O ano começou efetivamente como um reinício. Foi reconstrução, foi subida, foi auto-regulação. A passagem de ano trouxe a viragem que eu precisava.
Não foi assim com todos à minha volta e lembrei-me que a saúde é mesmo tudo o que importa. Felizmente, porque se fosse o dinheiro ou a paz, o mundo não deixava. Sustos foram ultrapassados, mas fica a ideia cada vez mais presente que somos todos, todos, todos mortais. Aproveitemos.
Voltei a estudar (quê?!), eu que sempre disse que não me ia meter nisso, porque se aprende igual nos livros e palestras e com a experiência. Compensou, o trabalho que em 2022 tinha sido motivo de desaire, foi este ano motivo de orgulho. Li mais do que os objetivos do Goodreads, mas menos do que nos anos anteriores. Inundei a casa (foi sem querer, o seguro sabe) e como há males que vêm por bem, renovei metade da casa. Inscrevi-me no ginásio e fui lá todos os dias em que precisei de tomar banho porque o WC estava em obras.
Fiz a viagem de sonho de muitas pessoas, que não era a minha, mas passou a ser: Japão. Não, não é um país caro, talvez fosse quando Portugal não era. Além disso festejei os 30 da minha irmã nos 30 da Disneyland Paris e foi mágico.Também fui a Estocolmo sentir o Natal, com sucesso e muita neve.
No final de setembro, sem qualquer expectativa, comecei uma edição limitada de uma newsletter - o Comprimido - e por 30 dias obriguei-me ao prazer que é escrever - como nos primeiros tempos deste blog. Foi um prazer ainda que ninguém lesse, mas teve milhares de leiturras e, por entre muitos comentários bonitos, um elogio de uma escritora nacional que me encheu o coração. Por isso, amanhã volta, uma vez por semana, às segundas-feiras, aqui.
Falhei todas as resoluções. Comecei o ano a viajar - literalmente, os primeiros quatro dias e mesmo debaixo de um temporal soube-me muito bem - acho que foi por causa da comida na Terceira. Ao longo do ano visitei duas ilhas portuguesas e uma italiana. Passei semanas de férias inteiras a preocupar-me. Passei semanas de trabalho inteiras a preocupar-me. Li muito, para cima de 50 livros (and counting). Li mais ebooks que livros em papel. Passei novamente o aniversário isolada e gostei novamente disso. Saímos do isolamento e não estava preparada para isso. Voltei a trabalhar no escritório. Voltei a trabalhar em casa. Trabalhei imenso, mas não foi o suficiente. Não fiz exercício e comecei a comer pior. Recebi rosas no aniversário de namoro e Osvaldinhos da Aipal no dia dos namorados. Perdi toda a vontade de fazer fosse o que fosse em casa - não estrelo um ovo há meses. Escolhi-me. Teve de ser. Senti-me culpada por dizer que não muito mais vezes. Escolhi-me. Teve de ser. Não repeti por erro. A Cátia fez um ano - a Cátia é a planta do Moço. Senti-me estranha por voltar a cinemas e restaurantes. Deixei de me sentir estranha por voltar a cinemas e restaurantes. Não deixei de me sentir estranha por estar com muitas pessoas. (Sempre senti?) Voltei a gostar de um filme do James Bond. Experimentei restaurantes novos e senti-me genuinamente feliz com isso. Fiz arborismo e quis desistir no final do percurso. Voltei a cortar o cabelo, quase a fazer dois anos. Ficou estúpido. Fiz uma sessão de coloração pessoal e descobri que as cores que mais visto não me favorecem. Senti-me sozinha. Senti falta de estar sozinha. Tirei o Invisalign. Continuei a vestir cores que não me favorecem. Saí de casa com blazer e sweat de capuz - em simultâneo. Fiz pouco. Fiz nada. Comecei o balanço do ano com a palavra "falhei". Acho que não faz mal admitir que não foi um bom ano. Acho que me sinto melhor só porque vai acabar. A falsa sensação de recomeço nunca fez mal a ninguém.
Passei a usar fatos de treino. Voltei a trabalhar quase integralmente em casa, coisa que tanto adoro. Passei menos horas na estrada e mais fins-de-semana em casa sossegada, mas foi preciso uma pandemia para isso. O meu maior medo não foi o Covid19. Tive saudades das pessoas, sendo que saudades é coisa que normalmente não uso. Não tive, no entanto, saudades de festas de aniversários e jantares de Natal com 675 pessoas em que ninguém realmente conversa com ninguém. Só mesmo dos amigos individualmente. Um a um, dois a dois. Contam-se pelos dedos as vezes que entrei em shoppings e supermercados e também fico bem sem nunca mais voltar, fazendo tudo online. Já não fico tão bem sem ir ao cinema - ontem encontrei o bilhete do Knives Out que vimos no dia 1 do 1 de 2020. Fiz mais chamadas e video-chamadas que no resto dos meus 34 anos e mesmo assim foram menos do que vocês, aposto. Li 42 livros, em vez dos 24 a que me tinha proposta e acho que o ano não acaba sem mais um, pelo menos. O meu favorito é um livro de banda desenhada, coisa que nunca pensei. Lavei latas de atum com lixívia e passei a descalçar-me para entrar em casa. Assumi que preferia apanhar covid do que não ter ajuda para limpar a casa. Voltei a ver o Livro da Selva. Fui promovida apesar de ainda sentir que nada sei. Juntei pessoas à equipa em ano de despedimentos. Até Março comi muito fora, depois cozinhei muito e descobri o meu bolo de laranja favorito, agora não quero fazer nada na cozinha. Comi talvez 50 vezes (talvez mais) a carbonara do Moço. Não tive o clássico (para mim) salame de chocolate no Natal, mas tive a minha avó. Em Fevereiro não fiz uma grande viagem porque "não dava jeito" - nunca mais deu jeito. Fui à Suiça, ao destino de voo mais barato, quando ainda se podia. Foi caríssimo para 3 dias e não me arrependo nada. Toda a gente fez mais exercício em casa e para sair de casa, mas eu tornei-me mais ainda uma batata e continuo a ser atleta do reviramento de olhos, única e exclusivamente. Cheguei ao fim de ano com aparelho e receita para óculos, voltei ao sétimo ano. O Moço adotou uma planta a que chamo Cátia e já durou mais do que qualquer vaso de salsa que eu tenha comprado. Trabalhei em 3 divisões da casa, sem contar a varanda. Uso batom mesmo em casa ou para sair de máscara, mesmo que ninguém veja. Tive a melhor notícia do ano - não é isso, seus chatos da porra. Não enviei mensagens de boas festas - quem é que querem enganar? Fui a uma despedida de solteira, sem que houvesse casamento. Trabalhei que nem uma moura e o trabalho tornou-se tão importante que nem me lembro que mais era importante. Apontei para mudar isso e não mudei. Escrevi menos do que devia, pela minha saúde mental. De falar não gosto. Escrevi um conto sobre a quarentena que ninguém leu - nem eu reli. Comecei a ouvir podcasts que nem uma louca. Joguei Home Design quase todos os dias desde que baixei a aplicação. Sinto que foi um ano perdido e isso não teve nada a ver com o coronavírus, mais com a minha inércia. Acredito com a certeza dos mais tolos que 2021 vai ser diferente, para melhor, só porque eu estou disposta que assim seja.
