Ontem. O Moço saiu para apanhar o comboio até ao Dragão onde vai ver o jogo. Eu fico, que o bilhete de graça era só um. De borla até injeções na testa. Troco a roupa da rua por metade-pijama metade-roupa-de-ginástica (que devia chamar outra coisa qualquer visto que só tenciono rebolar os olhos). apanho o cabelo num nó alto e desfeito. Ponho uma máscara nos papos dos olhos e outra nos beiços (das de hidratar, não do carnaval). Auscultadores dos grandes nos ouvidos - dos grandes que não sei dos outros - para ouvir melhor uns vídeos de som baixo. Vejo-me no reflexo do tablet ainda escuro, olho por mim abaixo e penso: se ele voltasse agora a casa porque se esqueceu de qualquer coisa...matava-o do coração com o susto.
Todos os dias de manhã: Deus, que cansaço...Hoje chego a casa e não faço nada! Trato da comidinha, visto o pijama, e vai ser só sofá e séries. E dormir cedo!
Todos os dias à noite: Vou só arrumar aquilo e pôr a roupa a lavar. E dar ali um jeitinho. E preparo já comida para amanhã também. Oh...isto está tudo desorganizado, vou só tratar disto. Mas agora é que é: zombie mode. Não, espera, tenho de ligar o PC para enviar aquilo. Ah, já agora encomendo aquela cena que não convém esperar. Já que tenho o computador ligado vou um bocadinho ao blog. Como é que já é quase meia noite!!! Vou só ver um episódio da série e depois vou logo dormir. E agora vou só ler umas páginas e depois é logo dormir. Caramba, amanhã é que tenho de me deitar cedo...
Tem espaço para o cadeirão amarelo com que sempre sonhei (sempre = de há um mês para cá).
Posso ter aulas de salsa em casa.
Se quisesse (e note-se que não quero) podia ter vários convidados de pé na sala a conversar em grupos, a quem o Moço serviria canapés numa bandeja - de fraque.
Consigo abater as calorias de um Magnun a fazer circuitos de pé-coxinho à volta da sala (teoria a não comprovar).
Desvantagens:
O tapete que enchia a sala anterior aqui parece uma caganita e agora já gastei o dinheiro de o substituir no cadeirão.
Preciso de usar óculos se quiser ver TV...
PS.: Não é assim tão grande, creio até que o mundo continuará a dizer que é uma sala pequena, eu é que sou facilmente impressionável.
Uma coisa bem catita da casa nova é ter um aquecedor em cima da porta da casa-de-banho. Está bem, gasta energia que temos de ser nós a pagar, mas também é só um bocadinho de manhã e sabe bem que é um mimo.
Então, perguntam vocês, porque é que todas as manhãs tens passado frio para te despir para o duche, Maria?
(pausa para perguntarem)
a) Porque sou rija e as mulheres rijas não precisam de aquecimento externo.
b) Porque estou a fazer um esforço de adaptação natural ao clima do norte.
c) Porque logo no primeiro dia me esqueci do aquecedor ligado o dia todo e agora tenho de poupar.
Vocês desculpem-me o palavreado (e o sotaque emprestado) mas não estou capaz de por a coisa de outra maneira. Vocês lembram-se do dia em que me podiam ter cortado a goela porque abri a porta sem perguntar quem era? Pois bem, desta vez perguntei e não valeu de muito.
Eu explico. Cheguei a casa ao fim da tarde. Por agora estou sozinha em casa, o Moço ainda não se mudou, mas não me faz muita confusão que sei que ele há-de vir, vemo-nos com bastante regularidade e no geral sempre fui uma pessoa que gosta de estar sozinha (embora já não o prefira).
Enquanto fechava a porta de casa atrás de mim senti que algum vizinho abria a sua, não percebi bem qual. Ainda estou a pousar as coisas quando me começam a tocar à campainha. Perguntei quem era. Resposta? Mais tocar de campainha. E a pessoa desata também a bater à porta (com força). E a repetir com maus modos "abra a porta". Repeti a pergunta e a voz do homem (que pelo cabelo branco que o olho da porta me mostrou seria de idade avançada) repetiu a não-resposta. Tocar, bater, pedir - ordenar - que eu abrisse a porta sem dizer quem era. Ainda insistiu um bocado. Claro que não abri a porta a um homem arraçado de bruto que não me dizia quem era.
