Ocorreu-me numa qualquer conversa com o Moço e apontei no bloco de notas do telemóvel. O bloco de notas do telemóvel serve essencialmente para duas coisas: lembrar-me do que tenho de comprar (açúcar, iogurtes, alho francês) e do que tenho de escrever (tolices minhas, tolices do moço, tolices dos outros). Quando pude dispensar 5 minutos à frente do portátil bati rápido nas teclas: sabia exatamente o quer queria dizer e terminei-o num momento. Publiquei-o sem pensar muito no assunto. E depois a vossa reação foi fabulosa: muitos comentários simpáticos, muitas partilhas, o post mais favoritado de sempre.
E fiquei supreendida porque eu sabia que estava a dizer aquilo que todas nós, mulheres, já sabemos e que os homens até desconfiam.
Mas parece que às vezes é mesmo preciso parar para pensar sobre isto. Nós precisamos de parar e pensar que não estamos sozinhas e que não faz mal sermos assim: complexas e únicas. E eles precisam parar para pensar que todas as mulheres que vão encontrar ao longo da vida são donas desta multiplicidade - e que estão à vontade para ver isso como algo adorável. E que, como sugere a letra desta deliciosa música da Clarice Falcão: loucos somos todos, só temos de encontrar o louco à nossa medida.
Mas fiz uma espécie de entrevista corrida para o blog Marketing by Uss, na rubrica "Experiências na Primeira Pessoa". Falo mais a sério sobre esta coisa dos blogs e gostava muito que fossem lá espreitar para saberem como sou dedicada (cof cof). Além disso fui a segunda nesta rubrica, logo a seguir à Cocó na Fralda, o que me deu uns trejeitos de mania. E a Susana foi tão simpática (soube levar-me pela graxa, a sacana lê mesmo o blog e sabe os meus pontos fracos) que foi impossível recusar.
Olhó excerto:
Não olho para o blog como um meio de subsistência: nem no futuro. Mas olho para ele como uma forma de me habituar à possível concretização de um sonho (escrever um livro?). Não gosto de sonhos, gosto de realidades. Sou um São Tomé: ver para crer. Pelo que este passo é preciso para me convencer que “não faz mal, podes sonhar com coisas pouco palpáveis”. E a verdade é que o blog que ainda não fez um ano tem ultrapassado todas as minhas expectativas. É um projeto que me faz sorrir todos os dias e me enche de orgulho – logo a mim, que já tenho um ego do tamanho do mundo. Bad Mary, bad Mary.
Adoro ver a Teoria do Big Bang. Divirto-me à brava. Mas o que eu gosto mais na série não é o genial Sheldon: é a gargalhada deliciosa do Moço quando está a ver comigo.
Eu sou suspeita, que sempre fui mais dada às línguas, mas diria: concentra-te no português, antes de ires à matemática.
Em todo o caso, aqui fica a explicação:
Se não era dessa que estavas a falar, mas d'A Prova dos Nove mais divertida (com menos números), segue por aqui e vê como tantos ilustres bloggers já lhe responderam.
O caríssimo Informador, a mai'querida Just Mom e a sonhadora psantos do blog Gato Branco às Riscas lançaram-me um desafio daqueles em bom. Pediram-me que recuperasse sete memórias de infância. Além deles, também vi o mesmo desafio noutros blogs e deliciei-me e identifiquei-me com tantas respostas. Ricardo, também eu jogava aos Power Rangers - era a cor-de-rosa claro. Também eu revi o Rei Leão vezes sem conta, até saber falas e músicas de cor (ainda hoje). Tentando não repetir respostas - o que é praticamente impossível, vou responder o melhor que sei e posso...
#1 - UM FILME DA MINHA INFÂNCIA O Leão da Estrela! Haja sportinguista mais fervoroso que o António Silva a partir a mesa.
#2 - UMA SÉRIE DA MINHA INFÂNCIA
"Em nome da lua, vou castigar-te!" Perceberam, não foi?
#3 - UMA MÚSICA DA MINHA INFÂNCIA
"Sabes que começou no A...A, A, A!" Idem. A rapariga até continua em voga.
#4 - UMA BRINCADEIRA DA MINHA INFÂNCIA
"Mamã, dá licença?"
#5 - UM AMIGO DA MINHA INFÂNCIA
O menino que me roubou o primeiro beijo. A quem eu disse (à frente das duas famílias) que os meus pais chamavam sapo por ser gordinho.
#6 - UM MOMENTO DA MINHA INFÂNCIA
Quando fugi da minha mãe no supermercado e me fiz à cidade para ir ter com o meu avô a seu local de trabalho. Pequenina, pequenina. Vou um alvoroço.
#7 - UM SONHO DA MINHA INFÂNCIA Desde sempre: ser escritora!
