Não sou a única tonta da família #21
A minha irmã diz que desde que começou a arrumar o armazém tem a pele irritada e passa a vida a coçar-se.
Ou é alguma alergia ou é o coçonavirus.
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A minha irmã diz que desde que começou a arrumar o armazém tem a pele irritada e passa a vida a coçar-se.
Ou é alguma alergia ou é o coçonavirus.
A minha operadora deu-me um presente este Natal. Atenta às modas do detox digital e tendências de uma vida mais simples, mais atenta aos detalhes, mais ligada com os humanos e menos com os ecrãs, mais orgânica, decidiu cortar-me a ligação ao mundo através desses suportes mundanos a que chamam TV e Internet. Há quem lhe pudesse chamar avaria, mas eu sou uma blogger atenta às influências do momento e percebi que era uma oportunidade de me posicionar como sendo muito in.
Já lá vão mais de dois meses e, portanto, até já tive oportunidade de partilhar esta experiência clean com amigos que nos visitaram e ficaram connosco uns dias. Também os avisei que dessa vez foi de borla, mas para a próxima vão ter de pagar pela experiência. Afinal, uma casa sem distrações digitais é algo raríssimo no século XXI e o mindfullness tem custos.
Tem-me ajudado a trabalhar no meu interior. Comecei por reclamar e gritar ao telefone (também foi terapêutico, de outra forma) ou levar a mal quando me diziam que eu não estava a ser disponível o suficiente porque só pude ficar por três vezes em casa em horário laboral para receber técnicos. Mas eles explicaram-me que eu tinha de ter paciência e não me enervar (uma frase altamente eficaz para lidar com stress, registem), aceitando uma e outra e nova marcação. Que mesmo quando fiquei em casa e os técnicos faltaram, cabia a mim dar novas oportunidades às pessoas. Fazer como Jesus teria feito. Perdoar.
Também me ajudou a trabalhar as minha amizades e relações familiares – é um pack espiritual muito completo. Sugeriram-me que pedisse a alguém para ficar em casa por mim. O que logo me levou a abrir-me mais às amizades em redor, na esperança de conhecer alguém que possa desperdiçar os seus dias à espera dos técnicos e com liberdade para vir nos dias que eles querem e não quando ela pode. Não tive sucesso, notem que não tinha internet para me assistir com isso, ou telefone em casa e tive de recorrer a técnicas vintage de abordagens na rua, mas é no processo de tentar que está o ganho.
Além disso o sentimento de pertença a esta comunidade – ou seita – onde me querem a todo o custo até Janeiro de 2021, ainda que esta experiência enriquecedora de tentativa e falha dure até lá, aquece o coração. Sinto que me desejam, que valorizam a minha presença, ainda que o serviço esteja de corpo ausente. A espiritualidade é tantas vezes desprezada.
Acredito que as outras operadoras prestam serviços similares de conexão espiritual e detox digital, já ouvi muitas experiências assim, embora nem toda a gente tenha a abordagem positiva que só uma blogger experiente consegue destrinçar.
Namasté.
Moço a fazer scroll no Instagram: Nem sabia que por cá se festejava o Halloween.
Maria: Pois, no meu tempo, em Leiria, era o Dia do Bolinho.
Moço: Em Lisboa não fazíamos nada.
Maria: Nem o Pão por Deus?
Moço: Não...em Lisboa nem Páscoa há. Aquela coisa do padre ir a casa das pessoas e assim.
Maria: Mas eu acho mal isso do padre ir recolher dinheiro a casa das pessoas para lhes abençoar a casa. Parece que estão a pagar para entrar no céu.
Moço: A minha avó, lá na terra, recebe o padre. Portanto paga o lugar no céu e compra para nós também.
Maria: ...Hum...Então ela que me dê o dinheiro a mim, que eu compro bilhete para onde eu quiser.
Moço: Então, jantaste sem mim?
Maria: Demoraste imenso, eu estava cheia de fome e decidi aquecer o resto do meu jantar de ontem, para não me pôr a comer porcarias.
Moço: ... ... O teu jantar de ontem foi pizza.
Agora que já contei esta história a toda a gente com quem me cruzei e portanto o Moço já me odeia, nada a fazer, conto-vos a vocês também.
Ele foi à cozinha e eu pedi-lhe, gritando da sala, que me trouxesse um gelado.
Moço (da cozinha) : Qual queres?
Maria (da sala): Não sei, o que há?
(abre o congelador)
Moço: Há Fizz e Cornetto de Pau.
Maria: Há o quê?...
(não é que eu não tenha ouvido, mas o nome do segundo gelado, não me esclareceu, se é que me entendem)
Moço (convicto): Fizz e Cornetto de Pau.
Maria: O quê?!
Moço (agora a gritar): FIZZ E CORNETTO DE PAU!
Maria: Desculpa. Mas Fizz e quê?
Moço: Fizz e Corneto de pau! Está surda!
Vem irritado à porta da sala e:
Moço: FIZZ E CORNETTO DE PAU.
