O amor está nos detalhes #44
Ele nasceu a 15 de Março. Seis dias depois, a 21 de Março desse mesmo ano, nasci eu. E diz ele:
"Só conheci a Primavera quando tu nasceste."
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Ele nasceu a 15 de Março. Seis dias depois, a 21 de Março desse mesmo ano, nasci eu. E diz ele:
"Só conheci a Primavera quando tu nasceste."
1
Cair um raio em cima da minha casa.
Nunca tive medo de trovoada, até porque tinha noção que quando ouvia o barulho forte, já a desgraça de podia ter dado, mas lembro-me que isto era uma coisa que me assustava genericamente, mesmo que não houvesse pingo de chuva. Estamos protegidos? Dava muita importância ao pára-raios que morava no topo da igreja da aldeia e que me tinham explicado que assimilava o sacanita do raio por uma boa extensão de território. Mas quanto? E aquele espetinho seria sificiente se o raio fosse forte?
2
Atender o telefone.
Num tempo em que o identificador de chamadas não existia (pois é crianças, isso aconteceu e não foi assim há tanto tempo - a não ser que me queiram chamar velha e faço logo cara de mau-mau-maria), a pior coisa que me podia acontecer quando estava sozinha em casa era tocar o telefone. Ou, não estando sozinha, que os meus pais me mandassem atender por estarem ocupados (a minha mãe com o jantar, o meu pai com o zapping). Além disso, mesmo que fossem amigas, o telefone não se levava para o quarto e tinha de ficar a falar com toda a gente a ouvir #notcool. No entanto, mesmo com identificador de chamadas e de auscultador portátil a coisa nunca me entrou completamente. Falar com as amigas era mais por carta e tinha mais ou menos o uso que os jornais têm agora: só falavam do dia anterior, mas era mais aprofundado.
3.
Entrar em combustão espontânea.
Não sei onde foi que vi ou li que as pessoas podiam entrar em combustão espontânea. Dar-se ali um fenómeno qualquer, com determinadas condições reunidas e PUFF uma 'ssoa podia desatar a arder e finar-se, derretida. Na altura não havia Google e não sei se isso seria bom ou mau. Não pude ler mais sobre o assunto, então fiquei com a ideia que podia acontecer e nem podia ver o que fazer para evitar. Logo eu que nunca fui amiga de beber 1,5lt de água por dia e certamente isso me enquadrava no grupo de risco. Tolices de uma criança que via demasiados filmes e episódios de X-Files. No entanto, agora que escrevo este post na era do Google, também vou escolher nem ir ver se é verdade ou mito.
Estava tão cansada que até vesti de pijama duas peças que não combinavam nem entre si, nem com as meias.
Mudei-me. Na passagem de ano estava fiadinha que nunca sairia da capital até ao fim dos meus dias (citação própria: tenho os pulmõezinhos habituados a esta poluição) e em Fevereiro já estava a morar junto a uma arejada praia do Norte. Reencontrei pessoas contra todas as probabilidades. Li muito menos e escrevi muito menos. Tive mil vezes vontade de ler mais e escrever mais e melhor, mas raramente foi tempo disso e o blog esmoreceu. Mesmo assim não falhei no meu compromisso de um post por dia desde 11 de Julho de 2014 quando este blog ganhou vida. Pendulei no Alfa. Fui surpreendida e conferi que continuo a não gostar de ser a última a saber das coisas. Fiz duas viagens-de-cair-o-queixo lá fora, mas passei muito mais horas a viajar em estrada nacional para ver amigos e família - sempre com o meu companheiro da viagem da vida que é o Moço. Aprendi a valorizar o tempo como nunca antes. Confirmei que a distância não é mais que um filtro que só deixa de lado quem é acessório - e que, por múltiplos meios, quem quer estar presente na nossa vida, está presente. "Casei" uma boa amiga e desejei secretamente que fosse a última a meter-me num vestido de dama de honor. Estreei-me nas salas de teatro do Porto (calma, sempre do lado do público) e vi um concerto fantástico com a minha irmã nos jardins de Serralves. Enfrentei os fantasmas e voltei a conduzir. O meu sobrinho aprendeu a dizer com perfeição "tia, amanhã outra vez?" quando me vou embora porque tem de ser. Ganhei mais "sobrinhos" e fiquei a ansiar por outros que estão por vir. Repeti mais vezes do que nunca que "não, ainda não era a nossa vez". Faltei a aniversários e festas, mas nunca faltei à minha palavra. Comi muitos brunches em sítios novos e repeti vezes sem conta as costelinhas do Papagaio. Estraguei a minha média de idas ao cinema mas descobri um onde irei muitas vezes. Ocupada como nunca, comprei praticamente todas as prendas de Natal até 1 de Novembro. Voltei a enviar postais porque as SMS não lhes chegam aos calcanhares. Não fiz planos para 2018.
