Com bons olhos (fora a miopia) noto que, apesar de todas as saudades de pessoas e lugares que se matam só a espaços, - estou muito mais feliz com esta mudança hoje do que estava quando ela aconteceu. Palmadinhas nas costas, Maria. É (também) por isto que escrevo. E é muito bom constatá-lo ainda antes de virar o ano.
...e um blog honesto ainda por cima (!) tem destas coisas. Ia escrever um post confirmando que não me apoquenta receber meias no Natal. E não é que já o tinha escrito?
Mudei-me. Na passagem de ano estava fiadinha que nunca sairia da capital até ao fim dos meus dias (citação própria: tenho os pulmõezinhos habituados a esta poluição) e em Fevereiro já estava a morar junto a uma arejada praia do Norte. Reencontrei pessoas contra todas as probabilidades. Li muito menos e escrevi muito menos. Tive mil vezes vontade de ler mais e escrever mais e melhor, mas raramente foi tempo disso e o blog esmoreceu. Mesmo assim não falhei no meu compromisso de um post por dia desde 11 de Julho de 2014 quando este blog ganhou vida. Pendulei no Alfa. Fui surpreendida e conferi que continuo a não gostar de ser a última a saber das coisas. Fiz duas viagens-de-cair-o-queixo lá fora, mas passei muito mais horas a viajar em estrada nacional para ver amigos e família - sempre com o meu companheiro da viagem da vida que é o Moço. Aprendi a valorizar o tempo como nunca antes. Confirmei que a distância não é mais que um filtro que só deixa de lado quem é acessório - e que, por múltiplos meios, quem quer estar presente na nossa vida, está presente. "Casei" uma boa amiga e desejei secretamente que fosse a última a meter-me num vestido de dama de honor. Estreei-me nas salas de teatro do Porto (calma, sempre do lado do público) e vi um concerto fantástico com a minha irmã nos jardins de Serralves. Enfrentei os fantasmas e voltei a conduzir. O meu sobrinho aprendeu a dizer com perfeição "tia, amanhã outra vez?" quando me vou embora porque tem de ser. Ganhei mais "sobrinhos" e fiquei a ansiar por outros que estão por vir. Repeti mais vezes do que nunca que "não, ainda não era a nossa vez". Faltei a aniversários e festas, mas nunca faltei à minha palavra. Comi muitos brunches em sítios novos e repeti vezes sem conta as costelinhas do Papagaio. Estraguei a minha média de idas ao cinema mas descobri um onde irei muitas vezes. Ocupada como nunca, comprei praticamente todas as prendas de Natal até 1 de Novembro. Voltei a enviar postais porque as SMS não lhes chegam aos calcanhares. Não fiz planos para 2018.
Na era em que até as escovas de dentes são elétricas, o fenómeno mais gravoso para uma blogger que se preze aconteceu ontem à noite: fiquei sem eletricidade. Às escuras ainda vá que não vá, mas a bateria do telemóvel estava à míngua, tinha andado a adiar ligá-lo ao carregador e pzzzt lá foi ele. Ninguém sabe o bem que tem senão depois de o ter perdido, já dizia o meu tio Quim.
Afirmei que não fazia mal, vesti o pijama, fui-me deitar arrastando o tablet comigo, que ainda era cedo e continuei a ver o vídeo que tinha deixado a meio. Uns segundos depois: freeze. Sem eletricidade, não há palhaços (ou wifi). Chorei ao Moço que me ligasse a powerbank ao router mas ele só se riu de mim. Pareceu-me que não estava a entender a catástrofe.
Tentei o Netflix e nem abria com falta de rede, sequer para confirmar se tinha alguma coisa guardada offline para ver. O telemóvel ainda para lá de morto. O Moço a começar a ressonar. O livro sem luz própria nem visibilidade com a velinha ténue. Nem jogos no tablet depois do último reset. Mas vá, uma série no cartão SD que pus a dar - achei - baixinho.
- Liga os auriculares - reclamou o Moço a querer dormir.
- Não consigo ver onde estão às escuras - choraminguei eu.
Sem propósito na vida tentei igar o telemóvel (2% de bateria) ligado ao soro da tal powerbank. Queixei-me da minha desgraça a um par de amigos, quase vizinhos, e eles sim, tinham eletricidade. Um deles, ironicamente chamado Jesus, ainda disse "Let there be light". Foi a última coisa que li antes do telemóvel voltar ao breu.
Aflita para fazer xixi, encolhi-me e aguentei porque ainda me lembro bem do filme Lights Out - Terror na escuridão.
Aconcheguei-me contrariada e dormi. A vida não está para as bloggers.
A minha irmã apanhou uma faringite desgraçada este Natal e, em plena noite da consoada, mal falava e mal comia. A situação não é para rir, claro, mas (estando a situação controlada) foi impossível controlar o riso quando o meu pai a convencia que não fazia mal passar assim o Natal, que tinha a família junta, a casa enfeitada, a sorte de ter prendas para abrir. No fundo, queria consolá-la dizendo que mesmo sem cantar ou afinfar os dentes no bolo de bolacha que tinha pedido especialmente, o Natal que ela tanto gosta continuava a ser o Natal. Que mais poderia querer ela? Questionou.
E responde ela, em esforço, de forma muito sofrida, dizendo aquilo que dizemos mais ou menos da boca a toda a gente, mas ela queria mesmo:
O que mais vos desejo é que não estejam a ler este post em tempo real. Que estejam esquecidos do mundo todo, em reunião com as pessoas que são o vosso Natal e uma mesa mais recheada que os sapatinhos de prendas. Mas se assim não for, que saibam que o Natal pode estar nas pequenas coisas ao longo de todo o ano, e não só numa grande celebração na data exigida pelo calendário.
Hoje é aquele dia do ano (ou aquela noite) em que me permito ver só o lado bom de tudo e de todos. Até mesmo lembrar só de sorriso quem já não pode fazer o meu Natal e sempre foi o meu Natal. Amassar filhós, cantar Jingle Bells, distribuir alguns votos (e chocolates) de última hora e dedicar-me à magia em que não acredito em altura nenhuma do resto do ano. Tenho 8 anos outra vez. Tenho sempre 8 anos na véspera de Natal e faço o meu melhor por que toda a gente à minha volta tenha também. Façam-me um favor e só por hoje tenham 8 anos.
Os blogs da plebe também são de valor e provou-o toda a adesão que o concurso da Magda teve ao longo das últimas semanas (que muito trabalhinho lhe deu).
O meu era o mais fraco dos nomeados da categoria generista, escrito por uma blogger que anda menos dedicada do que nunca, a concorrer contra pessoas que escrevem como quem canta e que nos alegram todos os dias, como se fossem (algumas são mesmo) nossas amigas.
Ainda assim, arrecadei o caneco. Sou Sapa do Ano 2017, caramba! E só vos tenho a agradecer.
Isto é um grande honra OU finalmente a vingança por aquele momento em que eu era muito pequena, teria 4 ou 5 anos, e disse a um amiguinho (à frente dos pais dele e dos meus): O meu pai diz que tu pareces um sapo.
Vão lá conhecer todos os vencedores de todas as categorias aqui.
Quando a prenda que encomendaste a 1 de Novembro tem hora marcada para chegar (muita troca e baldroca pelo meio) só hoje e te dizem que os CTT estão em greve.