Lancei o desafio e vocês aderiram. Todas as vossas questões e as minhas respostas estão na zona de destaques do Instagram @mariadaspalavras, mas creio que algumas merecem uma reflexão mais cuidada, pelo que vou responder aqui a um Best Of. Prometo que a seguir não se fala mais deste 6º aniversário, até porque começo a sentir que lhe dei muito mais importância no blog do que na vida real.
Aí vão elas.
Como se conheceram?
Temos um amigo em comum. Amigo dele de infância e meu da faculdade (dos dois para a vida). Já nos tínhamos cruzado uma ou duas vezes à conta disso, mas sem dar grande atenção um ao outro. Na passagem de ano de 2012 para 2013 decidi diversificar: passei o fim-de-semana com o meu grupo de amigos do costume e depois peguei em mim e fui com esse meu amigo juntar-me ao grupo dele para a noite do “revelhão”. Foi aí que de facto o conheci – que falámos enfim, que nos vimos.
Como é que ele te atraiu?
Lata incrível da parte dele (um vaidoso com a mania que é sedutor) e provocação mútua. Ele até é bem jeitoso, mas tenho a dizer que, nestas coisas da atração, a confiança é efetivamente 90% do trabalho.
Qual foi a pior fase da relação?
Não consigo dizer uma em particular ao género: foi no ano 3, de janeiro a março quando a lua de Saturno estava em Marte. Sei que as piores fases foram (e são) sempre quando um de nós está em stress com algum fator externo à relação e acaba por não ter paciência para o outro. A coisa resolve-se quando se resolve a crise externa – ou quando eu deixo de ser casmurra e partilho o que me incomoda.
Qual é o segredo (para quem já não acredita em relações)?
Não pode ser esse cliché da comunicação (apenas) porque eu sou pior que um monge budista com voto de silêncio quando há coisas que me incomodam. Engulo as palavras todas até não poder mais (ou para sempre).
Acho que parte do segredo está na base. Temos de estar bem connosco para podermos estar bem com outra pessoa. Aliás, temos de estar bem connosco para escolhermos a pessoa certa: que nos ama, respeita e nos dá prioridade. Sem isso, ficamo-nos por menos do que merecemos e inevitavelmente a relação não funciona.
Depois, há uma escolha que se faz todos os dias. Não é só no dia do “queres namorar comigo” (claramente em desuso), mas em todos os outros dias a seguir a esse, ainda que 20 anos tivessem passado, que temos de alimentar a relação e continuar a escolhê-la.
Não vão casar?
Nunca fiz questão disso. Aliás, muita coisa no conceito de casamento me incomoda (a festa, não o compromisso). Um dia podemos falar melhor sobre isso. Admito que talvez um dia se assinem papéis, por algum aspeto prático, mas não preciso da celebração nem a quero, para ser honesta. Ele já teve o desejo de casar, sim, juntar a família e amigos e tuditudo, mas creio que consegui corromper esse sonho...trocando por viagens, que é uma coisa que temos mais em comum. Afinal, já foram 12 em seis anos, contando só as que envolvem avião. E não me consigo fartar.
E bebés?
Este tema dá pano para mangas. Não o tema em si, porque esse é obviamente nosso e dá para as mangas ou para os punhos ou para a peça de roupa que nós quisermos. Mas o facto da pressão brutal que se coloca nos casais ser uma coisa estúpida e mal pensada. Mais do que as perguntas: as cobranças. E se andássemos a tentar há seis anos? Como se sentiriam as vozes do “acho que está na hora de terem um bebé”. Tenho um texto inteiro sobre isso, que só não publico, porque sei que vou ofender pessoas.
2. Assumimos que vamos jantar fora, mas a coisa não fica marcada.
3. Entretanto oferecem bilhetes para a antestreia de um filme no cinema e mandamos à fava o jantar para ir ao shopping.
4. Há problemas com os bilhetes e no fim da tarde ficamos sem programa.
5. Arranjamos um restaurante de última hora com o conselho de um amigo meu que sabe onde se come bem aqui perto (o TripAdvisor).