A vossa participação estonteante no Instagram valeu quatro perguntas inteiras sobre o meu Natal. O que me leva a crer que a maior parte de vós não quer saber coisíssima nenhuma sobre a minha celebração do 25 de Dezembro - e respeito muitíssimo esse facto porque eu também não sou bisbilhoteira*. Vamos sem demora às respostas!
@cilasilva1981 pergunta se gosto mais de bombons que caras de bacalhau.
Perguntar a uma lambona como eu se prefere qualquer coisa que engorde e vicie o cérebro em açucar a peixe que se coze é como perguntar ao Papa se costuma rezar. Em boa verdade, a minha estimada Cecília pegou na pergunta que achei que a minha mãe me faria (se é este ano que como caras de bacalhau com os adultos). Na noite da consoada comemos bacalhau, mas normalmente o meu é com natas, porque já vem sem espinhas (com a desvantagem de ter de ser eu a fazê-lo).
@desarumada_blog pergunta em que cidade vou passar o Natal e se já o passei longe da família.
Vou passar o Natal a Leiria. Desde pequena foi lá com os meus pais, irmã, avós maternos e pack tios + primas (que depois emigraram para França e a dinâmica da festa alterou-se um bocado). Passei duas vezes em Lisboa, quando já estava com o Moço (a minha outra família) e ele estava a trabalhar no Natal ou na véspera, mas os meus pais, irmã e avó vieram passar connosco. Também nos últimos anos dividi o Natal entre a minha família em Leiria e a dele em Vila Real, mas a consoada - que para mim é o verdadeiro Natal - foi sempre em Leiria. Não concebo a consoada sem os meus pais e a minha irmã e nem quero pensar numa altura em que algum deles não esteja no meu Natal porque eles são o meu Natal.
@umacartaforadobaralho pergunta quais são as minhas tradições natalícias.
Tenho muitas e poucas se perderam com o passar dos anos. Cozinhar em conjunto durante a tarde. Enfeitar as cabeças com chapéus de Pai Natal e chifres de rena. Teatrinhos, jogos e interlúdios musicais na espera pela hora certa. Sortear o nome da pessoa que tira a primeira prenda da árvore de Natal. O longo ritual de abertura de prendas (nem que seja todas meias) em que os mais novos (mesmo que isso signifique entre os 20 e os 30), à vez, tiram cada prenda, lêem de quem é e para quem é, e todos assistimos à revelação do que está no embrulho. Dormir com o pijama recebido nessa noite, mesmo sem o lavar. Uma prenda mais pequena no sapato na manhã seguinte, mesmo muito anos volvidos do tempo em que acreditávamos no Pai Natal (se é que alguma vez acreditei).
*Não sou bisbilhoteira, mas sou curiosa. Não deixem de partilhar comigo a resposta às mesmas perguntas. Sobretudo se também partilham alguma destas tradições comigo!
- Estás especiamente gira hoje.
Resposta do resto do mundo:
- Que disparate, não digas isso.
Resposta de Maria:
- Eu sei, o vermelho fica-me super bem!
#takewhatyoucanget
Uma amiga de faculdade veio falar comigo. Vai lecionar umas disciplinas na escola onde andamos, está um pouco à nora porque vai direta do estrangeiro para lá, sem hipótese de preparação. Contactou-me para saber se eu tinha alguns apontamentos, qualquer coisa que lhe servisse de orientação só para começar que pudesse enviar digitalmente, já que eu era tão organizada.
Disse-lhe logo: não contes com isso, que eu sou daquelas que na altura se aplica, mas depois arruma para trás e esquece, portanto não terei organizado até ao fim as coisas. Além disso duas mudanças de casa depois...dificilmente encontrarei alguma coisa. Prometi que quando chegasse a casa procuraria, ela que me lembrasse.
Cheguei a casa e dirigi-me à caixinha que tem CD-Roms antigos. Entre os outros todos (alguns nunca usados) três surgiram: 1º ano de curso, 2º ano de curso, 3º ano de curso - título Disciplinas e Apontamentos.
Eu tenho-me em muito boa conta, mas não me sabia tão boa menina.
Agora resta saber como lhe vou passar o material, visto que já não computadores com leitor de CD cá em casa!
À boa maneira de uma blogger que se ataranta com as tendências - a menos in do pedaço, há quem diga - esqueci-me de me dar uma palmadinha nas costas pelos 3 anos de blog, (não) comemorados no dia 11.
