Ultimamente tenho andado a sonhar com viagens tipo o ex-Expresso do Oriente ou a bordo do comboio Transiberiano. Basicamente noites passadas no comboio em destinos exóticos. Deus a provar que existe ouviu as minhas preces e mandou o Leslie para me fazer viver esta experiência inolvidável: uma noite no Intercidades entre Pombal e Espinho.
Vamos lá ver, porque considero que são esperiências semelhantes.
- Passam-se num comboio.
E de facto a semelhança reduz-se a isso. De resto, a viagem que devia durar 1h20 durou 9h (até às 8h30 da manhã do dia seguinte). Antes que digam que "o burro sou eu" porque não era noite para viajar...bem (é verdade), pensei nisso, mas o bilhete já estava comprado, as viagens não estavam interditas, o comboio não estava a chegar de Lisboa com nenhum atraso anormal e a linha estava transitável já numa hora que era suposto cair o céu e a terra. Não contei foi com a falha de eletricidade que demorou horas a resolver nas estações desde Alfarelos à Pampilhosa.
Não estou a queixar-me de ninguém (senão de mim), nem da CP, nem da tempestade, só queria partilhar convosco esta jornada, caso alguém decida começar o seu Interrail por aqui - aconselho tanto. Afinal foi fascinante, sinto-me capaz de escrever um livro, com os seguintes capítulos:
80 posições para tentar dormir no comboio (e mesmo assim não conseguir)
Nunca saia de casa sem bateria e filmes descarregados no Netflix
Treino de bexiga para não ter de usar WCs de comboio em tempos de crise
Técnicas de relaxamento para ouvir cinquenta vezes "Lamentamos o atraso...sem estimativa..."
Snacks saudáveis para passar a noite num comboio sem serviço de bar
Como manter a família tranquila quando se está no meio de nada por tempo indeterminado
Variações sintáticas de "Está tudo bem, ao menos estava segura"
E o crime, perguntam? Foi só mesmo uma tentativa de assassinato da minha sanidade mental. Mas sobrevivi para enlouquecer noutro dia.
É possível que isto tudo tenha sido resultado dos Stories que fiz na viagem de ida, nessa manhã, onde me vangloriava de ter ficado num assento com eletricidade (estão a ver a ironia?) e mostrava ao mundo o meu companheiro de viagem. O mau olhado pega forte no Intercidades.
Vai ser uma vergonha, porque é que me meti nisto? Com a mania de experimentar coisas diferentes e agora vamos falhar tudo, vai ser uma miséria. Em vez de sair da sala em uma hora vamos ficar bloqueados no primeiro cadeado e em vez de me sentir a Lara Croft, vou-me sentir a Lara Flop. Vou perguntar ao senhor se tem cláusula de confidencialidade, para garantir que não vai publicar no Facebook sobre aquele grupo que parecia uma formiguinha desorientada que se perdeu do carreiro e precisou de uma equipa de salvamento para sair de uma salita.
Sentimento durante o jogo: (...) Nada. Uma pessoa começa a jogar, a ver pistas, a descobrir chaves e a mente não dá para mais nada, não pensa no tempo, não pensa se consegue: joga! Nunca se bloqueia por estamos a ser vistos e ouvidos pelo Game Master que assiste com algumas pistas via walkie-talkie dando ainda mais um ar de missão à coisa. É tão bom. Que se lixe a vergonha, estou-me a divertir.
Sentimento à saída:
SAÍMOS!! SOMOS OS MAIORES! SOMOS OS MAIORES! SOMOS OS MAIORES!
Fizemos um bom tempo!? A sério?! Podemos fazer já a outra sala de desafio?! Não? Então vamos subir o Marquês! Iuhuuuu!
Esta foi uma das experiências mais supreendentes que fiz com a Odisseias. Podem encontrá-la aqui - aconselho vivamente. Juntem uns quantos amigos e arrisquem. Passem um bocado diferente. Se não adorarem podem vir cá chamar-me nomes (e aposto que isso não vai acontecer). Eu gostei tanto que entretanto até já fui fazer mais um Escape Game. E hei-de voltar a esta Mistery Escape Game Lisbon para fazer o segundo mistério - fizemos o do Vinho do Porto (com direito a cálice no fim) e ainda ficou por fazer o dos Descobrimentos, que é de nível avançado.
As salas têm horário alargado (última entrada às 23h) e portanto essa desculpa não há. Também há em várias cidades (oferta ativa no Porto aqui e em Torres Vedras aqui) e existem várias outras salas de Escape em Lisboa (diz o Manel que se dão todos bem). E não deve estar a mentir que o Manel é fixe. Numa parte do jogo queixei-me da balança pré-histórica que fazia parte do cenário e desabafei que devíamos ter uma balança da Bimby. Ao que a voz do além (o Manel, através do walkie-talkie) responde: "muito caro".
Armei-me em Tarzan e fiz slides, orientação, rappel e arborismo no Sábado (ficou a faltar o paintball). Foi brutal. Primeiro no bom sentido, agora (percebo) no mau também. Hoje ainda estou toda dorida. Mas se não rir, tossir, espirrar ou fizer movimentos bruscos, tudo supimpa. Quem é que me apaga ali a luz do candeeiro, que eu não me posso esticar?