6. A caminho peço para por na RFM (eu nunca quero ouvir rádio nenhuma) e ele assume que eu encomendei alguma dedicatória quando na verdade queria ouvir A Pipoca Mais Doce que estava lá.
7. Chove a potes e o carro fica longe porque não há estacionamento conveniente.
8. O restaurante tem Sport TV e, portanto, divido as atenções do Moço primeiro com o Sporting e depois com o Porto. Ainda por cima o meu Sporting empata e o Porto já está a dar 2-0 quando saímos.
9. A melhor coisa do dia é sem dúvida a comida. Babo-me à Marcelo só de pensar na vitela de comer à colher (mas o bacalhau também estava divinal) no Mesa com Tradição, em Gaia, que vai fazer parte da nossa lista de regulares, de certeza.
10. Até estamos bem os dois,mas repetimos vinte vezes que temos de lá levar o X e o Y.
11. Chegamos a casa enfartados e adormecemos no sofá (ok, isto fui só eu).
Já temos mais anos de relação do que a validade de um passaporte nacional ou a garantia de um eletrodoméstico. Aliás, quando começamos a namorar, ainda era possível arrendar um T1 em Lisboa por 360€, acreditam? Juro, morava num.
O ano 13 foi de sorte e encontrámo-nos. Podia não ter acontecido. Podia mesmo. Só que naquele dia, escolhi aquele lugar. Não acredito no destino, acredito em escolhas.
Antes disso, eu variava todos os dias entre o "não preciso de ninguém" e o "mas gostava". Ainda hoje não preciso de ninguém, mas gosto de o ter comigo. Temos desencontros, marranços e discussões, mas valorizamos mais as gargalhadas, a cumplicidade e o carinho. Já disse? Acredito em escolhas.
[No Insta Stories @mariadaspalavras está hoje lançado o espaço aberto para perguntas e respostas sobre nós e sobre relações. Não deixem de fazer a vossa questão: bem profunda, bem original, bem parola ou bem embaraçosa, sem medos. Responderei por lá e aqui no blog.]
A propósito de andar a recordar a rubrica O Amor Está nos Detalhes no Instagram, tenho recebido muitos comentários de pessoas que acham emocionante e exemplar a nossa relação. Isso provoca-me um certo medo de dar uma ideia desfasada da realidade ao destacar os melhores momentos (ou os mais tolos). Sim, aqueles momentos aconteceram. Sim, somos felizes juntos. [Mas.]
Nunca começarei uma rubrica no blog chamada: "Dois dedos de discussão", ou "O ódio está nas coisas mesquinhas", mas certamente teria conteúdo para alimentá-las. Discutimos, claro, e há dias (ou horas) em que não nos podemos ver. Dizemos coisas injustas e somos bestinhas (vá, sou mais eu).
Então se todas as relações têm os seus altos e baixos, como sei que vale a pena enfrentar as agruras, pelos bons momentos? Onde se traça o limite do que é uma boa ou uma má relação? Se todos os casais discutem, quais são as quezílias normais e as inaceitáveis?
Para mim, a resposta é esta:
As nossas desavenças não se devem a problemas intrínsecos. Não se devem a abusos, falta de confiança mútua ou dúvidas quanto ao sentimento. Ele nunca me faltou ao respeito. Eu nunca ponho em causa que posso confiar nele. Eu nunca duvido se ele gosta de mim. E vice-versa. Discutimos sobretudo por ninharias, sobretudo em dias que os fatores externos nos tiram a paciência para tudo. Ou discutimos coisas sérias, nossas, sem nunca por em causa respeito, confiança e amor.
Discutir fará sempre parte de uma relação (das minhas, pelo menos). As pessoas com quem mais discuti na vida, se tirarmos o Moço, são os meus pais e a minha irmã, pelo que só posso tirar a conclusão que o carinho e o apoquentamento andam sempre de mãos dadas, numa ironia desgraçada. As pessoas que melhor nos fazem, junto de quem sentimos um amor incondicional, são aquelas com quem mais nos sentimos tentados a baixar as defesas, a desativar filtros, a esticar as cordas.
