Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Maria das Palavras

A blogger menos in do pedaço, a destruir mitos urbanos desde 1986. Prazer.

14
Abr16

Crónicas de um fim-de-semana em Madrid (Parte 2)

Maria das Palavras

Se já leram a primeira parte do meu relato e ainda não adormeceram de aborrecimento, aqui está  continuação. 

Pois quando saímos do Mercado de San Miguel estavamos de bucho cheio. Não aguentava nem mais uma dentada de fosse o que fosse. Até reparar que estávamos pertíssimo de um marco que me tinha sido recomendado por várias pessoas: a Chocolatería SanGinés onde se comem (supostamente) os melhores churros com chocolate de Madrid. Como estou de costas na foto, não conseguem ver o meu ar guloso, mas o ar triste do senhor que vai a passar só pode ser porque , ele sim, estava cheio de mais para comer um churro. Eu arranjei espaço, como se vê pela minha garra afinfadora de churros à direita. O chocolate não era o meu favorito (preferia se fosse Nutella aquecida ou chocolate branco, como vi depois noutro sítio). Ainda assim para quem estava cheia comi a maior parte, com a ajuda do Moço, claro. 

 

Madrid - Chcolatería SanGinés | Maria das Palavras

 

Foi aqui, sentada numa mesa da agradável esplanada que disse ao Moço que provavelmente a seguir devíamos ir ver o Santiago Barnabéu. E ele:

 

- Ao estádio, agora? Daqui a nada é o jogo lá, deve estar uma confusão!
...

...

...

 - Espera...compraste bilhetes?!?!

 

Jim Carrey a celebrar como o Moço fez quando soube que ia ver o jogo.


Foi mais ou menos assim que o Moço reagiu à surpresa. É que nós já tínhamos visto que o jogo era numa altura ideal, mas os bilhetes a preço aceitável (e mesmo os caros) estavam praticamente esgotados quando pesquisámos e só havia um lugar em Paris e outro em Jerusalém. Mas, não satisfeita com isso, voltei a ver de véspera e descobri que havia mais lugares vagos, por causa de sócios que têm lugar reservado e não compraram bilhete para o jogo. Os bilhetes estavam disponíveis a partir de 30€ para esse jogo (Real Madrid VS Eibar) e podem comprar-se no site do Real Madrid e serem acedidos no telemóvel numa app chamada PassWallet (ou impressos, claro). 

Antes de irmos para o estádio ainda passámos à Plaza Mayor que é mesmo ao lado do Mercado de San Miguel (já vos disse que em Madrid é tudo a um passinho?) onde comecei a ver os dois fenómenos pedincheiros mais frequentes da cidade: gente mascarada de personagens da Disney  e afins - a sério, vi Minnies, porcas Peppas e o diabo a quatro, e homens-estátua de versão evoluída em posições em que o homem fica de lado suspenso no ar (que é como quem diz, que dá ainda menos trabalho que os homens-estátua comuns que têm de estar em pé e não deitados num suporte rígido). Vejam a galeria de fotos da Plaza Mayor e da zona da Ópera onde apanhámos o metro a seguir para ir para o estádio.


 

Viram os noivos que apanhámos na varanda do edifício mais bonito e emblemático da Plaza Mayor, a Casa de La Panadería? Fiquem a saber que este edifício foi comprado pelo grupo Pestana, que é português. E que este não foi o sítio mais estranho onde vimos noivos. A estátua, também da Plaza Mayor, é de D.Filipe III de Espanha, II em Portugal - apesar de eu ter tapado a cara dele com a do cavalo. Foi um dos sacanas da nossa dinastia Filipina , depois do desaparecimento do S.Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir (que ainda hoje está por aparecer aí numa noite nublada). Embora tanto quanto sei ele e o pai até foram fixes para nós, enquanto geriram em conjunto Portugal e Espanha, o filho dele é que nos deixou tão descontentadinhos que tivemos de fazer nascer o feriado do 1 de Dezembro, restaurando a nossa independência. E são 5€ pela aula de história.


