Não há dúvida nenhuma que um dia, não sabemos quando, isto da pandemia não passará de uma recordação, depois uma história. Também não tenho dúvidas que vamos ganhar alguns hábitos novos que ficam para o futuro - arrisco dizer que algumas pessoas até vão passar a lavar mesmo as mãos quando saem da casa de banho. Tenho mais dúvidas que nos tornemos pessoas melhores, acho que, como sempre, por cada ato de altruísmo, há alguém que leva as latas de atum da prateleira do supermercado todas para sua casa e assim o mundo se equilibra.
Mas até lá o nosso humor vai variando. Na maioria dos dias não ligo a qual será a data de validade do isolamento, só espero que seja superior à da minha farinha que ganhou bicho. Sei que vai ficar tudo bem e, portanto, passo um dia de cada vez, o melhor que posso. Os outros são os dias "era só o que me faltava". Ou, como me lembrei há pouco quando barrei uma bolacha com manteiga de amendoim e ela caiu com o lado pastoso no chão: os dias da Lei de Murphy.
A maior parte das situações que me fazem levar as mãos à cabeça não têm relação direta com a quarentena, mas sei que me apoquentam a uma escala desproporcional por causa dela. E se me apetecer chorar porque a farinha tem bicho (não é corona) e não posso armar-me em pasteleira, quando sei perfeitamente que se não fotografar um bolo o Instagram me bloqueia a conta por violação de normas da comunidade, não tolero que me digam que não tenho razão para isso.
Concluo que lidar com o isolamento é isto. Admitir que de génio e de louco, todos temos um pouco. Menos a parte do génio.
Ontem abri um vídeo num grupo de amigos que mostrava as compras de um deles no Continente. É o tipo de coisas que fazemos em isolamento. Portanto toda a gente viu até ao fim, claro. E tal como nos filmes dignos de Óscar, o climax surgia quase no fim, quando vemos, coroando esta curta-metragem de baixo budget, dois pacotes gigantes (e diferentes um do outro) de papel higiénico.
Eheh. Pacotes. (podia ter dito embalagens)
A mim pareceu-me óbvio que cus diferentes têm sensibilidades diferentes, mas houve quem questionasse: porquê? Ora, nesta fase,o papel higiénico assumiu um lugar de destaque na nossa sociedade - mais importante que Marcelo, embora beije uma área diferente -, e tentar perceber como cada pessoa tem o seu papel higiénico ideal.
O Papel Higiénico Ideal para Cada Tipo de Pessoa
O Poupadinho: Um qualquer, mas usa dos dois lados.
A Influencer: Marca Renova daquele de cores a dar com o outfit do dia.
O perfecionista: Folha dupla ou tripla.
O preguiçoso: Rolos maxi, que se trocam menos vezes.
A ecologista: Usa o bidé. À falta de bidé, a pia da cozinha ou a mangueira do jardim.
O verdadeiro macho: O que a mulher puser no suporte. Se se acabar o que está no suporte, o tapete de casa de banho.
O esquecido: Guardanapos.
O hipocondríaco: Nesta fase de virulência agressiva, lava diretamente com lixívia.
O simpatizante do PAN: Scottex, que tem publicidade com cães fofinhos.
Quarentena efetiva, completei ontem quarenta dias sem sair de casa. Chamem-me doida (provavelmente estou), mas não preciso de sair - o Moço sai para trabalhar e portanto trata das pouquíssimas coisas que admitimos essenciais de se fazer na rua - e não acho que ir até ali ao fundo fazer um passeio à volta da cidade a pé me vá trazer mais vantagem do que tiques nervosos. O que eu precisava era de expandir horizontes, experimentar e ver coisas novas, não sair a medo para bater o ponto do passeio higiénico. Vejo o mar da varanda, vejo igualmente muita gente a andar de um lado para o outro e, como disse, chamem-me doida (provavelmente estou) mas podendo não sair, não sairei. Tenho essa sorte, não vou tentar o azar.
