É tão difícil explicar às pessoas as doenças invisíveis.
Dizem, como eu já disse quando era mais ingénua e não as respeitava, que é ser fraco. Que são manias, próprias de quem não sabe lidar com a dor e com a tristeza. Dizem-no porque nem desconfiam que sanguessugas de alma como a depressão - não só a depressão - podem surgir no auge do sucesso e da felicidade, ou numa quarta-feira qualquer.
O filme chama-se "É uma espécie de...Comédia" e estava a dar no AXN White. Não pude ver mais de 15 minutos mas pareceu-me uma abordagem descontraída e pragmática às doenças mentais. E no pedacinho que vi identifiquei três erros básicos do cidadão comum face a esta(s) doença(s) que nos custa(m) tanto compreender:
O Craig, que é o adolescente que serve de personagem principal, anda deprimido e está a pensar matar-se. Dirige-se às urgências e anuncia isso: quer matar-se, precisa de ajuda. É examinado por um médico que lhe pergunta se aconteceu alguma coisa em particular para ele se sentir assim. Erro nº1. Se aconteceu alguma coisa? Seria tão mais fácil se a depressão tivesse uma explicação lógica, mas nem sempre se segue a abusos infantis ou outro evento traumático. Às vezes são só as coisas do dia a dia que pesam (de)mais.
O médico diz-lhe que o vai dispensar. Aquele hospital é para pessoas que estão mesmo doentes. Erro nº2. Pessoas mesmo doentes. Porque o que não se vê, não se sente?
O Craig é. a pedido, admitido na ala psiquiátrica do hospital. A médica desse piso, que sabe que ter uma depressão não é mais embaraçoso que ter diabetes, diz-lhe que ele vai ter de falar à escola e ficar uns dias com eles para avaliação. E ele quer sair, desistir. Porque achava que podia ter uma solução mais rápida. Erro nº3. Desta vez do próprio. Quer uma pílula mágica, uma conversa que mude uma vida, um génio numa garrafa.
Acho que vou continuar a ver o filme assim que puder. Façam o mesmo.
A Ana diz aqui o que eu digo muitas vezes: é pena não ser um braço partido para as pessoas perceberem que é igualmente incapacitante. Na verdade chega a ser como ter os dois braços partidos.
Desvaloriza-se, como eu, sempre cética, pragmática, terra-a-terra, também desvalorizei ("ultrapassa-te, isso é psicológico"). Até sentir mais de perto, - não em mim, mas nos meus, - o poder de algo assim.
E da depressão ainda se fala (embora não se compreenda)...mas há todo um mundo de patologias desconhecidas do público e muitas vezes de médicos que drogam por default para a depressão sem se esforçarem mais que fazem as pessoas passar por "preguiçosas" ou "irresponsáveis" quando têm sobre elas um peso que poucos de nós [felizmente] alguma vez entenderemos. Mesmo quando sorriem às adversidades quando se cruzam contigo.