da ficção dos livros e dos filmes. Algo que eu sempre tinha imaginado (desejado), mas nem sabia se era possível. Amo-o, e talvez assim esteja tudo dito, apesar de me parecer que já nem nesta palavra cabe o meu sentimento.
Tenho aquelas certezas loucas e impossíveis e insensatas: vai ser para sempre, ele faria tudo por mim, nunca me vai trair, nunca poderei amar assim outra pessoa.
Quero muito que a vida nos permita dar asas aos planos que fazemos a dois. Quero aquelas coisas que nunca sonhei porque primeiro sonhava em encontrar a pessoa com quem o quereria: casar, ter filhos, constituir família.
Quero muito cumprir os meus sonhos e os dele.
Devias ter visto A., como me integrei bem na terra dele e com a família e amigos de lá. Acho que todos gostaram muito de mim. Um dos primos dele e outro amigo chegado disseram mesmo que ele tinha muita sorte - por me ter a mim, que o acompanho, e me dou bem com toda a gente. Soube bem, logo quando eu já achava que eles me deviam achar uma chatinha por não largar o J.
Enfim...queria agradecer-te. Não sei como, mas um dia vou-te fazer uma surpresa para te recompensar, prometo. Dar-te uma grande prenda, já que me deste tu o maior presente da minha vida: a minha paixão.
Setembro 2013