Não se apalpam. Não podemos pegar numa e atirá-la. Não podemos misturá-las na água e fazer com que alguém as beba para ficar melhor. Não as podemos ver quando as dizemos, nem as podemos roubar quando as ouvimos de forma a ficarem só para nós. Não lhes tocamos - quando muito tocamos no papel onde moram. São pouco importantes, são só palavras, não têm nada dentro, fomos nós que as inventámos e sem nós não eram nada. São pontos que formam traços, que formam sons, que formam significados. Mas não existem como existe uma maçã, à parte da nossa vontade. Não as roemos, não lhes tiramos o caroço, não deixamos cair uma e quando vamos a ver, nesse sítio cresceu um discurso. Não nos batem num braço e fazem uma nódoa negra. Sozinhas, soltas, sem nós, se não as ouvirmos, se não quisermos saber delas, não valem de nada.
Mas ferem. E acalmam. Separam famílias e juntam amores. Contratam e despedem. Compram a paz e a guerra. Mudam-nos. E mudam o mundo. Esses pontos, que formam traços, que formam sons, que formam significados. Que sozinhas, soltas, sem nós, se não as ouvirmos, se não quisermos saber delas, não valem de nada.
10 anos em Lisboa a adaptar-me a dizer ténis em vez de sapatilhas para não me cansar com as discussões infrutíferas "sapatilhas são para a ginástica" VS "ténis é uma modalidade". Finalmente consigo. E a seguir? Mudo-me cá para cima e tenho de reaprender a dizer sapatilhas para não ser ostracizada outra vez.
*sim, fui eu que inventei. Sim, é aplicável para além do futebol. E sim, a minha aposta é que ganhamos o Europeu a empatar os jogos todos. E não, não me importo.
Como é que uma palavra tão cheia de ritmo e de dança nas sílabas, que parece que tem toques de tambor, que abre o "a" como quem fala de sotaque brasileiro e descomprometido, e pisa passos de samba com o barulho dos saltos, traduz o mesmo que "taciturno"? Como é que há palavras que combinam tão pouco com os seus significados? Peço desculpa. Terei acordado sorumbática...é o fim da viagem que se aproxima.
Eu era pequena e dizia ao meu pai que queria escrever um livro. Tinha uma máquina de escrever velha que, no entender dele, ao ouvir as minhas ambições, não estava à altura da tarefa. Computadores nem todos tinham, ainda não era como ter uma TV em casa (normalíssimo, uma por divisão). Então, um dia, o meu pai chegou a casa com esta Olivetti da foto. Para mim. Uma máquina de escrever "automática". Funcionava ligada à corrente. Escrevia e apagava. Tinha um pequeno ecrã que contava digitalmente os caracteres. O sonho de uma jovem (tão jovem) pretensa escritora.
No outro dia, a propósito das vendas do OLX, a minha mãe foi buscar a velha máquina que tinha a tecla de espaço encravada e pousou-a na mesa da sala. A tal onde escrevi muita coisa, mas nunca um livro, a olhar-me de soslaio. E o meu pai diz isso mesmo, o que eu estava a pensar, mas em voz alta "olha, a máquina onde a minha Maria pequenina ia escrever um grande livro". Enlagrimeci.
Capacidade de estar à chuva à espera que fique verde para atravessar a passadeira, a levar continuadamente com uma nuvem de fumo a saber a castanha (tão bem) assada, com fome...e seguir caminho.
Porque me fez falta a palavra que me classificava em relação à avó dele (não é bem nora, não é bem neta). Ou já existe uma e eu é que não sei (ou não me ocorre)?