O meu pai partiu um pé em circunstâncias que também davam um belo post, mas para efeitos de não parecermos uma família assim tão tonta vou guardar para nós. Estraga-se só uma casa (ou duas) e ficamos por aqui. Já foi há mais de uma semana, mas não tive tempo de partilhar porque a internet estava a arder com Game of Thrones, depois incendiaram mesmo a Catedral de Notre Dame e para não haver mais perigo de combustão, acabaram com a gasolina no país.
O que vos sei dizer é que está de molho no hospital e numa das vezes que o fomos visitar tinha um colega de quarto novo, com uma mão toda ligada e de ferros em riste, meio entorpecido, com a esposa ao lado. Conta-nos ele, em tom normal de conversa, para quem quisesse ouvir:
- Ah, este cortou três dedos de uma mão.
(imaginem neste ponto, que eu e a minha mãe fazemos um ar atrapalhado, porque eles estarão a ouvir)
- E digo mais... - continua o meu pai descontraído - o dedo do meio não se safa!
O meu pai foi à mata apanhar medronhos. Não sei se é um conceito estranho para pessoal das cidades grandes, mas o pessoal das terras vai à mata buscar coisas. Levou o cãozito da família, um salsicha meets vira-lata que já não é cachorro mas tem energia de peta-zeta embutida em cada pelo e adora andar a passear e saltitar (e fazer asneiras em geral).
A dado momento o meu pai, que andava entretido na sua tarefa, reparou que o cão já não andava a correr que nem um parolo de árvore em arbusto. Estava muito sossegado a roer um medronho que estaria caído no chão. Ora, o medronho é uma fruta. Mas é uma fruta com teor alcoólico. Pelo que quando o meu pai o chamou e ele o olhou de volta com os olhos muito pequeninos, como se o tentasse focar, o meu pai percebeu que o cão tinha comido muito mais que um medronho.
Daí para a frente foi o festival típico de um fim de noite no Cais do Sodré. Uivava, como nunca se tinha ouvido, como um bêbado a cantar o fado. Andava torcido, como o Vasco Santana menos o candeeiro. O meu pai levou-o ao carro, onde ele aproveitou para dar um forro novo aos estofos (se é que me entendem). E quando chegaram a casa, o meu pai jura que só visto, nunca contado: foi tal e qual como um beberolas a chegar tarde a casa. Cambaleou da porta diretamente à sua cama e tombou para ressacar.
Não se preocupem, o cãozito está bem. Foi um acidente sem mais consequências que a lavagem do carro. Ah, e agora o meu pai mantém a garrafeira fechada à chave.
Se conduzir, não beba. Se apanhar medronhos, não leve o seu cão.
Compraste isso? Achei que isso era velho...que a senhoria tinha deixado aí e ias devolvê-lo. Não combina com nada. O amarelo desta almofada nem sequer é igual. Pronto, está bem. Como queiras. Mas não fica nada bem.
Como fazer? Sigam as instruções! Deixam o aspirador no meio da cozinha antes de se deitarem. A meio da noite levantam-se e vão à cozinha comer ou beber algo, mas não acendem a luz e tentam não se lembrar que deixaram lá o aspirador.
Foi assim que a minha mãe tropeçou e bateu com os queixos na bancada. Está com uns lábios maravilhosos, salientes, brilhantes, enormes, de fazer inveja à própria Angelina Jolie - e a pobre já andava em baixo com o divórcio. Eficácia garantida, digo-vos eu.
"Mana, fiz uma coisa mesmo à Maria - sabes quando no cinema te desejam bom filme e tu dizes igualmente ao rapaz da bilheteira que está a trabalhar e não vai ver filme nenhum? - só que pior. Como já não vens à feira de Maio e a P. não podia andar comigo naquela nova diversão que faz loop e eu queria mesmo experimentar, ela lá me convenceu a andar sozinha. Então eu sento-me e o senhor que trabalha lá estava a passar por toda a gente antes de começar. Estendeu a mão e eu dei-lhe um high-five. Ele...estava só a verificar os cintos. Estendeu a mão para verificar os cintos e eu dei-lhe um high-five."
A sair de um parque de estacionamento altamente inclinado e com paragens, o meu pai vai a forçar a embraiagem que naturalmente começa a cheirar um pouco a fumo. Ia ele, a minha mãe e a minha irmã no meu velho carrito, que já puxa menos que uma carroça de bois. Assim que a minha mãe vê um pouco de fumo, o que faz?
Foge. Sai do carro a meio da rampa do parque de estacionamento e começa a fugir atirando à minha irmã um "não vens?" a sumir-se.
Ora o meu pai e irmã sabem que a situação não é assim tão grave, embora incómoda. Lá saem finalmente do parque e alcançam a minha mãe, que segue em frente (como os malucos), encostando o carro ao pé dela.
- Entra!
- Nem pensem! Isso ainda cheira a fumo!
Então ainda andou mais uns 500 metros a pé, o carro a seguir devagarinho atrás como o carro-vassoura numa peregrinação a Fátima, até se sentir segura para voltar a entrar e seguirem todos viagem.
Quando me contam isto, entre muitos risos, uns dias mas tarde, a minha irmã diz: - Já viste? Bela mãe! Foge do carro e deixa a filha ali, dentro de um carro que ela acha que ia explodir.
E a minha mãe, a única a manter-se séria, a recordar o pânico que sentiu nessa situação:
- Eu disse-te para vires! Não tens perninhas?!
Vamos juntar a isto àquele episódio em que veio um cão gigante (ela tem pavor de cães com tamanho acima de um garrafão de 5lt) a correr na direção dela e da minha avó e ela põe a minha avó à frente. E ao outro em que ela ia a passear o nosso cão pequenito e vem um gato gordo a querer atacá-lo (também tem pavor de gatos) e ela se fecha no campo de futebol e deixa o cão à mercê das garras do outro bicho.
De facto as mães têm um instinto protetor bem apurado. A minha sei que tem. Para ela própria!