Custa-me muito ver, às vezes, nos blogs, aqueles posts de opinião, que afinal são publicidade e não estão identificados nem com uma mísera tag. Além de já ser proibido - conduzir em excesso de velocidade também é e ninguém se rala - parte-me o coração. Como leitora, odeio ser tratada como ingénua, ser a última saber das coisas (nunca saber). Fico mesmo magoada, pronto, já disse. É que hoje em dia escrevo um blog e até recebo algumas propostas e portanto fico a saber quais são as marcas (algumas, vá) que andam aí nas bocas dos blogs só porque enviaram emails a prometer coisas, mesmo que os bloggers as façam passar por coincidências do diabo. Até há uma blogger muito lida, em particular, que por azar eu gosto muito, que até parece que não faz publicidade no blog - só que faz. Do lado de cá é que se sabe. Se bem que às vezes basta estar-se atento.
Como blogger, também me parte o coração receber o email de uma marca a dizer que gostaram muito do meu blog e se identificaram com ele e por isso gostavam de fazer e acontecer conosco e até nos deixam a pensar numa forma gira de apresentar aquilo às pessoas, que faça sentido para todas as partes (a marca, o blog, quem lê)...e depois "no dia a seguir" estão em 10 blogs diferentes - e por alguns até fico a saber que o discurso foi o mesmo, por outros fica a parecer que foi a tal coincidência dos astros alinhados. Graças a Deus (que raio, a mim!) que não me atiro de cabeça nestas coisas. Não há saca de farinha grátis que valha o desgosto. Faz lembrar aquele ex-namorado que nos mandou uma mensagem a dizer o quão especiais somos. Mandou a nós e a todas as do grupo "gatas" da agenda telefónica.
Juro-vos - sem fazer figas atrás das costas - que jamais falarei de uma marca que me aborde sem que saibam que fui - lá está - abordada. Sem que na continuação haja uma tag a dizer "parcerias" ou "publicidade" (como aliás, é obrigatório). Prefiro pecar por excesso do que deixar-vos no escuro, onde eu não gosto de estar. E se vos enganar, é porque fui enganada. De resto aplica-se isto. Sempre.
Primeiro o Moço meio que me obrigou (a custo da minha honra e da dele) a ir ao ginásio. Depois a minha irmã inscreve-se num ginásio e afinal não estará na capital para o frequentar, mas já tem duas mensalidades pagas e mais outras com que está comprometida - e a simpática da senhora da receção diz que pode ser outra pessoa a cumprir o "contrato". Estão a ver o que vai acontecer, não estão? Há quanto tempo acham que eles têm isto tudo pensado? O Moço, a minha irmã e a senhora da receção do ginásio?
*Homenagem à minha irmã que durante muitos anos achou que se dizia conclôt e não complô.
Está escuro, tenho frio, preguiça de me fazer um chá e nenhuma lareira para acender. É só o vidro, da janela que tenho à frente, que me separa do temporal que mora na rua. Tenho mil coisas para fazer e o que me apetece é escrever. Sobre nada ou coisas pequenas. Escrever isto. Dizer-vos que estou a beber água de uma caneca porque os copos me aborrecem e tenho mesmo de me habituar a beber mais água se não quero ficar com o Grand Canyon nos rins. O Moço trabalhou durante a noite e tenho saudades dele, mas agora não posso fazer nada quanto a isso. Tenho dado por mim sempre a querer ler o livro que pensei que ia ler a seguir e não apreciar o que estou a ler agora, já vos tinha dito? Tenho de corrigir isso. Acho que faço o mesmo na vida. Estou a pensar no almoço de amanhã, mas não tomei o pequeno-almoço hoje. Nem sempre tomo - é um hábito antigo. Quando tomo, com tempo, compenso os outros todos e quero bacon e croissants e torradas de três tipos de pão. Não gosto de pequenos-almoços apressados, acho que é isso. Estou a balbuciar, não é? Eu calo-me. Apetece-me maçar-vos. Querer fazer alguma coisa de útil é que 'tá de chuva...
Capacidade de estar à chuva à espera que fique verde para atravessar a passadeira, a levar continuadamente com uma nuvem de fumo a saber a castanha (tão bem) assada, com fome...e seguir caminho.
E ai do primeiro que venha para aqui nos comentários dizer que nunca mente que eu invoco já a palavra "balelas". Talvez seja triste dizê-lo, mas a nossa sociedade desmoronava sem algumas little white lies. Podem recordar a minha reflexão sobre o assunto e o filme que a inspirou (sobre um mundo em que ninguém mente e de repente há um maluco - o Ricky Gervais - que consegue fazê-lo) aqui. O filme é delicioso, cómico e faz-nos pensar.