A primeira é uma mulher segura. Sabe o que vale e quem merece. Apaixonada pelos seus objetivos. Sai de casa todos os dias de rimel e batom, mesmo que não use maquilhagem. Faz amigos como quem coleciona esferográficas azuis. Liga quando precisa de alguma coisa, discute de viva voz sem se contentar com menos. É direta. Honesta, sobretudo consigo e não se contenta com nada menor que a sua medida do mundo. E o mundo é a sua casa. A aventura o seu modo de vida.
A outra é mais recatada. Pensa no que será o jantar todos os dias. Pensam que é por obrigação, mas fá-lo com gosto: desde de que não a obriguem a usar avental, cozinhar é um gosto. Beija os filhos que vai buscar à escola depois do trabalho. Liga aos pais que quis afastar na adolescência e agora quer mais próximos do que nunca. No dia a seguir, a rotina será a mesma e ela não se importa. Cansa-se, desespera, mas olha para a sua família, assim que o marido acaba de trazer a sopa que fez para a mesa e tudo vale a pena.
A terceira é a rainha do drama. Mesmo que não suba o tom de voz, grita muito interiormente consigo e com os outros. Um cabelo em desalinho pode dar-lhe cabo dos nervos o resto do dia. Amua, sabendo que não devia. Mas amua porque pode e sem saber bem porquê isso fá-la ficar aliviada. Cada vez que a colega lhe traz a pilha de papéis para tratar, sabendo que ela vai sair mais cedo, mas lhe está a trazer aquela papelada já tão tarde, chama-lhe "cabra" muito baixinho.
Esta outra é serena. Racional e bondosa ao mesmo tempo. Vive para o bem dos outros e isso fá-la sentir-se tranquila consigo. Queres sempre tê-la por perto quando há problemas: ela vai pegar-te na mão (mesmo que estejas a quilómetros de distância), emprestar-te um pouco da sua calma e ajudar-te a resolver seja o que for, em detrimento do seu próprio tempo. Compreende até aquilo que os dois sabem que está errado: porque o erro faz crescer e ela sabe que também o pratica muitas vezes. A cor dos seus olhos não interessa: são da cor da compreensão.
A quinta é envergonhada. Às vezes desejava nunca ter nascido. Para quê, para ter aquele corpo? Para estar sozinha ou mal acompanhada? Não sabe onde ir buscar gente nova, mas sente que a antiga já não lhe presta atenção. Comer chocolates e ver um reality show qualquer: aí está o programa ideal. Acha-se invisível nos momentos que precisa de alguém e só encontra solidão. E acha que têm neon na testa quando se sente mal e é vítima dos seus complexos. Precisa de saber que gostam dela todos os dias, porque mesmo que o saiba não tem bem a certeza.
E desengane-se quem acha que estou a falar de cinco mulheres diferentes. Esta é uma mulher só: às vezes a cada semana, a cada hora, outras vezes encontram-se no tempo e no espaço algumas destas. Outras haveria para juntar ao leque. Não somos bipolares ou indecisas. Somos complicadas (mas só em alguns momentos nos ouvirão admitir).
Somos muitas numa e isso pode funcionar para vosso favor ou desvantagem, consoante o saibam reconhecer. Não podem esperar amar uma delas apenas. Não se apaixonem por um ego seguro, esperando que nunca vá gritar convosco por não terem elogiado o tal vestido novo. Amem-nos inteiras. E poderão esperar o mesmo em troca.
De como é penoso ficar em casa com o sol a bater nas pedras da calçada e não poderes sair te faz querer bater com a cabeça numa?
De teres de acordar de madrugada para estar nas aulas a horas indecentes e te esforçares para segurar os olhos com palitos imaginários?
Dos calhamaços que se carregam para levares nos braços a matéria toda e da vontade de acender um bico do fogão e queimar as páginas uma por uma?
Da vontade que de repente nos dá de limpar a casa, organizar os copos por altura e ver um documentário sobre o ciclo de vida da traça dos tapetes marroquinos?
De nos desconcentrarmos com as coisas mais básicas: como o som da nossa respiração ou de uma mosca que voa na divisão ao lado?
Não deixem de partilhar também as vossas (piores) recordações dos tempos de estudante - ou vivências presentes, se for o caso.
[O Sapo reuniu algumas das mentiras mais contadas e já me fartei de rir. Desde o nível little white lie ao nível político, contem-me lá uma mentirinha vossa.]
A doutora disse que eu devia usar óculos para descansar a vista: a ver TV, ao computador, enquanto conduzo...Agora os bichos chegaram cá a casa.
O problema é que eu não me consigo levar a sério com eles. Assim que os ponho encarno a personagem e dá-me para fazer beicinhos e poses e sacudir o cabelo, num cruzamento de naughtyteacher com bibliotecária nerd despenteada. Estão a "ver" o problema? Não posso usar óculos ao pé de ninguém...
Mais alguém aqui tem o síndrome do óculo-ordinário?