A conclusão, se é que pode haver alguma, é que vale a pena quando as discussões não nos fazem duvidar que continuaremos a estar ali um para o outro.
Verdades universais não há: esta é só a minha verdade.
Ora bem, eu e o Moço, sim senhor, cinco anos e ainda estrada a ver-se pela frente, extensão de garantia, nada de trocas aos 100 mil quilómetros, apesar de algumas avarias menores, várias revisões obrigatórias e todos os seguros abrangendo terceiros em dia. Agora, se eu tivesse de dizer que nos separamos um dia, tenho a certeza da razão.
1) Temos níveis de ambição diferentes?
2) Só em caso de traição.
3) Ele tem bicho carpinteiro.
É claramente a última hipótese. Eu até poderia ser adepta do perdão se ele me traísse com alguém que me fizesse compreender bastante bem a tentação da carne (de Sara Sampaio para cima, entenda-se, portanto até podia ser caso para bater palmas e largar um sim senhor!), mas jamais me conformarei com a falta de sossego deste homem.
Vídeo que captei do moço numa noite relaxada a ver televisão.
A sério, a gelatina Royal inspirou-se nele para criar a inconstância da gelatina. O saltitão foi um brinquedo inventado por um observador que estava no parque infantil a vê-lo quando era criança. Ele terá sido o bebé mais insistente, se não o primeiro, a pontapear a mãe! O termo "irrequieto" entrou no dicionário por causa dele (e dos caracóis no Alentejo) e o novo acordo ortográfico surgiu por acaso no meio de uma discussão sobre um novo termo que exprimisse mais movimento do que "irrequieto" que pudesse qualificar o Moço.
Enquanto dizem: "o rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia" já ele alisou o cabelo, coçou um pé, ajeitou o cinto, mudou de posição, trocou o canal na TV, assobiou, deu um murro no peito, tossiu e andou ao pé-coxinho. Uma coisa de cada vez, que continua a ser um homem que obedece ao cliché da falta de multitasking, apesar de conseguir dançar a lambada enquanto lê um livro.
Que faço eu, uma lesma inamovível do pior, que só quer sossego, face a esta problemática? Têm sugestões que não sejam drogas leves ou fármacos fortes?
Já foi há mais de cinco anos que te adicionei e a partir daí nunca mais deixámos de fazer likes um ao outro. Há mais de cinco anos que as minhas melhores fotos têm a tua tag. Há mais de cinco anos que és o meu destinatário de emails favorito.
Contigo cresci: dupliquei o número de seguidores quando os teus amigos se tornaram meus e o grupo da família no Whatsapp são afinal dois. Contigo aprendi a experimentar coisas novas: passei a colocar fotos de dois pratos no Instagram. Contigo vivi: os melhores pontos do meu Google Maps, piquei-os contigo e fizemos thumbs up a centenas de lugares novos, mesmo quando discordamos nas reviews. Contigo aventurei-me: lembras-te quando ignorámos o radar do Waze? Contigo partilhei: tantas receitas da #comidafit.
Não imagino outro como meu parceiro da conta de Netflix, ou que me deixasse ter uma lista no seu Spotify. Quero subscrever o Amazon Prime contigo. Quero ter bitcoins tuas. Faz-me uma menção.
Serás sempre o Favorito dos meus contactos do smartphone. Eu estou pronta para nunca deixar de ser a tua.
Não sou de sentir saudades (não sou mesmo). E vivo bem sozinha. Acredito que sou ligada à família, que me mantenho perto dos amigos (e a distância pode ser encurtada de muitas formas) e que fico com o Moço por opção. É uma escolha, não uma necessidade. Porque me basto e sozinha me bastaria, isolada do mundo, se assim tivesse de ser.
Não preciso de ninguém, digo eu para mim o dia todo. E depois deito-me e aninho-me nos braços dele, senão a noite é só escuridão.