Pois bem, corria a década de 90 e eu estava acabadinha de entrar na catequese. No meu tempo, e na minha terra, não havia cá aquela coisa de liberdade religiosa para a criança ou grandes discussões filosóficas acerca do bem ou mal que faz à criança - toda a gente ia à catequese (os meus amiguinhos) e portanto eu também. Não me toldou a mente de maneira nenhuma (aliás, nunca acreditei eu deuses, messias, água que se faz vinho e afins), portanto como vêem não me tirou a liberdade de escolher o meu caminho na fé (ou a falta dela), mas aprendi muito acerca da nossa cultura e ouvi bonitas estórias que pelo menos servem para passar valores morais.
Ora não me lembro em que ano teria sido, mas julgo que foi logo no primeiro (primeiro ano de catequese - coincide com o primeiro ano escolar) que nos empurraram para uma confissão. A primeira confissão. Como não sabíamos escrever e pelos vistos alguém decidiu que falar não era o ideal (talvez fosse na altura que nos caem os dentes e os padres não quisessem levar com spray de cuspo) pediram a todos os meninos que fizessem um desenho que representasse o seu pecado. Ora estar a escolher um pecado que combine as propriedades de ser confessável e ao mesmo tempo conseguir desenhar-se é complicado. Por exemplo, eu poderia pensar "fui mal educada para os meus pais". E como é que esta jovem (des)Picassa ia representar isso em desenho? Por acaso sou a Maria das Imagens? Não. Sou a Maria das Palavras.
Portanto eis o que fiz na minha primeira confissão: menti.
Desenhei-me a atirar uma pedra a outro menino, que era infinitamente mais fácil de representar em folha do que tudo o que me ocorria, e contei ao padre sobre isso. Sem qualquer pudor, até porque continuava sem certezas da legitimidade daquela pessoa de vestido branco para andar a ouvir segredos profundos.
Devo ter sabido que era errado, porque me lembro bem disto. Se me arrependo? Ora bem, as Avé-Marias e Pais-Nossos que rezei pelas pedras que não atirei devem ter chegado para o pecado que realmente cometi. Portanto diria que paguei a minha dívida à sociedade...
Tenho andado a adiar as compras para a casa a ver se o Continente começa outro cupão de 10% de desconto. Uma das coisas que está pela hora da morte são os iogurtes - apenas um par jazia no frigorífico, o que é grave, porque o Moço come iogurtes todos os dias.
Ontem à noite tinha fome. O que é que é raro apetecer-me? Iogurtes. O que é que me apetecia ontem, que só havia dois e era importante racionar? Iogurtes.
Fui pela calada à cozinha, peguei num. Saquei também de um pacote de bolachas, abri o livro que trazia para fazer a viagem da sala para o quarto. Dentada na bolacha, colherada de iogurte, virar a página. Iogurte ao chão. Metade do iogurte a fazer lembrar uma cena de crime no chão da cozinha, em bocados na máquina de lavar, pespegado às pernas dos bancos...
Eu não sou muito dada a esoterismos. Mas começo a achar que o karma existe. Isso ou o diabo mora num Corpus Danone de Morango. Desculpa, Moço. Não volto a roubar-te iogurtes.
Tenho um caderninho, entre dezenas de outros e como já tive dezenas de outros, onde escrevo ideias que tenho para escrever. Não para escrever singelos textos para o blog, são ideias mâgnanimas, inigualáveis, para livros inteiros. Tem dias, tem coisas, tem frases, que me acendem luzes na cabeça. De repente preciso anotar aquela fórmula mágica antes que se vá. Entusiasmo-me. Escrevo além da frase-chave, muitas notas, numa letra quase linha que só eu perceberei para sempre. Os nomes, as peripécias, as características importantes, os twists, como será o grand final, alguns episódios de atirar ao chão em riso ou em ternura ou em tragédia. Durante uns dias ou umas horas, acrescento mais coisas. Ainda não puxei o cordelinho para apagar a luz. Continuo. Não me posso esquecer disto e daquilo. Ah, que rasgo! Então começa a esmorecer a pressa de ter tudo decidido. O essencial está pensado, posso descansar, afasto-me. Fica a fermentar. Só que vou lá passado uns dias ou umas semanas, abro o caderninho com mais uma ficção que nunca escrevi, só planeei. Leio. Não percebo que graça achei eu àquilo no outro dia. Por que raio terei sequer apontado? E aquela parte que não faz sentido nenhum? Arrumo-o novamente, entre as outras coisas que andam comigo na mala, o pacote das pastilhas, as chaves, o saco de pano para as compras, e espero pela próxima ideia que viverá na minha cabeça e morrerá no caderinho. Enfim, vou sendo feliz.