Não me ajuda com a roupa. Nem me ajuda com a louça. Não me ajuda com as limpezas. Não me ajuda com a comida ou com as compras. Nem sequer me ajuda a arrumar nada. Tão pouco me ajuda a levar o lixo.
Não me ajuda. Ele faz. Porque a casa é dos dois. "Ajudar" pressupõe que estas tarefas fossem minhas e ele, benemérito, me desse uma mãozinha opcional. Ele faz tanto ou mais que eu - se for ele a contar faz mais de certeza porque ele é o mestre da desmultiplicação de tarefas.
Maria a enumerar a tarefa:
1. Fiz uma máquina de roupa.
Moço a enumerar a mesma tarefa:
1. Escolhi roupa suja do cesto.
2. Pus a roupa na máquina.
3. Coloquei detergente.
4. Coloquei amaciador.
5. Selecionei as opções corretas e carreguei no botão para começar.
6. Aguardei que a roupa lavasse.
7. Quando acabou, estendi-a.
E até vos estou a poupar (estendi meias, estendi camisolas, estendi calças...).
Ele não me ajuda, ele faz a parte dele. E eu não tenho "muita sorte" por isso. Garanto-vos que jamais teria "azar" porque outra coisa não aceitaria. Eu também não fui habituada às tarefas domésticas e aprendi a desenrascar-me, tendo de ganhar o hábito. Não nasci para dona de casa, tal como ele não terá nascido para fada do lar. É assim, porque é assim que tem de ser, uma vez que trabalhamos os dois full time. Faz um quando pode e o outro quando não pode.
Se eu me desenrasco melhor nalgumas coisas? Talvez. Por exemplo, corto legumes para a sopa enquanto o diabo esfrega um olho. Enquanto ele corta legumes para a sopa, dá-se o degelo de mais um glaciar.Mas fica a dica: não caiam na armadilha do "dá cá que eu faço" por não terem paciência para esperar ou para alguma coisa que fique menos perfeita. Às vezes, é só isso que eles (ou elas!) querem ouvir para se safarem de mais uma tarefa ingrata.
Sabem quando muda a estação e voltamos a trocar as roupas do armário? (Se têm um armário suficientemente grande para manter a roupa do ano todo dispenso ouvir. Se isso acontece porque são tão minimalistas que têm poucas peças ao todo, também.)
A regra normal e que tenho seguido nos últimos anos é: se não usei na última estação, dou. E se não tiver usado na última estação porque a peça esteve meses a fio no cesto da roupa por passar e eu nunca cheguei ao fundo?
AHAHAHAHAHAHAHAHAHAH! (estou a aproveitar que agora sei rir-me por escrito de forma correta para abusar da gargalhada).
Já foi há uns dias que li esta notícia mas há uma parte do artigo que ainda me faz largar a rir sem limites.
Parece que, segundo o bom do Quintino, uma das coisas que faz das mulheres portuguesas assassinas de relações é...(recostem-se que isto vai ser bom):
Não dividir as tarefas de casa. Isto porque cria um sentimento de desigualdade. Na opinião de Quintino Aires, isto faz com que o homem se sinta excluído da organização da sua casa e da sua própria vida.
Eu sei que vocês já os viram: homens tristonhos, a beber e a cair aos cantos por aí. Finalmente percebemos porquê: queriam ter sido eles a lavar a loiça. Provavelmente esses avistamentos ocorrem depois de um diálogo deste género:
Ela: Está tudo bem querido? Ele: Estou um bocado sentido contigo.
Ela: Então o que se passa? Ele: Sinto que me deixas de fora das tarefas domésticas...
Ela: E o que posso fazer para melhorar isso? Ele: Não sei...deixa-me por a carne a descongelar de vez em quando...coser uma peúga...esfregar a travessa da lasanha...limpar os vidros, ao menos, como vi fazer no Karate Kid, para ganhar músculo.
Ela: Desculpa, querido, mas isso é algo que eu gosto de fazer sozinha. Podes fazer outras coisa...ver futebol, criar um buraco no teu sítio do sofá...mas eu gosto mesmo muito de me matar a trabalhar em casa depois de me matar a trabalhar no escritório, está bem? É que é mais coerente...Se eu não estragar as unhas a pôr cera no chão, como é que justifico a conta da manicure? Ele: Tudo bem, tu lá sabes o que é melhor....(e sai de casa cabisbaixo)
Ai Quintino, não me amoles. Quem me dera a mim sentr-me excluída da organização da casa! Era um "viva a desigualdade!". Em todo o caso, eu divido as tarefas, mas não me parece que isso seja a bem da longevidade da relação (é mais da minha longevidade).
...quem nunca fez malabarismos para encaixar só mais aquele guardanapo no caixote do lixo e se afastou - quando percebeu perfeitamente que estava na altura de trocar o saco (e a tarefa lhe estava a calhar em sorte).