O Moço comprou pela primeira vez uns ténis (na verdade, agora voltei a dizer sapatilhas) da Skechers. Ele que tem uns pés mais problemáticos que o governo italiano viu-se calçado com algo que não o magoava de maneira nenhuma e de bónus ainda era muito confortável. Isto, pela primeira vez em muito tempo.
Foram comprados há pouquíssimo tempo mas ele usa-os non-stop, como aquelas crianças que vão para o ballet e até querem dormir com os seus sapatos de pontas e tutu, desprezando todas as outras opções da sapateira. Talvez por isso, estão a descolar num dos lados. O que apesar de tudo não é muito aceitável para o preço e tempo de uso. Pelo que, mesmo sem encontrar o talão da compra, fomos à loja para ele perguntar o que se podia fazer.
A senhora, muito solícita, explicou que mesmo sem talão poderia deixar na loja os sapatos e um comprovativo bancário do movimento de compra, para apresentar a reclamação, enviariam tudo para a central e em alguns dias teria resposta.
E pergunta ele, muito apreensivo:
- E dão-me outros para andar enquanto avaliam a reclamação?
Vão às gravações automáticas da Sic Radical e desfilem episódios de Practical Jokers. Um grupo de quatro paspalhos amigos que se desafiam e pregam partidas uns aos outros. Eu acho vagamente divertido, ao género consigo desligar a mente da mesma forma que se estivesse a ver um mau episódio de Kardashians ou outro pedaço de trash TV. Mas o Moço fica com os níveis de serotonina ao máximo. Ri-se muito, de cada vez que respiram uns para cima dos outros, das partidas mais inteligentes aos desafios mais parvos.
Clips de vídeo que consistem em pessoas a sorrir para a câmara com bigodinhos e orelhas de gato (ou cão), enquanto balouçam a cabeça para a esquerda e para a direita. Vamos falar sobre isto?
Eu sei que falo porque sou uma invejosa: não tenho o tipo de beleza que me permite ostentar bigode. Isso está reservado para as mais fortes: aquelas que até a fazer caretas são bonitas. Agora, em podendo, em sendo dessas que ficasse sexy com orelhas a despontar do cabelo, ou estrelinhas a cintilar nas bochechas, ou (literalmente já vi isto) um chifrinho de unicórnio colorido a enfeitar-me a testa, continuo sem ver o propósito.
Parece a regressão evolução da selfie. "Agora estou farta de ser bonitinha numa foto vou ser bonita e balouçar ligeiramente o tronco e o pescoço enquanto pespego troços de cartoon em cima de mim."
Não consigo deixar de imaginar a conversa entre quem se lembrou disto e quem aprovou a ideia, possivelmente o pessoal do Snapshat, agora migrado para o Instagram Stories:
Inventor: Então chefe, agora a ideia era máscaras flutuantes para as pessoas parecerem gatinhos ou outros animais. Com olhos gigantes! Ou terem tipo setinhas de cupido a atingir-lhes a cara e corações a sair da boca em jeito de arroto…
Chefe: Humm…isso é só parvo. Que mais tens?
Inventor: Há aquela ideia antiga de as pessoas terem de resolver um problema matemático para verem cada post, para incentivar o raciocínio...
Chefe: Ó Costa*, isso não nos convém. Que mais?
Inventor: Temos a hipótese de integrar aquela funcionalidade que mostra como fica o mesmo prato de comida publicado ao fim de três meses para combater o excesso de publicações do género alimentício. Ou um filtro para vegans que sobrepõe alternativas vegetais às imagens de postas mirandesas**. Ou podemos repetir a ação de curar uma doença nefasta por cada like.
Chefe: Diz lá qual era a primeira outra vez?...
Inventor: Cenas na cara…
Chefe: Epá, parece-me brilhante. Põe isso. Pelo menos as crianças vão gostar. E se não pegar dizemos que foi uma daquelas ações de charme em que a empresa põe os filhos dos funcionários a ter ideias. A imprensa vai adorar. A NiT já partilhou e tudo.
Inventor: Ok, chefe. Mais alguma coisa?
Chefe: Olhos gigantes. Faz isso aumentar os olhos das pessoas. A minha mulher tem os olhos encafuadinhos na cara, pequeninos e malinos e faz-me espécie. Cada vez que olho para as pessoas de olhos pequenos parece que a oiço refilar comigo. Tratas disso?
A minha querida Lupa saberá identificar mais 50 tipos delas, mas estas são as que me tiram do juízo. No fim quero que me avancem qual a que gostam menos, se são alguma delas, ou que outras coisas vos tiram do sério a cada visita ao supermercado. Vamos lá?
A nervosinha do tapete
Vou confessar: foi esta que inspirou o post. Estava na fila, já a colocar as coisas no tapete. Como a divisória que diz "próximo cliente" não estava ainda disponível deixei uma distância bem simpática entre as as coisas da senhora da frente e comecei a pousar as minhas. Logo aí senti que ela ficou nervosa. Olhava para as minhas compras, olhava para as dela. O pânico que a operadora de caixa achasse que os guardanapos de rolo - a meio metro das compras dela - lhe pertencesse e tivesse de os pagar instalou-se completamente. Ou talvez fosse pânico que eu lhe ficasse com a embalagem de cenouras que escolheu a dedo. Seja como for: suores frios. Assim que possível, quando a operadora de caixa terminou de registar os produtos do outro senhor à frente dela, fez um salto de atleta olímpico para o separador e colocou-o vitoriosamente no espaço entre as minhas coisas e as dela, rematando com um olhar de "vês como é que se faz?" dirigido a mim. Isto passou-se em poucos segundos mas senti que para ela foi uma tragédia grega em slow motion. Por isso contive o riso.