No Santiago Barnabéu: Real Madrid VS Eibar


O jogo era fraquinho e isso interessou ZERO a julgar pelo ar de assombro feliz do Moço ao entrar no estádio. Quando muito até foi bom porque conseguimos assistir ao vivo a 4 golos, incluindo um do meu jogador favorito e um do jogador favorito do Moço, que, apesar de eu lhe querer bater por isso, não são a mesma pessoa - o dele é um ex-portista, claro. 

 

Estadio Santiago Barnabéu | Maria das Palavras

 

Antes disso, que me estou a adiantar: no metro conhecemos um casal de tugas que ia também ver o jogo (ou queria, porque não tinham ainda bilhete). Foi estranho, porque a rapariga falou para mim e eu respondi educada e querida, fizemos meia conversa mas eu não sabia se era suposto a partir daí sermos amigas para a vida ou cada casal podia seguir o seu caminho. Fenómeno curioso este do "porque viemos do mesmo país, podemos falar-nos como se nos conhecessemos". Na dúvida, seguimos o nosso caminho - até porque na confusão da estação do Santiago Barnabéu só se dessemos as mãos é que nos mantinhamos juntos e eu não estava preparada para esse tipo de intimidade. 


Ainda antes de entrarmos comprámos um cachecol para marcar a visita, a 10€, nas bancas à volta do estádio, mas que diz que é oficial. Depois fomos todos apalpadinhos e revistados para entrar. De notar que levávamos mochilas conosco com toda a nossa bagagem de fim-de-semana, incluindo a máquina do Moço que é "daquelas grandalhonas" - penso que até é esse o modelo, uma CANON Daquelas Grandalhonas. Eu estava um pouco preocupada com isso, mas parece que deixar garrafas e navalhas de fora é o suficiente. 


Ficámos lindamente sentados, mesmo a pé da bandeirola de canto. Tirámos mil fotos, a nós, às bancadas, aos jogadores - 90% ficaram desfocadas. Mas a minha favorita foi esta, do espanholito a estender a mão para o nosso Ronaldo e a gritar "Ronaldo, tu camisetaaaaaaaaa". Partilhei-a logo no meu Instagram porque o abençoado do Real Madrid tem Wifi no estádio!
 

 

Posso dizer com segurança que o pai dos miúdos gritava ainda mais que eles e insistia para que levantassem dois cartazes cor-de-laranja a pedir "camisetas" nos momentos mais oportunos para os craques, tipo a meio de jogadas. Não queria deixar também de mencionar um dos fotógrafos do jogo, daqueles que estão junto ao relvado, que passou o jogo a tirar selfies em vez de registar as jogadas.

Nota muito importante, aprendida por mim da pior maneira possível (não gozem): as casas de banho do estádio não têm papel higiénico nas cabines, só um rolo à entrada do WC. Tipo: nenhum. Tipo: nem sequer há suporte. Posso dizer que foi uma experiência que não contribuiu para melhorar a minha opinião sobre o uso de casas de banho públicas, mas safei-me de forma aceitável, vá. Não, não vou contar. O aviso está feito.


Já estão cansados do relato? É que ainda nem acabei o primeiro dia!

Continua aqui...

 

Sigam-me no Instagram @mariadaspalavras, no Youtube aqui e no Facebook aqui.

14
Abr16

Primeiro Encontro: 10 Perguntas

Maria das Palavras

Já uma vez me tinha dedicado aqui a dar conselhos para o primeiro encontro (para eles e para elas) e também já tinha contado como foi o meu primeiro encontro com o Moço. Mas vi por aí este desafio, numa tag pelo bairro, em alguns blgs que sigo, e estou cheínha de vontade de responder. Posso? Aí vai!

1- Pode ser a menina a convidar para o primeiro encontro?

Se ainda for menina, considere o enquadramento legal da situação. Se for mulher, pode, claro. 

