O relato de um Sábado e a ponta do Icebergue
A semana foi dura e pela primeira vez em muito tempo dei por mim a fazer uma coisa que odeio: rezar (figurativamente) pelo fim-de-semana. Tento sempre convencer-me que devo esperar coisas boas no próprio dia, seja ele qual for e o trabalho também deve ser uma fonte de alegrias. Normalmente resulta. Na semana passada, cá por coisas que tinham mesmo de ser, não resultou e foi stress a mais e sono a menos.
Em sequência, o Sábado foi então absolutamente anormal: apesar de ter acordado às 9h passei horas e horas na cama. Tinha vários planos que envolviam sair de casa: ver como estava a praia, tomar o pequeno-almoço fora, fazer umas compras, talvez ir ao cabeleireiro. Mas entre a preguiça e as tarefas que tinha para fazer em casa, deixei-me ficar.
Logo de manhã partilhei uma foto no Instagram onde lia na cama, com uma caneca do meu leite-com-café. De facto foi uma manhã de leitura entre os lençóis, pequeno-almoço tomado na cama, luz a entrar pela janela, quase poético. Durante o dia acabei um livro, acabei uma série e espreguicei-me muito, coisa que estava a dever a mim própria. Só me levantei oficialmente às 15h.
No entanto, isso não traduz exatamente a manhã ou o dia. Queria mesmo era estar com o Moço, que tinha de trabalhar. A máquina de café está avariada. Demorei toda a manhã para ler as 30 páginas finais do livro porque fui constantemente interrompida com questões de trabalho. Continuei na cama, mesmo quando quis ver um episódio de uma série, porque o sofá que descascou todo está a ser forrado de novo (incha carteira). E foi de lá que trabalhei à tarde também de portátil no colo. Pelo meio não deixei de fazer todas as tarefas que tinha a fazer em casa, tão excitantes, como lavar, estender e arrumar roupa.
O balanço foi um dia bom, claro. Mas aquela primeira foto que publiquei traduzia tão pouco. Serve de lembrete para como realmente tudo o que vemos nas redes sociais é uma ponta do icebergue da vida ou dos dias de cada um. Não faz mal que assim seja, não devemos explicações a ninguém. Mas devemos a nós mesmos essa lembrança quando olhamos para o quintal do vizinho.