Sendo brutalmente honesta, compreendo que alguns "jornalistas" sacrifiquem um título de notícia - e portanto um pedacinho de reputação - por uns milhares de cliques. E digo que compreendo porque estão a fazer exatamente aquilo que o povo pede. Sabem o que escrever para cativar a audiência e usam-no em meios de comunicação cuja sobrevivência pode estar em risco, porque não vêem que podem haver outras soluções onde a qualidade de um texto se sobrepõe ao clickbait ou uma notícia com o propósito único de chocar (ou não lhes cabe fazer isso pois não gerem o meio). Fazem-no porque, enfim: têm medo de perder o emprego, porque os meios perdem visualizações, perdem anunciantes. E a estratégia mais fácil é esta.
Não serve de desculpa, mas é assim que vejo as coisas, friamente, pondo-me no lugar de um ou outro "jornalista".
Apesar disso, continuo a pôr jornalista entre aspas, porque esse ato não reflete a carteira profissional e sim um momento de desespero, de chamada de atenção. Um exercício de vale tudo a troco de nada.
A seu tempo essas estratégias deixarão de resultar. Ou então, como verdadeiramente temo, nunca deixarão de resultar. Porque somos atraídos pelo escândalo como as moscas pela luz. E por mais que se achem deploráveis algumas partilhas, haverá sempre muita gente a querer ver qual o pedaço de verdade num título enviesado.
Creio que há um momento decisivo naquela fase inicial das relações em que a coisa dá para o torto ou se encaminha positivamente. Regra geral está nas mãos do elemento feminino, mas isto traduz só a maior parte dos casos que conheço e não toda a realidade. Passo a explicar: depois daquela fase dos primeiros encontros começa a crescer de um dos lados a necessidade de rotular a coisa. Já se sabe que se entendem bem, saem com alguma regularidade e são felizes nesses momentos a dois.
Então ela (lá está, genericamente, mas pode não ser ela) começa a pensar que pode mesmo "ser desta". E não vê porque não se hão-se de chamar os bois pelos nomes. Ou apresentar os bois à manada (leia-se amigos, pelos menos), assumindo uma relação. É raríssimo que os dois cheguem a este momento de realização ao mesmo tempo. E é aqui que a porca torce o rabo - para continuar nas metáforas do reino animal.
O facto de o outro ainda não estar preparado para o rótulo "namoro" e querer simplesmente que continuem "a sair" ou não querer ainda apresentar-vos a amigos ou família por medo que depois a coisa dê para o torto e tenha de se retratar, não significa necessariamente que não ache também que o futuro dos dois pode ser risonho. Significa só que - lá está - têm ritmos diferentes. Normalmente é o homem que não se sente preparado para assumir que perde aquilo que chama de independência e liberdade de escolha (sem racionalizar que é uma escolha e que continua a ser uma pessoa livre em muitos sentidos), mas pode ser ela, ou qualquer das partes, sem género definido - há um mais apressado, outro mais cauteloso.
E aqui dá-se o tal momento make or break - ou vai ou racha em bom português. Vai tudo depender de como a pessoa que já "chegou lá" exerce pressão e de como a pessoa que ainda está a levar o seu tempo encaixa essa pressão. E a primeira pode ser particularmente impaciente, agressiva ou histérica a comunicar o seu estado de situação, sem perceber que isso não reforça certezas do outro lado, só desperta mais dúvidas. Tal como o segundo, o mais cauteloso, pode reagir com compreensão ou fugir de medo, sobretudo se for uma pessoa que sempre evitou o compromisso e estava a considerá-lo pela primeira vez, ou tem traumas anteriroes - daqueles que não são só desculpas.
O meu conselho é que o primeiro comunique com calma e seja paciente. E que o segundo tente ver para além do tom com que as intenções do primeiro possam ser demonstradas. Este momento pode ser bastante tenso e ditar uma quebra que até podia não estar escrita. Normalmente é o momento em que isso acontece. Um já não atura que não seja uma relação assumida. Outro não quer ainda assumir a relação.
Nuns casos deve-se ao tal ritmo diferente. Noutros casos, a rotura que se dá neste momento é mesmo porque tinha que ser. Porque efetivamente o mais apressado nem sabe bem o que quer e só quer qualquer relação. Ou porque o mais vagaroso de sentimentos, de facto não está para compromissos e anda a fazer malabarismos com o coração da outra pessoa. E como identificar isso? Vale a pena ser paciente ou estamos a perder tempo? Isso já é história para outro texto, diria.
Nada nesta potencial nova rubrica (querem que seja uma nova rubrica?) é científico ou estatístico, é tudo fruto da minha experiência, das pessoas que me são próximas e do que vou retirando de outras coisas que vou lendo e sabendo. É a minha singela opinião, que pode ser simplista ou errada - e descontextualizada sê-lo-à de certeza pois cada caso é singular.
Acho fascinante como as coisas podem tomar um sentido diferente, consoante quem as ouve. Sobretudo quando falamos de pessoas de extremos, com síndrome de vítima ou desprendimento abençoado. Pode mesmo nenhum dos recetores da mensagem dar-lhe a mesma interpretação com que alguém a disse. Andamos aqui todos a conversar e ninguém ouve a mesma coisa. Que interessa o acordo ortográfico, se não falámos nunca a mesma língua?
Caramba, a vida tem piada. Às vezes é hilariante. Outras, só uma má anedota.