Claro que isso traz paranóias como o meu coágulo na perna. E situações embaraçosas de recolhimento, como a coisa vergonhosa que encontrei o Moço a fazer sozinho NA COZINHA!
Saibam tudo em mais uma mensagem de voz que vos deixamos.
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Não falo de problemas menores, como ter saudades da família, falta de acesso a bens essenciais, a quebra da sanidade mental ou situações precárias e sacrifícios vários em nome do bem-estar comum. Falo daquelas situações mesmos graves.
“O meu chefe quer videochamadas diárias.”
Avaria as tuas câmaras para evitar que te vejam. Precisas que seja credível, qualquer martelo com prego, bem assente, resolve o assunto
Guarda apenas uma câmara sã, pode ser um tablet velho, para chamadas ocasionais com familiares ou amigos selecionados. O patronato não pode saber da existência desse último dispositivo se querem continuar a trabalhar sujos, despenteados e nus.
“Eu faço distanciamento quando tenho de sair, mas os outros não. Fui ao supermercado e um velho estava a respirar-me para cima.”
Antes de saíres à rua escreve COVID19 na testa com um marcador preto. Sempre que sentires outros humanos, olha bem em volta para te certificares que te lêem a testa. Em casos mais graves faz um pequeno impulso para a frente e grita “vou-te lamber”.
“Não consigo aturar mais as pessoas que vivem comigo.”
Usa o papel higiénico que acumulaste para construir muralhas e definir espaços para cada um.
“Alguns deles são filhos menores e precisam de mim.”
Da próxima vez que fores deixar compras aos teus pais ou avós que estão em isolamento deixa uma cestinha com os filhos menores ao lado das maçãs. Se já andarem, ata-os ao garrafão de 7lt do Luso. Se mesmo assim conseguirem fugir, também têm bem idade para se safarem sozinhos.
“Sofro muito da cabeça com Tik Toks de pessoas a dançar descoordenadas.”
O problema são as expectativas. Sei que estou sempre a dizer isto.
Comecei sabendo que era um livro ótimo, favorito de muita gente. Tinha ouvido dizer que o fim era supreendente e, noutra versão, a pior coisa do livro.
O que achei? É um bom livro e um livro para quem gosta de ler. É para apreciar o processo de leitura e crescimento do Theo, cada página. Não para se ter ânsia de chegar ao fim, fim esse que não me supreendeu, nem me desiludiu.
Tão bem escrito (não por ser demasiado pretensioso na linguagem) que nos faz sentir fisicamente mal a espaços, ao recriar tão bem determinados contextos. Que nos frustra, porque só queremos entrar para dar um conselho ao protagonista, ou então afastar-nos daquilo tudo de uma vez para evitar o desconforto de não o podermos fazer.
Mas não é um livro que recomendarei a quem gosta de ler de vez em quando, antes um livro para leitores frequentes apreciarem, no sentido em que entendo que nem toda a gente ficasse contente em passar por 900 páginas para ver o Theo desenvencilhar-se.
Breve (brevíssimo) resumo:Theo perde a mãe, o pai já se tinha esquivado, e ele passa as passinhas do Algarve para encontrar estabilidade em todos os sentidos. No centro da trama está uma obra de arte, O Pintassilgo, por razões que terão de descobrir.
Quando terminei, instalei a Amazon Prime para ver o filme (gratuito por 7 dias) - e depois descobri que não está disponível em Portugal. Também pesquisei para descobrir que o quadro está em Haia, e sei que o gostava de ver ao vivo um dia.
Da mesma forma que não encontrei o fim do livro, não assentou ainda totalmente a minha opinião. Gostei muito, não me apaixonou. Recomendo se estão numa fase de leitura, mas não se estão estagnados e a querer voltar.
Quero ver a série que toda a gante elogia, mas queria antes disso ler o livro. Comprei-o numa viagem de trabalho a Londres onde comprei demasiados livros, por acidente...são mais baratos, têm capas lindas e o tamanho perfeito. Mas tendo em conta que é um livro escrito nos anos 80 e não muito simples (por exemplo, a autora, não distingue os diálogos nas frases), acho que teria sido mais rápido em português.