A apalpadora de fruta
Literalmente, pessoal, não sejam ordinários. esta pessoa vive na secção dos frescos e legumes e quase a ouvimos a estalar os dedos antes de estacionar o carrinho à beira das courgettes para começar a sua jornada. Com ar de especialista e de saco em punho faz um jogo de toca e foge com cada peça de fruta. Não escolhe uma ameixa sequer sem tocar em pelo menos 70% das que estejam disponíveis. Não raras vezes, sai de mãos a abanar. "Nunca tem nada de jeito" diz ela a quem quer ouvir, "naquele supermercado a fruta está sempre toda pisada". E nem pensa que foi porque ela a cutucou toda no dia anterior.
A louca dos talões
Se acham que é um grande azar quando a fila para pagar pára por questões técnicas, faltas de preço em produtos ou tremores de terra em curso, é porque nunca se cruzaram com a verdadeira louca dos talões. Apesar de ter os milharzinhos de vouchers em pastas ou numa bolsa específica que anda sempre com elas, está lá de tudo o que recolheram e recortaram, de todos os supermercados da área (e alguns que nem existem num raio de 100 km). Portanto primeiro tiram os do supermercado errado, depois querem usar os que já expiraram e a seguir pedem à menina para os experimentar todos, por favor, mesmo que ela insista que aquele cupão só é válido em alface e a coisa mais parecida com vegetal que tem é uma pizza congelada com pimentos em cima. Mesmo quando se acabarem os cupões não vale a pena respirarem fundo: falta levar os selos dos copos, sim?
A acumuladora de fila
Deixam-na passar à vossa frente porque só leva uma embalagem de Panrico e vocês foram aviar-se (quem usa esta expressão?). De repente ela pergunta se guardam o lugar e vai buscar umas latinhas de atum. A seguir volta, pousa e vai buscar amaciador da roupa. Depois, ainda enquanto espera, pede desculpa, mas lembrou-se que precisa de sabonete líquido. E quando dão por ela, têm à frente uma pessoa com o supermercado inteiro por pagar. Mas muito a sério: começou com um produto na mão e acaba com um carrinho cheio que podia alimentar África.
A esfomeada
Eu. Claramente, eu. Alguém que passou mesmo só para ir buscar a manteiga que se acabou, mas decide passar naquela hora crítica antes do jantar. Resultado: traz TUDO o que consegue alcançar com a mão das prateleiras. Especialmente se for comestível. Especialmente se for doce.
Tudo se torna "aquilo que eu não como há tanto tempo" ou "aquilo que sempre quis provar". E quando, arrependida de todas as porcarias que trouxe, começa a arrumar as compras em casa, lembra-se: não trouxe manteiga!
Tenho alergia a resumos do dia. Já vem dos tempos de escola, quando ainda nem tinha pousado a mochila e já me era requerido que falasse. Primeiro: não sou da marca de falar sobre a minha vida para a processar (talvez escrever sobre a minha vida). Depois, se houver algo relevante a dizer, hei-de chegar lá a meio de uma conversa devidamente contextualizada - ou se for demasiado relevante não preciso que ninguém me pergunte por isso que eu própria hei-de dizer logo. Terceiro: Obriga-me a um esforço mental que não aprecio para rever o dia que a) se correu mal não quero fazer, b) se correu bem tenham calma que já la vou nos meus próprios termos ou c) se não teve nada de relevante me força a admitir que foi um dia desperdiçado da minha existência. Conselhos para lidar com o assunto se quiserem que fale mesmo sobre o dia: primeiro mandem-se sentar e alimentem-me.
2. "Mas já experimentaste [determinada coisa básica] para resolver esse problema" (por exemplo, se o computador apresenta um problema, perguntarem-me se já o reiniciei)
Resposta provável no tom mais irónico de que sou dona: Ah, não! Porque sou estúpida, é um problema que eu tenho. O meu cérebro não faz sinapses. De forma que a coisa mais óbvia não me tinha ocorrido. Mas também não posso ir já tentar isso, porque neste momento estou muito agradecida por te ter na minha vida, ó pessoa iluminada, meu salvador, e vou a correr construir-te um altar por me resolveres a situação, mas sobretudo pela oportunidade de te ouvir chamar-me imbecil.
3. "Tem calma."
Esta não é específica da minha pessoa. Funciona com qualquer mulher e o processo é o seguinte: a pessoa pode ou não estar enervada > usa-se a frase > a pessoa perde a cabeça. Não sei em que escola andam os homens, onde lhes ensinam que se nos mandarem ter calma, magicamente todos os nossos problemas se resolvem e ficamos SUPER aliviadas.
Expectativa:
- Oh não, o meu piriquito favorito morreu!
- Tem calma.
- Uff, boa, agora estou fixe. 'Bora enterrar o piriquito.
Realidade:
- Olha, parti uma unha.
- Tem calma.
- Ok, eu nem estava ralada por ter partido a unha, que até vou à manicura logo, mas tu achas que tens necessidade de me pedir calma? A mim?! Euzinha?! Eu estou MUITO CALMA e agora vais explicar-me porque é que achas que não!!!!