Ocorreu-me ligar à agente imobiliária que tem tratado connosco das coisas (na vez da senhoria) e que mora por perto. Sem lhe contar que tinha ouvido a porta de alguém a abrir, adivinhou logo que talvez fosse o vizinho. Liguei ao Moço que me disse a mesma coisa: devia ser o vizinho que não me conhecia e viu alguém a entrar na casa da frente sem saber quem era - só cá estou há uns dias.
Pois que fosse! Isso não melhora nada. Pode ser o vizinho e ser louco. Pode ser o vizinho e ter um cajado. Pode ser o vizinho e cortar-me a goela (outra vez este filme). Já me tinha dito a senhora da agência que os vizinhos da frente não eram para dar confiança que se metem muito na vida das pessoas (se bem que acho que aqui toda a gente se mete na vida de toda a gente, mais que na minha terrinha de origem que é bem mais pequena). E já me tinha dito o Moço que o vizinho da frente era mal-educado, que no dia das mudanças entrou pela casa adentro sem pedir permissão a ninguém e se pôs a ver...
Enfim, ninguém me pareceu preocupado. A da agência não correu para cá, como eu queria. O Moço desvalorizou que "eu podia bem com o vizinho" e qualquer coisa chamava a polícia. É que nem a Patrulha Pata ia acorrer ao pedido " venham que me está um senhor idoso a bater à porta". Ainda gozavam comigo. E eu feita estátua, às escuras em casa, para não chamar a atenção do vizinho.
Portanto já sabem: quando ouvirem falar na CMTV da jovem encontrada sem vida no seu apartamento ainda com caixas por arrumar, sou eu. Provavelmente não porque o sacana do velho me fez mal. Mas porque nunca mais saio de casa, que tenho de passar à porta dele para descer as escadas...estou oficialmente barricada e vou falecer de inanição. Mandem água e mantimentos. E qualquer coisa para eu recortar, porque a tesoura não sai do meu lado.
Não vos cheguei a contar. No fim-de-semana em que tinhamos basicamente de encaixotar toda a casa de Lisboa (sem falta) recusei qualquer ajuda. Nem era carregar as coisas, era só mesmo reuni-las. Quão difícil poderia ser? Muito.
Quando chegámos as 20h de Sábado e tinhamos esvaziado exatamente uma (UMA!) divisão comecei a entrar em pânico. Fui até à cozinha beber um copo de água e e quase lacrimejei a pensar nessa divisão - a mais temida - onde nem saberia por onde começar para não partir tudo.
Tenho algumas caraterísticas incompatíveis: sou muito independente e gosto de fazer as coisas sozinha. Por outro lado, não tenho paciência para nada detalhes (como acondicionar cada prato) ou esperar que as coisas que levem o seu tempo a arrumar...levem efetivamente o seu tempo. E tempo era coisa que nem sequer tinhamos. Creio que foi quando disse esta tolice inexequível em voz alta que o Moço me disse que tinhamos de pedir ajuda e mai'nada: Vamos deixar cá tudo e comprar as coisas novo.
Liguei ao SOS. A minha mãezinha. E de facto quem tem uma mãe tem tudo, mas quem tem a minha tem mais.
No dia 1 de manhã (é discutível chamar manhã àquela hora) olhei para os emails, na cama, no telemóvel, enquanto o Moço preparava o nosso primeiro pequeno-almoço de 2017 (é discutível chamar pequeno-almoço a uma refeição àquela hora).
Deparo-me com o email de um amigo a dizer: estive a um milímetro de te ligar a dar os parabéns. Depois da minha interrogação novo email: pergunta ao Moço sobre o que ele publicou no Facebook...
O que se passou foi o seguinte: ele adicionou o Moço no Facebook nessa semana e no dia 31 o Moço publicou uma foto da ecografia.
O que realmente se passou foi o seguinte: ele adicionou alguém que pensou ser o Moço no Facebook nessa semana e o no dia 31 alguém que não era o Moço publicou uma foto da ecografia.
A ecografia nem era de um bebé, era uma daquelas imagens a enganar em que de facto era o fígado e alguém a dizer que estava de parabéns porque estava tudo bem com as análises e estava preparado para a passagem de ano. Tipo isto:
Mesmo assim comecei o ano com um momento de "abananamento" por causa do meu amigo que 1) confundiu o Moço com outra pessoa qualquer e 2) não leu a publicação até ao fim à primeira. Hein?! Parabéns?! Quem é que engravidou quem? Moçoooooooo!