[A foto tirei-a na linha de comboio desativada da minha nova terra. Não podia ser mais cliché, nem menos prevista. Se naquela meia-noite em que nunca como passas me tivessem dito que poucas semanas depois estaria a morar a 300 quilómetros dali rir-me-ia como se tivesse bebido demasiado champanhe. E afinal era eu que – uma e outra vez – não sabia nada da vida. E andava a fazer e a assumir planos como se pudesse saber. A única coisa que podemos definir quanto ao nosso caminho é como vamos querer pisar as mudanças que surjam nele. Porque dizer qual será está fora do nosso alcance.]
[Foi no último dia de Gerês que visitámos a Ponte de Misarela. As lendas desta ponte têm pequenas variações: todas envolvem a mão do Diabo e a mão de Deus, que resultaram na ponte torcida. Diz-se que se uma mulher que tenha dificuldade em ter filhos passar a noite debaixo da ponte a sua gravidez será abençoada. E que deve tomar por padrinho da criança a primeira pessoa que passar na ponte e batizá-la com o nome de Senhorinha ou Gervásio. Assim diz também a música de Sebastião Antunes que tem o nome da ponte. Mas sabem a verdade? Independemente das lendas, independentemente dos turistas que percorrem o caminho para sentir a mística da ponte, as vacas ainda têm de ser passeadas.]
[Encontrei o Fernando Pessoa numa parede da Herdade da Sanguinheira. Logo na sua-minha voz favorita que é a do pragmático pastor Alberto, de apelido Caeiro. Até nas fotos que gosto de rever, são as palavras que (me) ganham. Vou ali sentir o vento e já volto.]
[Estou junto ao Tejo, neste dia muito especial que foi o Domingo passado. Estou pelos olhos do Moço, que na verdade são os que me vêm pior. Tem aquele tipo bera de cataratas que me atribuem todas as qualidades do mundo. Aos olhos dele sou linda, inteligente, generosa. E se é verdade que a espaços consigo ser alguma das três coisas, na maior parte do tempo não sou nenhuma delas. É do tipo de cataratas. Creio que lhe chamam amor. Se identificarem o pézinho do pequeno que agarro no muro, ficam a saber porque foi um Domingo tão especial. Também tem tudo a ver com amor.]
[Não há maior cliché do que que publicar fotos de pôr do sol no verão. Por isso é que não vos martirizo com uma série de quatro que tirei ao fim da tarde na Costa, com intervalos de dez minutos e todas com cores diferentes a pintar o céu. Mas esta, caramba, aposto que aquele casal ia adorar ter esta. Amor de verão sem filtros.]
[Este fim-de-semana esteve à beira de ser perfeito. Costumo encher a boca para dizer que não gosto de praia, mas meteu praia. Praia de areia chata (sempre) e água fria, mas sem vento, sem enchentes, sem horas a mais. E além da praia e de termos estado os dois num pedaço de paraíso inesperado, houve amigos, houve a família dos dois (além da família que somos os dois) e houve sobretudo oportunidade para esconder as ninharias do dia-a-dia por baixo de um chapéu de sol e esquecê-las por um bocadinho. As preocupações todas, gigantes que sejam, não deixam de ser ninharias ao pé dos bons momentos. Não podemos deixar que sejam.]
[Não tenho minimamente aspirações a fotógrafa. Tenho umas noções e uma máquina mais-ou-menos, mas na maior parte dos dias dá-me a preguiça e uso só o modo manual. O Moço, que tira fotos melhor que eu, numa máquina mais séria que a minha, e mesmo assim não se atreve a achar-se fotógrafo - como muitos que lá por comprarem uma lente xpto já acham que podem fazer exposições - gosta de captar imagens e espevita-me para fazer o mesmo. Às vezes partilho no Instagram, outras vezes não partilho. Mas apetece-me. Não é para pescar elogios - já expliquei que não sou fotógrafa nem tenho pretensões disso. E este blog até é sobre palavras, que é o que eu acho que manejo melhor, mesmo que seja só assim-assim. Só que algumas destas fotos que me falam ao coração vão-se perder um dia destes, num disco externo qualquer e não vou olhar para elas - num álbum seria o mesmo. Aqui, talvez eu volte a olhar para elas. Ou pelo menos, tu também olhaste. Esta rubrica não tem de vos apetecer. Mas a mim apetece-me. A foto da semana pode ser da semana por eu a eleger e não porque temporalmente o foi. A foto da semana pode não ter regularidade semanal. A foto da semana pode até ser do Moço quando eu quiser e ele me deixar. A foto da semana é para mim e por mim, mas convosco.]