A cabeleireira. Com a tesoura. No salão.
O título é só para quem já jogou Cluedo. O medo é real.
Eu sofro de um síndrome. Aliás, três.
O primeiro é fobia de salões. Desde a conversa de circunstância, às revistas com notícias da realeza espanhola, às senhoras que vão só lavar a cabeça, tudo me causa troçolhos.
O segundo é mais grave. Tenho medo de ser assassinada pela cabeleireira. São pessoas que varrem cabelo humano e ostentam tesouras como profissão. Julguem-me se quiserem. Além disso, aturar conversa alheia durante, pelo menos, 6 horas por dia, chamem-me louca, mas é coisa de sociopata.
Apesar disso, continuo a não ter o dom de fazer a manutenção cabelo. E ninguém que me ajude. O Moço não corta bem uma courgette, imaginem uma franja. E da última vez que pedi ajuda à minha irmã para me pintar o cabelo, ela, ao lavar, enfiou-me o jacto do chuveiro num ouvido e ainda hoje não recuperei completamente a audição.
Por isso apesar dos últimos dramas de salão:
1. O dia em que me tentaram partir o pescoço (obrigada Agir, por arruinares esta frase) ou o penteado de casamento em 2017.
2. O terrível episódio da repa em 2018.
3. O corte sobre o qual não desabafei aqui porque desabafei a chorar em 2019.
Tive de voltar.
Não pensem que me esqueci do último síndrome. O terceiro problema é que sempre que gosto muito de como o cabelo está ou muita gente me elogia o cabelo eu penso: TENHO DE O MANTER ASSIM.
Então. Muito naturalmente. Vou cortá-lo.
Não sei explicar. É como se pudesse ir à cabeleireira e ela efetivamente cortasse dois dedinhos só para aquilo que me agrada se manter mais tempo.
Pois bem. Depois do episódio de Joãozinho em 2019 (fiquei com o pescoço à mostra, gente! desaprendi como se atava o cabelo!) arrisquei ir ao mesmo salão, porque há lá uma cabeleireira em quem confio e outra que me dá tremores quando diz que um dia me há-de cortar o cabelo mais comprido de um lado do que do outro, que "se usa". É aqui que bate a memória da minha mãe a obrigar-me a vestir calças de bombazine porque "se usa". Bem me podem dizer que posso chegar lá e escolher a cabeleireira, mas já vos disse que as temo (vejam o síndrome número dois).
Pois nesta ocasião cheguei lá e exultei de alegria! A cabeleireira perigosa estava fora e teve de ser a minha favorita a cuidar de mim. Relaxei. Cheguei mesmo a dizer que gostava muito do trabalho dela.
Estava felicíssima, até com a Hola na mão. Até ao momento em que começo a ver que ela está a cortar mais de um lado do que do outro. "Deve estar a meio do processo. Vou-me dedicar à Hola."
Quando termina (cabelo seco e tudo) a minha cabeça é a Torre de Pisa. Inclinada, por mais que eu esteja direita.
Deixem que vos explique. Eu nunca fui diagnosticada mas desconfio ter um ligeiro OCD que se revela ao nível de combinar a cor das molas da roupa, a roupa interior com a exterior, alinhar comandos e ter tudo paralelo e perpendicular, direitinho na minha secretária. Não estar convencida do lugar certo de uma cadeira que sobra na sala é coisa para não me deixar concentrar no trabalho.
Portanto imaginem-me num estado permanente de desequilíbrio dentro e agora FORA da cabeça. Alguém já jogou Wii Party? Sabem quando no jogo do Navio, quando depois dos mini-jogos temos de colocar os bonequinhos de forma a que o barco não afunde e ao concluir com sucesso a senhora anuncia BALANCED.
Eu NÃO estou. Estou 24/7 assimétrica e a isto (gesto de juntar o polegar ao indicador) de pegar eu numa tesoura e tratar do assunto. A outra opção é ir à concorrência acertar o cabelo, mas neste momento já creio que tudo possa acontecer nessa outra visita. Prefiro fechar-me em casa até 2023.
Não vos maço mais. Só queria que rezassem por mim.
Um adeus inclinado.
Maria