 

2- Qual é a idade ideal para um primeiro encontro perfeito?

Nenhuma. É preciso desconfiar se o primeiro encontro for mesmo perfeito. Por exemplo, o Moço levava um barrete na cabeça...

 

3- O que vestir?

Qualquer coisa de nível acima da Ana Malhoa e nível abaixo da Irmã Lúcia. Vejam aqui o ponto 3.


Usar e não usar no primeiro encontro

4- O que levar na carteira?

As coisas do costume. E nada de truquezinhos de deixar a carteira em casa "por acidente" que vos fica mal. Se estão mal de finanças vão a um sítio mais barato. Casa da mãe não vale.

 

5- Que maquilhagem usar?

Qualquer coisa que destaque os vossos melhores atributos (levantem lá a cabecinha que estamos a falar só da cara) e esconda a filha-da-mãe da borbulha que tinha mesmo de nascer naquele dia e vocês escarafuncharam toda com os nervos. Nada de frescuras de "ai, quero que ele conheça as minhas olheiras desde o primeiro dia para saber se gosta realmente de mim". Sejamos honestos: é o primeiro encontro, ninguém gosta realmente de ninguém. Por isso venda-se bem, sem exageros.

 

6- O que fazer se ficar sem assunto?

Esta questão é das mais frequentes nas nossas cabecinhas tontas não é? Agora pensem assim, se fosse um café com qualquer pessoa sem interesse amoroso, dava-vos esse medo? Não. Em princípio isso não vai acontecer a não ser que estejam super nervosos (e os nervos não vos dêem para falar pelos cotovelos). Nesse caso, a primeira coisa a fazer é não entrar em pânico (o silêncio faz parte da vida e aprenderão a estimá-lo mais à frente se a coisa correr bem). E podem sempre levar uns tópicos pensados (ou escritos, se tiver mesmo de ser, no ecrã do telemóvel) para vos dar segurança. 

 

7- O que fazer se algo der errado?

Seguir com a vida. Se corresse sempre tudo bem só havia um primeiro encontro na vida e na maioria dos casos não é assim - e ainda bem, ou então não, nem sei. Se estamos a falar de estratégias de fuga não vale a pena, a não ser que estejam desagradadas ao ponto do assustadas. Mesmo que não estejam a gostar, façam como eu quando estou numa sala de espera num consultório ou coisa que o valha e tenho de passar tempo: pensem que amanhã por essa hora já não vão estar nesse sacrifício nem se vão sentir como naquele momento. Deixem passar, encarem a coisa com naturalidade e quando acabar: adieu pessoa e hello episódios da Clínica de Grey.

 

8- Vale beijar no primeiro encontro?

Vale tudo, desde que estejam alinhados um com o outro e respeitando a personalidade de cada um. Um beijinho não faz mal a ninguém, também diz alguma coisa sobre o outro se na parte da conversa já viram que corre bem. A não ser que...

 

Mama-June-Shannon-20.gif

 

 

9- Como saber se a pessoa vai querer um segundo encontro?

Meio caminho para se saber é perguntar. Mas a não ser que tenha sido penoso (e aí vocês também vão sentir) é muito provável haver um segundo encontro para tirar teimas ou para ganhar certezas. Não precisam ficar de vigia ao telemóvel, nem suster a respiração para mandar mensagem se vos apetecer fazê-lo logo no dia seguinte. E quando houver mais conversa leiam sem interpretar muito: "oh meu deus ele pôs um ponto final na frase, significa que quer acabar com isto" ou "oh meu deus ela mandou um beijinho, está toda libidinosa para cima de mim, a maluca!". Geralmente eles são mais diretos que elas. Mas elas quando não querem também são bem diretas - não achem que se está a fazer de difícil e insistam durante três anos no segundo encontro.

 

10- Convida 5 pessoas a responder a este desafio.

Sou muito tímida para isso. Antes convidar para um primeiro encontro...

