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Maria das Palavras

A blogger menos in do pedaço, a destruir mitos urbanos desde 1986. Prazer.

16
Set19

O dia em que uma sala de cinema me cuspiu em cima

Maria das Palavras

Então queríamos ir ao cinema ver o IT (que é bom, mas em termos de terror é uma palhaçada - literalmente). E o melhor horário era o da sessão 4DX no GaiaShopping. Não pensei muito no assunto, achei que fosse tipo IMAX ou assim e, mesmo sendo caro o bilhete, ficava como uma experiência. Mal sabia eu para o que estava guardada. 

 

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Não sei se já vos disse, mas toda a vida odiei pipocas - sabem-me a clara de ovo. Ultimamente, têm-me apetecido. As pessoas mudam. Às vezes para melhor, outras vezes, para engordar mais. Portanto, Maria vai de pipocas e Coca-cola sentar-se na cadeira de cinema, quando...esta começa a saltar. A cadeira, entenda-se, que eu só me mexo se houver muita necessidade.

 

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Talvez seja óbvio para muita gente que não vale a pena levar comida e bebida para uma sessão de 4DX, mas entendam que eu não sabia o que era. Calha que se tratam de duas horas de cadeiras a abanicar ao sabor das imagens do filme. Portanto nos primeiros dois minutos metade das pipocas ficou no chão e a cola perdeu o gás.

Explicando, para leigos, como eu era. O 4DX tenta replicar as sensações do filme. A cadeira salta e balouça nas cenas de movimento, molha-te se a personagem se molha, entra um odor estranho, se as personagens entram no esgoto, e passa um vento se estão ao ar livre.

Ora se eu quisesse apanhar com vento não saia de Espinho, não é?
E no geral, se eu quisesse sentir que estava ao relento, ia acampar em vez de ir ao cinema.

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Depois levo muito a mal que a sala me cuspa em cima, que basicamente foi o que aconteceu. Crianças a chapinhar na água? Jatos húmidos na cara. E já agora em cima das pipocas - ainda estou eu a habituar-me a gostar delas e o cinema quer-mas por logo moles.

Para ajudar na festa, tínhamos acabado de jantar, pelo que o Moço (que abomina qualquer semelhança com parques de diversão e já acha radical passar com o carro em lombas a baixa velocidade) vaticinou logo: vou ficar enjoado. 


Acresce que no dia anterior eu tinha ido a um casamento e apesar de não beber alcoól (logo não estar de ressaca), nem ter chegado a horas vergonhosas a casa, a idade já não perdoa e acordei com uma dor de costas. Adivinhem o que é supimpa para a dor de costas?

CADEIRAS SALTITANTES.

Durante as quase três horas que levou o filme.
Então, mas não é excitante, a sensação de acompanhar o movimento do filme? É sim, senhor. Durante certa de sete minutos e meio. Depois, mói.

 

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E no fundo, foi só como estar a ver o filme no sofá de casa, porque o Moço, nunca pára quieto um segundo enquanto vê televisão. A frase que mais lhe digo nunca foi "amo-te", sempre foi "Podes parar um bocadinho?!". De maneira, que quando o filme acabou a nossa conversa foi esta:

Maria: Eu queixo-me que tu nunca estás quieto e depois pagamos uma fortuna para me sentar em cadeiras saltitonas no cinema.

Moço: No fundo, comigo, a tua vida é 4DX.

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07
Set19

O Flagelo da Rapariga que Viajou sem o Marido

Maria das Palavras

Quem acompanha o Instagram sabe que em pouco mais de um mês fiz duas mini-viagens sem o Moço (com quem não me casei entretanto, acalmem-se, usei liberdade criativa no título). Estive 5 dias a passear na Áustria com uma amiga e na semana passada 3 dias em Sevilha como a minha sister


Não viajei com o Moço, nem tive férias com ele durante o verão, porque ele mudou de trabalho mesmo antes de começar a estação e os planos foram por água abaixo (por uma boa causa). Mas também podia ter sido só porque tinha combinado viagens com outras pessoas. 

Dando uma novidade ao mundo: eu e o Moço não estamos agarrados pela anca. O que é muito bom porque isso significaria que seríamos gêmeos siameses e sermos irmãos tornaria a coisa muito estranha (não foi o Eça que escreveu a minha vida). 


Daí que tenha achado tão divertidos quanto preocupantes alguns comentários e olhares quanto ao facto de eu ter viajado "sozinha" - sem ser a trabalho. Trabalhar aparentemente até posso (obrigada sociedade), mas querer andar na galderice para meu bel-prazer já é um bocadinho a roçar o título de porca. 


As três reações mais frequentes aos nossos programas separados foram: 

 

1. Mas está tudo bem, convosco? Acabaram?  (tom preocupado)

Está tudo ótimo conosco. Não estaria se, por exemplo, uns dias separados, sem justificação médica ou laboral, fossem sinónimo de chatice. Aí a porca estaria nas couves. E a porca só foi à Áustria. E a Sevilha. Couves-free.

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2. A minha mulher/o meu marido não iam deixar. (com expressão de atrevimento)

AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH.

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3. "Acho bem" mas com ar de desconcerto. 

Como quando me dizem que fico muito bem de franja. Há uma certeza metida a chicote na voz, mas um ar de dor de desarranjo intestinal na expressão facial.

 

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Certo que a maior parte das pessoas não reagiu. Porque viajar com alguém que não o namorado ou marido ou companheiro, por opção, não é digno de uma reação. E gabo-me de me rodear de pessoas assim. Mas ainda há um longo, muito longo, caminho a percorrer na mentalidade das pessoas. Até porque não estou a contar a parte em que a minha ideia inicial era fazer uma escapadinha europeia sozinha e TODA a gente reagiu como se eu estivesse a dizer que ia injetar malária. 

 

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