Nas praias da minha zona (ou da minha infância) não se vendiam bolas de berlim. O senhor passava a espalhar a boa nova: a chegada da bolacha americana ao nosso bocadinho de areal. E vim a Espinho reencontrá-la. O nome da lojinha (dizem Salão de Chá) é Doce Prazer e além de tripas, pipocas e afins vendem bolacha americana - a especialidade - simples ou com...tudo. Desde Nutella, doce de ovos e leite condensado a Twix ou Perna de Pau (ou chocolate negro se quiserem fingir que dá para fazer dieta a comer bolacha americana). A foto não tem filtro, mas tem baba.
Quando fomos passear a Setúbal encontrei no mercado da terra uma preciosidade: caramelos de pinhão El Caserio. Daqueles de partir os dentes e chorar por mais. Comprei uma macheia, muito feliz, e partilhei com os meus companheiros de viagens. O meu avô trazia-mos de Espanha, quando eu era pequena, e vendiam-se em muitos poucos sítios. Hoje em dia tenho ideia que até há no Continente, em embalagens, mas...não é a mesma coisa (é, mas não é).
O meu Moço viu o encanto de menina que eu trazia nos olhos quando os encontrei no mercado de Setúbal. Então roubou um ao colega que trouxe caramelos de Barcelona e trouxe-mo, para alegrar o meu dia. Abençoado. Trouxe-me sabor a caramelo, a pinhão e às viagens do meu avô.
As máscaras guardavam-se para o Carnaval. E a noite de 31 só não era uma noite como as outras - abóboras só para a sopa porque já antecipávamos a overdose de açúcar do dia seguinte.
No dia 1 acordava cedo e entusiasmada ia ter com o meu primo Tiago para pedir bolinho. Sem adultos atrás. Era de manhã e era seguro percorrer a aldeia. A lenga-lenga a cada porta, de cada grupo de crianças:
Ó tia dá boliiiinho!!
E os mais atrevidos acresecentavam (mas baixo):
Com uma tranca no fociiiinho!!
A maior parte das pessoas dava rebuçados (não sabem ate que idade eu disse rubeçados). Delirávamos com os chocolatinhos. Torcíamos o nariz quando as ofertas eram de facto bolos. E tínhamos nojo de morte de quando nos misturavam tremoços húmidos na saca dos doces. Chegando a casa espalhávamos tudo em cima de uma toalha estendida no chão e começávamos a contar, em competição. Doces às centenas e de lado o que não nos interessava. No bolso umas moedas tímidas, dos velhotes da aldeia que davam 50 escudos a cada um. E uma nota de passar a casa da avó.
Será muito estranho que amanhã uma adulta de 28 anos vá bater à porta das mesmas casa a pedir doces? Apetecia-me tanto...