Maria: Fizz e...
(som de ficha a cair)
Moço: Ah...Perna de Pau.
Mas isso é irrelevante, porque eu já nem precisava de comer gelado. Não depois de uma tal barrigada de riso.
Dois factos sobre quando fomos à Bélgica: 1) os nossos amigos têm a casa toda quitada de Google e 2) o Moço fez anos e a prenda que lhe levei foi um tiro ao lado.
Quando regressámos, o Moço passava a vida a dizer ao Google Home - que não tínhamos - para apagar a luz ou ligar a TV. Hey, Google turn on the lights. Hey Google turn of the lights.
Portanto achei que, ou estava na hora de o internar, ou trocava a prenda que lhe tinha dado por um sistema mini-Google Home. Escolhi a segunda. E a maquineta é engraçada, confesso. Põe música a pedido. Mais baixo ou mais alto. Conta-me histórias e piadas se lhe pedir. Diz-me onde posso comer um brunch no Porto. Inicia o Netflix na série que peço, mesmo onde a deixei e põe na pausa sem eu mexer uma palha. Faz contas por mim. Converte-me ounces em gramas sem eu ter de mexer com as mãos cheias de farinha no telemóvel. O Moço gosta particularmente do beatbox. Às vezes faz-se de desentendida, mas eu perdoo, porque se eu disser "Hey Google, you're useless" ela responde "Well, I'm still learning." e a pessoa compreende.
Cheguei à conclusão que estamos a avançar a passos largos para aquele momento da vida em que não temos de nos levantar para nada, quando a Bimby me fazia a sopa, enquanto eu via um episódio de Homeland no sofá, que o Google pôs a dar quando pedi. O sonho de qualquer preguiçosa.
Claro que o Google continua a não apagar ou acender a nossa luz, porque para isso é preciso comprar umas lâmpadas xpto que estão ao preço do caviar beluga. Ou menos. Portanto percebo que fiz asneira a trazer isto para casa quando o Moço faz contas à vida porque quer trocar as lâmpadas da sala (três!) e eu digo:
- Se quiseres dizes-me "Hey Maria, apaga a luz" e eu trato disso.
Chego a casa ao lado do Moço - que é a única outra pessoa que mora lá - e toco à campainha.
Na era em que até as escovas de dentes são elétricas, o fenómeno mais gravoso para uma blogger que se preze aconteceu ontem à noite: fiquei sem eletricidade. Às escuras ainda vá que não vá, mas a bateria do telemóvel estava à míngua, tinha andado a adiar ligá-lo ao carregador e pzzzt lá foi ele. Ninguém sabe o bem que tem senão depois de o ter perdido, já dizia o meu tio Quim.
Afirmei que não fazia mal, vesti o pijama, fui-me deitar arrastando o tablet comigo, que ainda era cedo e continuei a ver o vídeo que tinha deixado a meio. Uns segundos depois: freeze. Sem eletricidade, não há palhaços (ou wifi). Chorei ao Moço que me ligasse a powerbank ao router mas ele só se riu de mim. Pareceu-me que não estava a entender a catástrofe.
Tentei o Netflix e nem abria com falta de rede, sequer para confirmar se tinha alguma coisa guardada offline para ver. O telemóvel ainda para lá de morto. O Moço a começar a ressonar. O livro sem luz própria nem visibilidade com a velinha ténue. Nem jogos no tablet depois do último reset. Mas vá, uma série no cartão SD que pus a dar - achei - baixinho.
- Liga os auriculares - reclamou o Moço a querer dormir.
- Não consigo ver onde estão às escuras - choraminguei eu.
Sem propósito na vida tentei igar o telemóvel (2% de bateria) ligado ao soro da tal powerbank. Queixei-me da minha desgraça a um par de amigos, quase vizinhos, e eles sim, tinham eletricidade. Um deles, ironicamente chamado Jesus, ainda disse "Let there be light". Foi a última coisa que li antes do telemóvel voltar ao breu.
Aflita para fazer xixi, encolhi-me e aguentei porque ainda me lembro bem do filme Lights Out - Terror na escuridão.
Aconcheguei-me contrariada e dormi. A vida não está para as bloggers.
#firstworldproblems
Eu estou aninhada no sofá com um livro (voltei a ler, deve querer dizer qualquer coisa). Ele está a ver a bola porque tem de fazer render a Sport TV que subscreveu só por um mês para ver o Porto empatar com o Benfica.
Só se ouve:
Não é para aí!
Grande jogada!
Ah, foi ao poste.
Devia ter cruzado.
...e afins.
Eu estou a ler. Não há mais ninguém na sala. Dentro da TV ninguém o ouve.
Já lhe disse, mas ele continua.
Deve estar a querer ser expulso.
Isto é falta claríssima!
Bom passe!
...e afins,
Chamo o doutor?
Fiquei muito orgulhosa da minha primeira jardineira de vitela.
Não pude partilhar a alegria com nenhuma das minhas amigas para não ser censurada por ser um prato com batata (nem sequer era batata doce).
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