 

Sigam-me no Instagram @mariadaspalavras, no Youtube aqui e no Facebook aqui.

13
Abr16

Não consigo decidir...

Maria das Palavras

Os recuerdos que se trazem de viagens para se oferecer a outrém (amigos, família...) trazem-se num ato de benevolência para compensar as pessoas por não terem ido a lado nenhum ou como maldade velada e mal-contida, embora talvez inconsciente, para lhes esfregarmos na cara que nós fomos?

E a quem é que interessa de facto um íman de um sítio onde nunca esteve?

Sigam-me no Instagram @mariadaspalavras, no Youtube aqui e no Facebook aqui.

13
Abr16

Crónicas de um fim-de-semana em Madrid (Parte 1)

Maria das Palavras

Fim de semana em Madrid - Maria das Palavras

 

Começo por vos dizer que um fim-de-semana em Madrid é tempo suficiente para ver e fazer tudo o que está nos principais guias, se não estiverem numa de entrar em todos os palácios e museus. É claro (antes que me atirem pedras) que não tenho a pretensão de ter vivido a experiência madrilena em menos de 48 horas em todo o seu fulgor e bem sei que muito mais haveria para ver, mas cumprimos a nossa missão: vimos os principais marcos da cidade, comemos os petiscos típicos, assistimos a um jogo no Santiago Barnabéu, visitámos um dos museus (um golpe de sorte que já vos conto) e, de Sábado para Domingo, esta que vos escreve ainda dormiu dez horas completas (lontra preguiçosa avistada em Madrid). 

Fomos na Iberia às 7h45 da manhã e voltámos às 23h10 de Domingo por 75€ por cabeça. Lá, quase tudo se faz a pé. Fizemos exatamente 6 viagens de metro em 2 dias (de e para o aeroporto - 5€ cada - , de e para a zona do hotel que era ao pé da praça de touros - 1,50€ cada - e de e para o estádio - 1,70€ cada). A noite no hotel ficou por 51€. Isto para fazerem contas à vida se quiserem fazer coisa semelhante: posso dizer-vos que os voos ainda podem ser comprados mais baratos, mas não nos dias que podíamos e horários que queríamos. Esta é a parte objetiva da viagem, agora deixem-me aborrecer-vos com o relato completo.

 

A viagem de ida

O despertador tocou às cinco e vinte da manhã e eu acordei com ele toda contente - não há nada como acordar e saber-se que se vai laurear a pevide. Apesar de ter feito uma piada no Facebook sobre grandes malas sou uma pessoa bastante prática e portanto cada um de nós levou apenas uma mochilinha com meia muda de roupa, telemóveis, carregadores, máquina fotográfica, carteira, documentos e uns lanchitos. Ah, claro, e o bloco de notas com caneta! Iamos leves e prontos para passear sem termos de perder tempo.

O Moço não me deixa mentir: isto era a minha mochila  (o comando serve para verem a proporção).

 

Mochila para Madrid - Maria das Palavras

 

Um amigo nosso veio buscar-nos a essas horas ridículas para nos levar ao aeroporto antes de ir trabalhar. E é assim que se distinguem os verdadeiros amigos: não só nos dão boleia às 6h da manhã, como o fazem sob o protesto da namorada.

Tomámos o pequeno almoço no McDonalds do aeroporto. Digo isto porque aí há uns tempos houve um grande sururu na blogosfera com os novos pequenos-almoços da cadeia de fast food e eu já os tomo há anos, sempre que vou parar ao aeroporto a horas indecentes. Foi aqui que estive a explicar ao Moço o nosso percurso em Madrid e o que havia para ver lá, porque a ir por ele íamos ao estádio do Real Madrid e ao do Atlético, pronto. Adorámos toda a viagem, mas continuo a achar que lhe tinha chegado...


