Este blog não diz palavrões, por isso a Mula (e o autor original) que me desculpe a ligeira adaptação do titulo na resposta ao desafio. São cá coisas minhas.
Estou a ler o livro D.Teresa, que nos conta da origem de Portugal, e a irritar-me com a história das sucessões. Não sou feminista, nem pela igualdade cega (somos diferentes dos homens, ninguém me convencerá do contrário), mas sei que há ainda há um caminho grande a percorrer para que haja justiça na distinção dos sexos. E na época deste livro assistimos à desvalorização completa da mulher: ela servia para ter filhos...varões. E se não conseguia, se só dava filhas, era uma incompetente. Ora isto está errado sob muitos pontos de vista, mas há um que é factual e que se prende com o facto de eles não fazerem ideia como se determina o sexo do bebé. Não tem a ver com os chás de ervas que a mãe toma, ou com o facto de ela comer espargos durante a gravidez...
Há mais de um mês selecionei roupa para dar. Peças de meia-estação, em bom estado, que não uso já há umas três meias-estações. A junta de freguesia fica a distância a pé da minha casa e tem um depósito de roupa para solidariedade.
Primeiro, tinha o saco de roupa no quarto, junto à cama, mas nunca me lembrava de pegar nele ao sair. Então, há um par de semanas, levei-o para a entrada da porta. Mesmo assim, nunca me parece o momento certo: agora vou com pressa, há bocado já ia carregada, vou para a direção contrária...há sempre qualquer coisa.
Hoje pensei para comigo: não vou adiar mais, que a porra do saco aqui no meio do caminho já me está a incomodar.
Viram o que eu fiz? Pensei em mim. Centrei-me no meu problema, que é o saco que já não posso ver à frente lá por casa. Não nas pessoas que, às tantas, tinham agradecido já ter usado uma destas peças de roupa. O melhor é admitir já também que o que me levou a dar roupa foi a falta de espaço nos armários lá de casa, não a falta de roupa nos armários dos outros. Eu avisei. Ser solidário não é o mesmo que ser boa pessoa. Dar e d(escentr)ar são coisas diferentes. Não me chicoteio, mas aprendo. Para a próxima serei melhor. Já é qualquer coisa.
O maior desgosto da minha avó é que eu não ponha cortinas lá em casa. Já chegou ao ponto de me dar dinheiro para as cortinas (usei-o para comprar tapetes para o quarto). Se soubessem o quão forreta é a minha avó, saberiam o significado que isto tem.
O argumento dela não é estético, é social: as pessoas podem ver o que se passa cá em casa. Só a sala se presta a que alguém olhe e veja qualquer coisa, pela vidraça grande da varanda. Já lhe expliquei de mil formas que não faz mal, não farei nada que a envergonhe (não que ela conheça alguém em Lisboa), nem tenho nada a esconder. O que lá tenho de valor é mesmo só a TV e, mesmo o mais tonto dos meliantes, há-de adivinhar que tenho uma, mesmo que não a conseguisse avistar. Acrescento que o meliante que me visse a TV teria de ser meu vizinho do prédio da frente, porque da rua não se vê nada cá para dentro - não moro propriamente no rés-do-chão.
De resto, não me preocupo com isso porque eu própria não me incomodo minimamente com a vida dos outros. Demorei mais de um ano, para ver o cão do outro lado da rua, na varanda mesmo à frente da minha, quando toda a gente que lá ia a casa já o conhecia de cor. Não sei se será problema meu ou dos outros. Aposto as fichas no segundo cavalo. Em todo o caso, não há cortinas.
Assim, quando calha a minha avó vir à capital e ir lá casa, senta-se na mesa ao jantar, de frente para a varanda e já sei que me vai voltar a dizer:
- Vês? A vizinha daquele lado ainda não parou de olhar para aqui. A querer ver o que se passa.
Já nem me dou ao trabalho de a fazer notar que estava a fazer exatamente o mesmo que a vizinha que acusa de indiscrição.
"No outro dia sonhei que estava a atravessar uma ponte infinita. Dum lado, ovos moles, do outro livros. Por mais que me esticasse não chegava nem a um nem a outro. E por mais que andasse não chegava ao fim para poder sair da ponte..."
o teu sonho chega-me com a transparência das águas de Sesimbra, nos dias bons, em que a poluição humana não chega à costa. Muitos serão induzidos em erro: dirão que a ponte é metáfora de desejo inalcançável, em toda a sua extensão: uma gula infindável, uma sede de ler incurável. Uma luta interior constante. Fosse tudo tão simples.
Acho que o meu sobrinho vai mesmo ser do FCP (clube do pai e do tio). A comida favorita dele já é a fruta...
[Adenda: eu sei que por obra de Bruno, o Justiceiro, o Benfica é que anda agora nas bocas do mundo por dar papinha aos árbitros, mas ainda não me desabituei de falar assim do Porto, peço desculpa.]
Toma conta de miiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim. Quero medicação, canjica, chá, compressas na testa, mantinha pelas pernas, série de gajas na TV e muito mimos.
[Pode parecer contraditório, mas a verdade é que uma coisa não invalida a outra.]