Em todo o caso, li-o, como quem gosta, mas passa na diagonal alguns parágrafos, sabem? Perdemos muito tempo nos devaneios da protagonista (é ela a narradora) e a ação, embora interessante,deixa sempre muito por explicar - supostamente muito se desvenda no livro que se segue (Testamentos).
É uma distopia, uma sociedade pretensamente feminista, mas pareceu-me mais em fachada que tudo mais. A protagonista é uma das mulheres que são "atribuídas" a famílias de elite numa altura em que a procriação é difícil, para que tente gerar um bebé. O ritual mensal para que esta missão aconteça deixará o leitor muito desconfortável.
Comparo este livro a outro que li recentemente: 1984. Ambas distopias, onde há regimes totalitários que toldam a liberdade aos indivíduos numa perspectiva que pode não ser assim tão irrealista enquanto houver pessoas a eleger Trumps, Bolsonaros, deputados do Chega e qualquer pessoa ou partido que represente uma fação extremista, seja à direita ou à esquerda.
Leiam. Não porque é um livro de entretenimento incrível. Mas para verem os ecos de realidade que se conseguem vislumbrar no nosso mundo de hoje, nestes sociedades inventadas, mas não irrealistas se resvalarmos por certos caminhos de intolerância.
Manhãs inspiradas resultam em mensagens de voz para vocês! Neste episódio fiquem a conhecer o maior medo do Moço (ninguém adivinha), o flagelo que é receber uma encomenda nesta casa e o mistério que mora no andar de cima. Gostava até que fizessem as vossas sugestões do que poderá ser...
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O Clube do Autor enviou-me o livro, mas enquanto eu lia outro, o Moço roubou-mo e passou-me à frente. Sei que este livro o manteve acordado a ler depois de mim à noite (raríssimo) e que ele comentou não estar preparado para algumas cenas. Por isso, enquanto eu não o leio, deixo-vos desde já a descrição e opinião dele. Quase não tive de o obrigar a escrever ("odiava composições na escola").
"O rapaz de Auschwitz é a história de um rapaz que foi parar a um campo de concentração nazi. Vendo-se longe da sua família, teve de sobreviver com a esperança de um dia voltar a encontrá-la.
É uma historia intensa e que mostra toda a crueldade imposta por um regime, que só queria massacrar, humilhar e acabar com as raças que não eram a sua.
O livro retrata duas épocas distintas: uma durante o regime nazi e outra após, vivida nos Estados Unidos da América, um dos países que lutou por um mundo justo e melhor.*
Uma das coisas que mais impressionou no livro é o paralelismo feito de duas épocas diferentes, mostrando que todo o sofrimento causado pelo estado nazi não foi suficiente para mudar o pensamento de muitas pessoas pelo mundo.
A vida de Steve Ross nos campos de concentração mostram um rapaz que sobreviveu, devido à sua coragem e esperança. Uma vida que felizmente o levou até Boston, tendo sido recebido e cuidado por um país que não era o seu, mas que lhe deu tudo para que tivesse uma vida digna, depois do que sofreu. A gratidão que Steve Ross teve do país que o acolheu, fez com que tivesse o objetivo de lutar por um mundo melhor, mesmo que tivesse de lutar contra preconceitos que já tinha vivido no tempo nazi. E isso mostra que num tempo de tanta inovação e desenvolvimento, continuamos a não aprender com o passado.
É uma historia que não esconde todos os detalhes que não queremos imaginar. É inacreditável que alguém tenha passado por isso, mas infelizmente milhões de pessoas passaram. É um testemunho impressionante e isso é que faz com que este seja um livro impressionante."
Ganga não é certamente E a bombazine não cai assim
Ó abençoada invenção Abraça-me e nunca me largues Composto 100% de algodão Quem sabe às vezes até polar Vou vestir-te até ao armagedão Só te tiro para te trocar
E quando te troco é por teu igual Mais coração, menos ovelha Viram dias e noites e dias E tu sempre sobre meu corpo Provideciando mil alegrias