Fiquei chocada no dia em que percebi que a poesia não tinha de rimar. Era pequena e assumi que era coisa de gente sem talento. Eu a esforçar-me por encontrar palavras que acabassem em som igual, sem ser -ão ou-ar, os mais vulgares, para escrever os meus poemas no Livro em Branco que a minha mãe me tinha oferecido, e outros, gente famosa, intitulada de escritora, a não se darem ao trabalho? Era muito atrevimento. Muita falta de imaginação. Isto pensava eu, a saber nada da vida.
Hoje sei que a poesia não só não tem de rimar, como não precisa sequer de palavras. Às vezes está num gesto. Ou dentro dos teus olhos.
Terá a ver com os quilates efetivamente? Porque vejo aí muito passatempo para ganhar dessas bijuterias mais finas que rimam com Tchaikovsky, mas só penso: se as ganho num passatempo, onde está o significado? Que me interessa um colar muito elegante ou um anel muito brilhante, uns brincos que se penduram muito bem na orelha, se não contam uma história que não seja "o random.org escolheu-me porque eu era o nº265". Será que "diamonds are a girl's best friend" não porque a esmeralda vale muito, mas porque vale muito a ação que veio com ela ou o episódio que marcou a sua compra?
Para fazer o teste, convinha que agora viesse uma marca upa upa oferecer-me uma pulseira com valor de 4 dígitos e eu depois contava tudo sobre o que sentia. À falta disso vou continuar a desconfiar que sim, que o valor das coisas vai bem além do que o olho consegue ver. E que um pacote de açúcar Delta roubado do local onde bebemos o café do primeiro encontro continua a valer mais.
Se há coisa que eu sei (e aplico quando a paciência me deixa) é que a guerra só tem lados perdedores. As quezílias também deviam ter placas a dizer "não alimentar os animais". Há lá coisa mais desarmante que responder a fúria com carinho? Que oferecer um tom calmo a quem nos gritou? Que oferecer ajuda a quem nos ofendeu? Que mostrar que somos pessoas melhores que a primeira?
Não há.
Não só a nossa conciência permanece tranquila e a razão do nosso lado, como podemos efetivamente começar a pôr de parte tudo o que é acessório (o tom usado, o apuramento de responsabilidades, a ofensa sem propósito, os erros do passado) e passar depressa à solução que trará paz de espírito a todos.
Apesar de “calma” ser uma das palavras que menos gosto que me atirem tenho-a repetido na minha cabeça muitas vezes. Em teoria, quando o Moço viesse para cima, a rotina ia estabilizar. Na prática, a loucura continua. Tempo para parar quieta numa cidade, precisa-se. Família e amigos estão espalhados pelos quatro ventos. Aniversários são como cerejas, vão uns atrás dos outros e isto só para mencionar a parte mais leve da coisa. É verdade que toda a gente está ao alcance e as viagens não são assim tão compridas, mas o que não mata, mói (e se me permitem o aparte também mói a carteira #gobrisa).
E se não parar em Espinho é um problema, querer receber cá toda a gente é outro. Quero mostrar o nosso ninho novo a toda a gente, os encantos e os recantos gulosos da nova cidade. Mas não há tempo para tudo decentemente. Não posso fazer planos porque depende sempre de A, B, C pessoas e D, E, F eventos com G, H, I possibilidades.
E eu dou por mim a querer fazer tudo ao mesmo tempo. E despachar visitas como se estivesse a despachar senhas no talho. E não quero. Quero saborear. Quero ter paciência. Quero gostar de ir e gostar que venham, sem pensar que estou só a cumprir calendário. CHECK ao jantar, CHECK à visita. Quero não pensar que se tenho um dia livre podia estar a aproveitá-lo para marcar outro CHECK nas coisas que queria fazer e nas pessoas que queria visitar ou trazer.
Preciso de parar. Respeitar-me e ao meu tempo. Pensar que o que não acontecer agora, acontece depois e que não faz mal que eu não saiba quando. O dia não tem de ter mais horas e a semana não tem de ter mais dias. Eu é que tenho de ser mais paciente. Se eu me esquecer, vão-me lembrando?
A Maria que escreve é mais meiga. Confessa ao teclado ou à caneta coisas que jamais diria em voz alta. Tem menos medo de se expôr. A Maria que fala tem sempre resposta para cá da ponta da língua, a cuspir uma espécie de sarcasmo diplomático, que entretém e convence quem ouve. A Maria que escreve também usa o humor mas tempera o grau de acidez. A Maria que fala também consegue ser doce, mas tem vergonha de usar algumas palavras, como se ditas é que elas ficassem registadas para sempre.
A Maria que escreve usa a terceira pessoa para falar de si e das coisas que nunca quer esquecer. A Maria que fala acha isso parolo (até em quem escreve). É mais airosa e desapegada.
A Maria que escreve quer deixar assente o que aconteceu e quando aconteceu para ter a certeza que um dia tem uma base de dados da sua vida, como se em 2023 fosse preciso saber em que dia esteve triste e porquê a 14 de Abril de 2017. A Maria que fala só quer reler as coisas boas para não recuperar sentimentos desnecessários no seu peito. A primeira revolve-os, apalpa-os, descasca-os, rói-lhes o caroço. A segunda ignora-os tanto quanto pode. Deita-os fora. Sacode a cabeça para afastar o assunto.
São essencialmente a mesma, mas olham de lado uma para a outra. Às vezes com desprezo. Outras vezes, a piscar o olho. Sobre uma chávena de chá.