Conta-me uma história...
O título e a inspiração para este texto, peço-os emprestados ao Alpendre da Maria Alfacinha. Que Marias há muitas, mas nem todas com esta categoria. Diz ela:
A mim também me contaram histórias em pequena, desde que me lembro de ser micro-gente. O meu pai, mais ainda a minha mãe, cediam sempre ao meu capricho (foram eles que o criaram afinal) quando lhes estendia uma e outra vez um livro. Não as inventavam, liam-mas.
Um dia, disse à minha mãe, do alto dos meus quatro ou cinco aninhos (sei lá): agora leio eu! Peguei no livro e comecei: as palavras todas certas e seguidas. Ela riu-se assumindo que eu tinha decorado o livro inteiro. Só que não. E puxou de outro livro e de mais um, escolheu passagens ao acaso. E convenceu-se: eu tinha aprendido a ler. Não foi à força de os meus pais quererem fazer de mim menina-prodígio, nem o fui alguma vez. Foi - agora peço as palavras emprestadas ao anúncio da Luso - tão natural como a minha sede. As crianças gostam é de brincar e aquela era umas das minhas brincadeiras favoritas (a maior parte das outras envolvia o quintal grande da minha avó e bonecas que eu enchia de bolacha migada).
Contaram-me tantas histórias que me fizeram querê-las contar também. E ouvi-las: sempre. Foi isto.
Contar e ouvir histórias faz parte da rotina da minha casa. E não precisa haver crianças. Só uma voz suave, uma pitada de imaginação e pelo menos um par de olhinhos a brilhar. E isso, por aqui, arranja-se sempre.