Ele deixou de pôr de parte a cebola nas saladas ao jantar. Eu deixei de me pentear nas manhãs preguiçosas. Passei a desvalorizar quando faz que morre por estar constipado. Não fazemos cerimónia quando não gostamos das coisas um do outro. Puxo-lhe o lençol à noite se for preciso e ele quando se vira faz tenda e deixa-me a apanhar frio nas costas. Quando digo que não quero jantar ele já não vai buscar cerejas da Patagónia à meia-noite porque é a única coisa que me apetece comer.
Ele dá-me beijinhos rápidos se comer a tal cebola. Diz que gosta de mim despenteada. Certifico-me que toma a medicação certa e cuida de si se estiver doente. Fazemos uma coisa diferente durante um bocado, se não nos interessa a mesma coisa. Ele traz-me água todas as noites à cabeceira antes de nos deitarmos e liga-me o saco de agua quente elétrico enquanto eu levo os dentes. Se for num raio de 10 quilómetros, ele ainda me vai buscar o que me apetecer jantar só para eu não ficar de estômago vazio.
Não mudámos, adaptámo-nos. E no que é essencial - o amor - nada mudou.
O Sol de Inverno são os raios de luz que nos aquecem no frio. Ou é o filho da p*** que me encandeia o GPS e me faz ir parar à Bélgica a caminho do Porto...
Também querem os brinquedos uns dos outros - brinquedos que nem queriam à partida, mas dos quais se lembram ao ver outros a divertir-se. Têm ciúmes se alguém que recebe mais atenção, são bem capazes de chorar por isso. Precisam de apoio para pôr projetos a andar. Têm muito medo do que desconhecem, só disfarçam um bocadinho melhor. Alguns atiram-se de cabeça, talvez não do móvel da sala, mas noutras coisas em que acreditam. Gostam de mama! Ui, se gostam. E se alguém os embalar, caem que nem patinhos. Na maior parte das vezes também não querem dar beijinhos a estranhos - a não ser que sejam suecas tesudas. E, sobretudo, querem a papinha toda feita.
O vento escolhe uma direção e sopra com mais ou menos força, mudando estado das coisas. Às vezes é uma leve brisa que faz mexer a temperatura. Às vezes é um tornado que tudo transforma - ou destrói. Bem ou mal, decide, agita, influencia.
A bandeira pende serena se tudo for paz e bamboleia ao sabor do vento. Consegue erguer-se para um lado e para o outro - consoante o primeiro decidir. Não dança sozinha, mas também não tem hipótese de errar. Molda-se. Adapta-se.