O meu pai descobriu recentemente algo que eu até já tinha revelado ao mundo, mas muitos fizeram orelhas moucas: o bolo do caco é pão. Sem prejuízo da fama, porque é um pão maravilhoso, a designação é que está meio como aqueles comprimidos de alcachofra para emagrecer (é publicidade enganosa).
Se há coisa que o meu pai, criado no campo com uma parga de irmãos e comida muito tradicional, gosta pouco é de experiências culinárias. Nunca na vida tocou numa pizza, só vai ao McDonalds buscar gelados e nem quis saber de Bolo do Caco quando lho apresentei lá em casa.
Em todo o caso, para teimoso, teimosa e meia (eu e a irmã mai'nova). Portanto lá se viu coagido, no sentido mais ternurento que a palavra possa ter, a provar o bolo do caco. E juro-vos que foi uma cena daquelas que o dinheiro não paga. Ele repetia a cada trinca, quase a cuspir (as palavras, não o pão) "mas isto é pão! Estão a brincar comigo? Isto é pão!". Isto com os senhores que lhe venderam o dito "Bolo" a olhar (já com medo que ele os processasse, aposto, tamanha era a indignação). E ele repetia "Isto é pão!". Não é que não tivesse sido avisado.
O meu pai queria bolo. É que, à medida que os anos passam, ele tem ficado mais guloso. Ficaremos todos?
Desde que fui à Madeira passei de apreciadora-moderada a louca-obsessiva pelo Bolo do Caco. Até já fui jantar a um restaurante típico madeirense em Lisboa, em busca daquele ouro.
E a resposta aos meus desejos não se fez tardar. Não bastava ter aberto há uns tempos na minha terra natal, em Leiria, agora o Caco, o Original abriu também muito perto de mim, em Lisboa. Uma perseguição desenfreada que me fizeram - e muito bem feita. Em boa verdade vos digo, é o melhor bolo do caco que comi extra-Madeira. Minto: é exatamente igual, só lhe falta a espetada de pau de louro ao lado.
A minha nova missão de vida é, obviamente, comer lá muitas vezes bolo do caco: simples, com a manteiga de alho, em hambúrguer acompanhado, e todas as outras variações deliciosas que lá moram. Não é por mim...é pela sobrevivência do bolo do caco em Lisboa. Se aquela lojinha fecha agora, pelo menos 70% das minhas papilas gustativas já prometeram suicídio.
Como uma desgraça nunca vem só, ainda têm o croissant de massa doce com Nutella mais delicioso de todos os tempos. Isto se precisassem de mais razões para se juntarem a mim nesta luta solidária. Em Leiria, em Benfica ou no Mercado da Ribeira: ide ao Caco, boa gente, ide!
Já vi serras gigantes a erguerem-se à minha volta no continente. Mas nunca pejadas de luz de toda uma vida a acontecer à noite nas serras. Não há abandono. As pessoas e as suas janelas iluminadas são parte da paisagem. Impressionei-me primeiro ao vê-lo no caminho de Câmara de Lobos para o Funchal e depois impressionei-me novamente com o mesmo à volta da ilha, noutras localidades, onde as pessoas povoam a natureza, sem medo das colinas.
E a pouca espera para comer.
Não sei se alguma vez esperámos mais de sete minutos e meio para ter a comida à frente. Começámos por achar que o serviço na restauração da Madeira era muito rápido, mas depressa chegámos à conlcusão que aquilo a que estamos habituados é que é pouco aceitável. Tragam-se de lá este hábitos a bordo de um avião (e se forem lá buscar os hábitos, tragam também a oitava maravilha do mundo: bolo do caco).