(Ainda) não fiz pão. Só fui à varanda ler, nada de bater palmas ou fazer música que não gosto de incomodar os vizinhos (e assimcomássim, não tenho a certeza que isso ajude). Não acumulei papel higiénico, nem nenhum género alimentício. Toda a gente quer comprar o que é nosso e eu também, mas o que me apetecia mesmo mesmo era um hambúrguer do Burguer King, com batatas fritas do McDonalds. Não faço encomendas, nem sequer de comida. Não faço treinos de PT nenhum no Instagram (estou a estudar o impacto no ser humano de passar os dias sentada e deitada). Também não vi nenhum live inteiro do Bruno Nogueira (apanho-os sempre a falar do mesmo e deixo o Moço a ver sozinho), nem fiz eu própria nenhum live (o que deve ser ainda mais grave). Não partilhei como estou farta de crianças – ajuda não as ter, nem fui passear o cão – ajuda não o ter. Os meus pais têm cão, mas também não o podem passear porque ele não anda (nem sequer estou a brincar). Não briguei para ser eu levar o lixo (continuo a não gostar, mesmo em tempo de pandemia). Não partilhei fotos de videochamadas, mas juro que já aconteceram algumas e a minha palavra terá de servir. Não organizei as estantes de livros por cores (mas estou a isto – gesto de juntar o polegar ao indicador). Não aproveitei para arrumar gavetas, porque já bem basta ter de limpar a casa. Não criei um podcast, até porque já o tinha.
Passei a usar sapatilhas, que agora voltei a chamar de sapatilhas. Quebrei a tradição de escrever um post por dia no blog e senti os efeitos de escrever menos, ao ponto de chegar a instalar uma app de meditação (durou poucos dias) e começar um diário da gratidão (durou poucos dias). Experimentei Pilates e jurei ir mais do que as duas vezes que fui. Se é para ser honesta, senti-me desequilibrada, sem certezas, sem metas e falhar na relação comigo, fez-me falhar na relação com os outros. Preguicei nas pequenas coisas. Parece que depois de um ano em que tudo mudou tanto e me vi feliz com isso contra todas as expectativas, não soube como estabilizar. A culpa também foi de quem me fez duvidar de mim. Tentei reequilibrar-me com viagens, além dos muitos quilómetros a percorrer o país para ver famílias e amigos. Fomos à Islândia, às Ilhas Baleares e ao Brasil. Soube-me a pouco. Mostrei-vos as viagens (e tantas outras minudências dos dias) no canal por onde ando cada vez mais (andamos todos), o Instagram. Ganhei novos sobrinhos e continuei a ser martirizada por não ter um filho (a sogra diz que tem de ser uma filha), de forma crescente, em proporção à idade. Conheci mais do meu país, atravessei os passadiços do Paiva e apaixonei-me mais pela minha nova cidade. Comi leitão – ainda não adoro. Pedi pipocas no cinema – ainda não gosto. Perdi a paciência para as pessoas no geral. Ouvi mais música sertaneja num mês do que no resto da vida toda. Percebi (lembrei-me) porque gosto tanto de algumas pessoas em particular. Li mais do que no ano passado e menos do que queria. Tive o meu primeiro calendário do advento que não era de chocolate. Pela primeira vez achei que exagerámos nas prendas de Natal. Não tenho resoluções para o ano novo e desta vez isso está a incomodar-me um bocadinho.
Não tenho nenhuma bóia gigante (nem de flamingo, nem de pónei, nem de outro qualquer bicho assustador). Até porque a piscina* lá de casa é pequena e não justifica o investimento.
Como vi um óleo de Argan em promoção para besuntar o corpo, comprei-o. É coisa da moda. Dizia que era para passar no banho e eu adoro produtos fáceis de passar: depois do gel de duche passo-o pelo corpo e depois tiro com a água. De facto tenho usado todos os dias e gostado de como fica a pele. Hoje, com o frasco quase vazio voltei a ler o rótulo. É para passar no fim do banho com a pele molhada e não enxaguar...só secar com a toalha depois. Mais um ponto para a Maria, a usar mal produtos de cosmética desde 1986.