Logo a entrar no avião aquele episódio básico de inaptidão social. Está o senhor a receber os bilhetes e a confirmar a toda a gente. A pessoa chega diz "Bom dia" ele verifica e diz "obrigado". Assim muitas vezes até chegar a minha: chego e estendo-lhe os bilhetes dizendo "obrigada". Ai Maria...

giphy (3).gif

 

A viagem é curtíssima, tal como o espaço para arrumar as pernas no avião. Já em Madrid, no metro, a caminho Praça de Espanha (mas há uma em todas as cidades espanholas, é?), talvez pela privação de sono misturada com a adrenalina de uma aventura que começa, passei mais tempo do que seria aceitável a gozar com a estação de metro apelidada de Pinar del Rey.


Uma manhã em cheio

Imaginasse eu que era tudo assim tão perto e tínhamos marcado uma viagem de um dia só (mentira). Saímos então na Praça de Espanha onde tirámos a primeira selfie e passámos sem reparar naquela que mais tarde percebemos (nas fotos) que era a estátua de Cervantes com Dom Quixote e Sancho Pança. 
Na Praça de Espanha começa a Gran Via, a artéria mais movimentada da cidade, mas por ora íamos ignorá-la. Recuámos até ao Templo de Debod sem esquecer o miradouro e desviámo-nos para o Pálácio Real, passeando pelos seus jardins, até à Catedral de La Almudena. Não entrámos em nenhum do sítios que estavam minadinhos de gente (muito mais que a Padaria Portuguesa à hora do pequeno-almoço), mas tirámos muitas fotos. Nesta altura a força do sol fazia-se sentir e o Moço tirou o casaco. Eu encaixei-lho em cima da mochila para não ter de o carregar e assim nasceu uma tartaruga. Vejam a galeria de fotos abaixo, clicando nas setinhas (e sem descurar as legendas).

 

 

Seguimos por umas ruas à direita, na direção de uma zona menos monumental, mas mais bonita (que ainda não tínhamos a certeza o que era) e deparámo-nos com o mercado de São Miguel. Já começava a ser hora de almoço e nós tínhamos comido há para lá de muito tempo. Resolvemos bem o assunto e o difícil foi escolher entre tantos petiscos (e navegar entre tanta gente). Começámos com uns croquetes de presunto e roquefort (que eram só mais-ou-menos). Depois comemos um cone de polvo frito. Péssimo de tão bom. E rematámos com os morangos mais deliciosos que provei este ano. E digo-vos outra vez: vejam a galeria de fotos abaixo, clicando nas setinhas.

 

 

  

Continua aqui...

 

Facebook - Maria das Palavras

 

Sigam-me no Instagram @mariadaspalavras, no Youtube aqui e no Facebook aqui.

12
Abr16

Estou com um probleminha...

Maria das Palavras

O Moço ligou-me quando eu estava concentradíssima noutra coisa e tenho a vaga noção dele ter dito: blá blá blá whiskas saquetas, está bem? e eu ter concordado. Agora estou em casa e ele ainda não (já devia estar) e não consigo falar com ele. Qual destas opções acham mais plausível para a parte da conversa a que não prestei atenção?


a)

- Conheci uma loira beiçuda à hora de almoço e vou fugir com ela para os Pirinéus, está bem?
- Está bem.

 

b)

- Vou ter de passar ao barbeiro para tingir o cabelo de azul em honra do FCP por isso não contes comigo tão cedo, está bem?

- Está bem?

 

c) 

- Fiquei sem gasóleo no meio da segunda circular e o telemóvel vai ficar sem bateria. Preciso que ligues para a assistência em viagem, está bem?

- Está bem.

 

Sigam-me no Instagram @mariadaspalavras, no Youtube aqui e no Facebook aqui.

12
Abr16

O ciúme e as estúpidas das ciumentas.

