A maior parte das pessoas tem dificuldade em adormecer porque começa a pensar nos afazeres e preocupações assim que pousa a cabeça na almofada. Eu encosto-me e adormeço em 16 segundos. Depois acordo mais cedo do que seria preciso e começo a remoer em tudo e um par de botas, quando podia descansar mais um pouco.
Não dobrei os cantinhos todos do livro porque o livro não era meu. Pensando melhor, não dobrei os cantinhos todos do livro porque se os dobrasse todos, seria igual a não ter dobrado nenhum. A estória não é extraordinária, mas o conceito, senhores! Um conceito levado ao extremo. A importância do inútil num mundo pragmático. A importância da arte num mundo de números. A importância de saber usar uma metáfora sem lhe chamar mentira. Ou chorar sem medir os mililitros de lágrimas. Quis guardar todas as frases, todas as ideias neste livro que se lê de uma vez só. Guardei só a vontade de ler (ainda mais) Afonso Cruz.
Os anos vão-me roubando a paciência. Não a capacidade de esperar ou suportar, mas antes a virtude de passar com graça por coisas que não quero – ou fingir que as quero, se são absolutamente desnecessárias à minha felicidade (e por inerência, à felicidade dos meus).
O tempo é cada vez mais valioso e as aparências cada vez menos. Felizmente, este desprendimento vem a tempo do contexto atual, em que estou longe de família e amigos que muito estimo. A tempo de eu saber que se faltar a determinada data, não é essa data que é relevante e sim o resto do tempo todo, e a tempo de não ter paciência para quem não compreende isso mesmo.
Ainda tento acomodar, mesmo que só para um grupo de elite, todas as solicitações possíveis e ainda sofro por não me multiplicar e às vezes ter de fazer escolhas (inclusivamente escolhas que só dizem respeito ao meu umbigo e não vêm com desculpas palpáveis). Mas para quem gosta de nós e tem a certeza do carinho que também lhes temos, nem é preciso justificar: sabem que se não vamos ou não estamos, é porque o nosso momento não o permitiu (porque tínhamos alguma coisa para fazer ou porque tínhamos de não fazer nada – também pode ser isto). Sabem que todas as variáveis fora, estaríamos lá. Sabem que mesmo sem estar lá, estamos. Entendem que não são prioridade, quando a prioridade é outra - e é isso que os torna prioritários.
Quanto ao resto da humanidade, o parecer bem, o estar porque devo, se não quero: alguém arranje essa paciência. Porque eu já a perdi. E não a espero reencontrar.
Talvez seja ridículo dizer assim, porque se costuma dizer isso dos filhos, mas uma das melhores coisas que o Moço me deu foi este sobrinho do meu coração. E tenho a certeza que o sobrinho também aprova a escolha que o tio fez, pelos abraços que me empresta e por me fazer prometer sempre que me vou embora que "amanhã outra vez, 'tá bem?".
E agora que, cada vez mais, tenho de dizer que ele é uma criança e não um bebé, com três aninhos acabados de fazer, agora que me mudei para longe e o vejo menos vezes, bate um medo irracional e penso muitas vezes numa coisa muito simples: e se ele nunca mais adormece ao meu colo?
Um clássico dos verões que fui perdendo com a idade é o acto de ir à praia com os meus pais. Coisa que se proporcionou num Sábado deste Agosto: eu, eles e a pequena (a minha irmã que pode ter a idade que queira, será sempre a bebé), como nos bons velhos tempos. E, minha boa gente, pouca coisa mudou com o passar dos anos. O meu pai continua a ler o jornal sentado numa cadeira que eu roubarei na primeira oportunidade que tenha, comentando as notícias para ouvirmos todas, a minha mãe continua a pôr-se ao sol com o bronzeador de proteção baixa nas esperança que seja depois dos 50 que algum bronze lhe pega, a minha irmã chateia toda a gente para fazer jogos até que alguém ceda e eu só quero estar sossegada com o meu livro, com a menor proporção de areia por centímetro quadrado de pele que me seja possível obter.
Boas ou menos boas, há coisas que não mudam numa ida à praia com os pais e estas são apenas algumas delas:
1. Levantar com as galinhas.
Somos os primeiros a chegar à praia e eu apronto-me logo a desistir: está nevoeiro, não está calor, o tempo está horrível, vamos embora. Enquanto eu protesto, eles vão montando o estaminé. Com brio, afinal, ficaremos por muitas horas, muito para além da minha paciência.
2. Não temos um lugar na praia, temos um acampamento.
Temos um chapéu de sol por cada duas pessoas (com pincho!), toalhas de sobra, pára-vento, e cadeiras dispostas de forma a fechar o círculo familiar.
3. A praia pode ser um restaurante dos mais capazes.
Há pastéis de bacalhau acabados de fritar (mais especificamente 24 para 4 pessoas), pão fresco, queijo e presunto, fruta e bebidas à decsrição. Podia pensar-se que não, porque a geleira ficou em casa, mas quem tem uma mãe, tem tudo. Tudo = alguém capaz de fazer aparecer um coelho guisado dentro de um nécessaire. E não há areia que chegue à sande! Na hora da refeição monta-se um festival de toalhas de praia ao centro, encimadas pelo toalhinha bordada com galinhas (foto real, acima) sobre a qual repousará a refeição.
Conclusão: li cerca de um capítulo em 36 horas de praia (sim, foi só uma manhã e tarde, mas pareceu-me muito mais longa, a jornada) apesar de ter estado com o livro à frente durante todo o tempo. Concentração impossível, risota total. Venham mais.
Já sabem que é regra da casa (está escarrapachado no template, ali à direita) e este post em particular deve ser comentado.
Eu explico: é que agora é mais fácil fazê-lo. Temos uma caixinha nova de comentários no Sapo, que (entre outros bloggers da casa) me dispus a experimentar. As grandes diferenças? O Sapo explica:
O novo formulário de comentários é mais simples e fácil de usar, sobretudo para quem não tem conta no SAPO. Os visitantes sem conta no SAPO passam a poder comentar com o seu perfil Facebook, se não quiserem preencher os seus dados. E aquela caixinha com letras e números, a que chamamos anti-SPAM? É algo que vai tornar-se cada vez mais raro encontrar ao tentar comentar um blog SAPO.
Não deixem de testar e dizer se gostam, se não gostam, se têm alguma dificuldade. Se não souberem o que dizer, fica a proposta: comentem dizendo qual foi a última coisa que comeram. Go go go!