Parece pouco. Talvez porque publico todos os dias, às vezes mais de uma vez, e isto de 3 anos significa 2.300 posts (este é o 2.301) mas já não me lembro de como era não ter este blog, não vos ter desse lado a ler. Tão pouco sei onde encaixei tempo para isto tudo quando o que não me sobra nunca é tempo. É a prova, posso supor, que quem caminha por gosto não cansa (odeio correr).
Quase meio mihão de pessoas diferentes passou por aqui. Umas entraram só uma vez, muitas voltaram algumas, outras voltaram sempre e algumas reconheço pelos nomes. Um par delas são amigas para sempre.
Mesmo sem me levar muito a sério e escrever dos dedos para fora, sem respeito a todas as boas práticas do marketing digital que até conheço, o blog cresceu enquanto a minha vida mudava e fui feliz em palavras digitadas. Criei recordações e
Prontos para mais um ano de palavras?
1. "Como te correu o dia?"
Tenho alergia a resumos do dia. Já vem dos tempos de escola, quando ainda nem tinha pousado a mochila e já me era requerido que falasse. Primeiro: não sou da marca de falar sobre a minha vida para a processar (talvez escrever sobre a minha vida). Depois, se houver algo relevante a dizer, hei-de chegar lá a meio de uma conversa devidamente contextualizada - ou se for demasiado relevante não preciso que ninguém me pergunte por isso que eu própria hei-de dizer logo. Terceiro: Obriga-me a um esforço mental que não aprecio para rever o dia que a) se correu mal não quero fazer, b) se correu bem tenham calma que já la vou nos meus próprios termos ou c) se não teve nada de relevante me força a admitir que foi um dia desperdiçado da minha existência. Conselhos para lidar com o assunto se quiserem que fale mesmo sobre o dia: primeiro mandem-se sentar e alimentem-me.
2. "Mas já experimentaste [determinada coisa básica] para resolver esse problema" (por exemplo, se o computador apresenta um problema, perguntarem-me se já o reiniciei)
Resposta provável no tom mais irónico de que sou dona: Ah, não! Porque sou estúpida, é um problema que eu tenho. O meu cérebro não faz sinapses. De forma que a coisa mais óbvia não me tinha ocorrido. Mas também não posso ir já tentar isso, porque neste momento estou muito agradecida por te ter na minha vida, ó pessoa iluminada, meu salvador, e vou a correr construir-te um altar por me resolveres a situação, mas sobretudo pela oportunidade de te ouvir chamar-me imbecil.
3. "Tem calma."
Esta não é específica da minha pessoa. Funciona com qualquer mulher e o processo é o seguinte: a pessoa pode ou não estar enervada > usa-se a frase > a pessoa perde a cabeça. Não sei em que escola andam os homens, onde lhes ensinam que se nos mandarem ter calma, magicamente todos os nossos problemas se resolvem e ficamos SUPER aliviadas.
Expectativa:
- Oh não, o meu piriquito favorito morreu!
- Tem calma.
- Uff, boa, agora estou fixe. 'Bora enterrar o piriquito.
Realidade:
- Olha, parti uma unha.
- Tem calma.
- Ok, eu nem estava ralada por ter partido a unha, que até vou à manicura logo, mas tu achas que tens necessidade de me pedir calma? A mim?! Euzinha?! Eu estou MUITO CALMA e agora vais explicar-me porque é que achas que não!!!!
A Maria que escreve é mais meiga. Confessa ao teclado ou à caneta coisas que jamais diria em voz alta. Tem menos medo de se expôr. A Maria que fala tem sempre resposta para cá da ponta da língua, a cuspir uma espécie de sarcasmo diplomático, que entretém e convence quem ouve. A Maria que escreve também usa o humor mas tempera o grau de acidez. A Maria que fala também consegue ser doce, mas tem vergonha de usar algumas palavras, como se ditas é que elas ficassem registadas para sempre.
A Maria que escreve usa a terceira pessoa para falar de si e das coisas que nunca quer esquecer. A Maria que fala acha isso parolo (até em quem escreve). É mais airosa e desapegada.
A Maria que escreve quer deixar assente o que aconteceu e quando aconteceu para ter a certeza que um dia tem uma base de dados da sua vida, como se em 2023 fosse preciso saber em que dia esteve triste e porquê a 14 de Abril de 2017. A Maria que fala só quer reler as coisas boas para não recuperar sentimentos desnecessários no seu peito. A primeira revolve-os, apalpa-os, descasca-os, rói-lhes o caroço. A segunda ignora-os tanto quanto pode. Deita-os fora. Sacode a cabeça para afastar o assunto.
São essencialmente a mesma, mas olham de lado uma para a outra. Às vezes com desprezo. Outras vezes, a piscar o olho. Sobre uma chávena de chá.
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