Maria das Palavras

Há aí uma cultura de gente feliz e com toda a segurança do mundo que trucida as mulheres (e homens) atingidos por esse bicho vil que é o ciúme. Os ciumentos só podem ter um excedente de células parvas porque toda a gente sabe que as pessoas felizes e normais e que amam de verdade não têm ciúmes. Divide-se mais ou menos assim: 1) se há mesmo motivo para desconfianças (e normalmente onde há fumo há fogo) deves ser crescido e racional e afastar-te dessa relação que te faz mal com a leveza de duas embalagens de discos de algodão para tirar maquilhagem da cara; 2) se não há motivo e é tudo insegurança tua vê lá se te afogas num balde, porque as pessoas de jeito não estragam as suas relações - elas sim - com esse tipo de picuinhices.

Se ao menos a complexidade humana fosse um mito isto podia ser dito assim. 

 

A verdade é que sentir "ciúmes obsessivos" acontece sem que se queira ou possa controlar facilmente. Porque, sim, o ser humano consegue ser inseguro e catar o pior de si e dos outros porque sabe que a vida não dá folgas e  muitas vezes até porque já se queimou por ser ingénuo. Nunca os experimentei, nem preciso disso para saber que são passíveis de estragar relações, mas o propósito bem certo não era esse. Nem sempre conseguimos manter-nos com o switch da racionalidade para cima. O amor e o ciúme não vêm de mãos dadas mas têm em comum o turbilhão de emoções que nos fazem experimentar. Em querendo e fazendo por isso, a maturidade, o equilíbrio, a segurança, chegarão com a ajuda dos que nos rodeiam. Mas as pessoas ciumentas não estão estragadas. Estão a tentar lidar com alguma coisa. Como estamos todos. Podemos e devemos, enquanto objeto de ciúme chegar ao ponto em que temos de nos afastar da pessoa ciumenta - fazer o melhor para nós. Mas o julgamento continua a ser uma arma perigosa e a usar com moderação. De um lado e de outro.

 

Imagem Pixabay - CoraçãoE sentir os chamados "ciúmes saudáveis" então é tão natural como a nossa sede. Dos amigos, dos pais, dos irmãos...sobretudo do parceiro ou parceira. Ter aquele incerteza inicial, procurar um reforço positivo do outro lado. Hoje em dia não sinto ciúmes do Moço, e não me considero uma pessoa ciumenta no geral, mas fiz os meus beicinhos no início da relação. Continuo a achar que tenho o direito de não gostar de certas confianças alheias e ele tem o mesmo direito, desde que não haja nunca um momento em que isso ponha em causa a confiança no outro. Há até um certo salero em querer provocá-los (dentro das linhas do aceitável e inocente) muito embora não seja um jogo recomendável - sobretudo se o lado de lá tem traços de ciúme carregados. Nem convém usar ciúme para ganhar pontos em relações que não estão sólidas - nada de bom se contrói sobre a base de um sentimento, que por mais natural que seja, não deixa de inclinar para a negatividade.


Não acredito tudo em quem diz que nunca na vida os experimentou, mas a acreditar, acredito que esteja relacionado com o desprendimento dos sentimentos negativos que querem e conseguem estas pessoas. Conseguem impor a si próprios extremo otimismo e ver sempre o melhor dos caminhos à sua frente - palminhas por isso, gostávamos todos de o conseguir. Mas enquanto trabalhamos todos em ser seres humanos melhores não advoguemos que o normal é não ter ciúmes e todo o restante tipo de relações tem caruncho. Como se algum de nós fosse esse poço de virtudes e equilíbrio inesgotável.

 

[Este post não se escreve na defesa da ciumeira, que não é prática que se deva defender ou descupar quando levada ao extremo, mas na assunção de que temos todos fraquezas e compreendemos sempre melhor as nossas do que as dos outros.]

 

Sigam-me no Instagram @mariadaspalavras, no Youtube aqui e no Facebook aqui.

Seguir no SAPO

foto do autor

Passatempos

Ativos

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

O meu mai'novo

Escrevo pr'áqui







blogging.pt

Recomendado pela Zankyou

Blogs Portugal

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2016
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2015
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2014
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D

subscrever feeds